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Hoje já não se vê muito a obediência que as crianças manifestavam para com os pais, padrinhos, professores e aos mais velhos, em um tempo não muito distante. Triste da criança que não obedecesse a uma ordem de um  adulto, pois certamente viria um castigo pesado, aos olhos de hoje digno de uma ação criminal contra os pais. Por medo ou respeito, o fato era que, a criança seguia as orientações dos adultos.

No sertão, diferentemente da cidade, a obediência era ainda maior, para esta constatação não precisa de nenhum estudo acadêmico, pois vivi, quando criança, estas duas realidades.

Independentemente de onde nasce a criança, do lugar em que vive, da classe social na qual está inserida, da sua raça, há algo que permeia todas elas  que é a inventividade, a capacidade que elas têm de criação. E em muitas circunstâncias se utilizam de métodos nada convencionais para conseguir seus intentos.

anuncie         No sertão do Piauí, uma criança pobre tinha uns padrinhos ricos e, às vezes, aos domingos, à tarde, a mãe a levava para eles a abençoarem. A mãe  fazia mil recomendações no sentido de a pequena não pedir bombons aos compadres, pois tinham um comércio e estas guloseimas atraem crianças seja de onde for. Nós, os mais vividos, mantínhamos estes dois hábitos, fazer visitas aos domingos à tarde e sempre que podíamos,  íamos tomar a bênção aos padrinhos, aos tios, avós e aos mais velhos. Para a turma de hoje, tais práticas soam estranho, primeiro porque as visitas não têm mais dia marcado e o outro motivo é em virtude do ato de tomar a bênção estar quase extinto.

Após receber fortes orientações dos pais para não pedir bombons, a menina foi levada para a casa da comadre. Esta não tinha filhos, assim, as duas comadres foram conversar, enquanto a menina ficou sentada em uma cadeira assistindo ao colóquio da madrinha com a mãe. O diálogo entre as duas demorou e a criança só assistindo sem dar uma única palavra, aliás, só falou, ao chegar, pois se dirigiu à madrinha com a mão estirada:

- Bença, minha madrinha!

A madrinha pegou na mão da afilhada, puxou a menina para perto, deu um beijo na cabeça e respondeu:

-  Deus te abençoe.

Após algum tempo da conversa, a criança começou a se tremer na cadeira, tremia os braços a cabeça, depois as pernas, e era uma tremedeira só. Tanto a mãe como a madrinha acudiram-na, uma foi buscar água e a outra começou a abanar a criança, a levaram para uma cama e os cuidados continuaram. A menina bebeu um pouco de água e sem falar nada. A mãe mais desesperada que a madrinha começou a falar com a filha de forma agoniada:

- Minha filha, o que você tem?

A menina, após estrebuchar mais ainda na cama, respondeu, com a voz trêmula, olhando para a madrinha:

- Estou com vontade de chupar um bombom.

A madrinha, incontinenti, foi buscar e a menina chupou o bombom e ficou boa. A madrinha com uma voz de quem se sente até culpada, perguntou à afilhada:

- Minha filha, por que você não pediu logo?

A criança apenas olhou para a mãe.

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