moacir-saraiva

Uma senhora estava a reclamar do governo, pois a mãe estivera doente por muito tempo, foi a um posto médico e recebera uma ficha para ser atendida depois de sessenta dias. Ela estava reclamando bastante e alguém a indagou o porquê de tanta lamúria, e ela disse que reclama porque a mãe falecera antes de chegar o dia da consulta.

E a mulher esbravejava, lamentava e xingava os governantes. Nestas cenas, aparecem muitos adeptos destas lamentações, é um discurso só e cada um quer contar sua desventura, criando, portanto, um círculo de pessoas descontentes e, com razão, com a falta de ação dos governos. Quando estavam nesta roda de lamentações, se aproximou um sujeito, já idoso, sóbrio, sem falar muito, apenas ouvindo, ouvindo não, auscultando. Após várias pessoas se manifestarem, ele, olhou para a mulher protagonista da roda que se formava ali. Dirigiu-se a ela com muita calma, e com a voz bastante  tranquila, diferindo do que reinava por ali, e perguntou:

- Minha senhora, a quem a senhora atribui a culpa de sua mãe ter chegado a óbito sem ter tido a devida assistência?

A mulher estava num alto grau de descontrole emocional, e respondeu de forma bem rápida e sem pensar, apenas movida por emoções, e estas, sejam de raiva ou de alegria, no entanto, nem uma nem a outra levam a lugar algum.  Ela cheia de emoção, respondeu com a voz cheia de ódio.

- Ao governo.

O moço ouviu a resposta com muita educação e voltou a inquiri-la, agora com perguntas que pareciam sem nexo com o fato. Ele se dirigiu a ela perguntando-a se ela pertencia a alguma religião?

- Claro, como posso viver sem Deus, sem rezar, sem orar?  Ele me protege e cuida de mim todos os dias.

Ele tornou a perguntar a mulher que já se apresentava mais tranquila:

- Quantas vezes a senhora vai a igreja por semana?

Ela respondeu com muita rapidez:

- Duas vezes.

O moço continuou calmo e fez algumas afirmações dirigindo-se à senhora. A senhora deve ir à igreja ou pedir ou agradecer, talvez muito mais pedir, porque o povo que frequenta as igrejas, bem poucos vão para agradecer, a maioria vai pedir, implorar ajuda de Deus, dos santos, dos céus. Não é verdade, minha senhora?

- Sim.  Respondeu a senhora. Meio desapontada, sem saber em que lugar o moço queria chegar.

Após ouvir a resposta, ele se reportou à mulher  e a perguntou?

- Quantas vezes, a senhora já foi ao prefeito ou aos vereadores fazer cobranças?

- Nunca fui. Respondeu a mulher sem pensar.

O sujeito olhou para ela, com carinho, e disse que a culpa da falta de atendimento da mãe não era do governo e sim dela, por nunca ter reivindicado nada aos poderes públicos.

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