Todos os sábados na Praça da Paciência, no Rio Vermelho às 22 horas!

A iniciativa do grupo do Tambor de Crioula da Praia da Paciência visa dar mais espaço para a cultura popular brasileira!

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Tudo começou por causa de uma mulher, uma mulher forte e guerreira de nome Dandara Baldez, nascida no Maranhão. Ela dançava e tocava o Tambor de Crioula. Em Salvador ela quis perpetuar a sua tradição ancestral e se tornou pouco a pouco uma mestra do Tambor de Crioula: mestra dos toques, mestra dos cantos e mestra da dança.

Ela toca, canta, dança e ensina!
Jornal Valença Agora : Como esse grupo se formou?

Dandara: “O tambor me chamou a primeira vez quando alguns meninos estavam tocando. Eles tinham ido ao Maranhão para conhecer o Bumba meu Boi e tocaram o tambor de crioula. No primeiro dia em que eles tocaram na praia, eu, por grande coincidência, estava passando por perto de carro e deu para reconhecer o som... foi maravilhoso poder se conectar com algo familiar, se identificar com algo do lugar que você nasceu. Os três estavam tocando e queriam muito tocar todos os dias.  Eu comecei a ajudar os meninos e as pessoas que queriam aprender tocar, dançar e cantar!

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Nosso ponto de encontro ficou fixado na Praia da Paciência. Um tambor de praia que acaba tendo uma relação muito forte com o mar!

Jornal Valença Agora : Onde você aprendeu os rituais do tambor de crioula?

Dandara: Meu pai sempre tocou tambor de crioula e Bumba Meu Boi. Uma parte de minha família é da casa Fanti Ashanti (casa do Tambor de Minas) então sempre tive muito contato com a cultura popular do Maranhão.

Meu Mestre é mestre Felipe; aprendi a tocar com ele, que  é minha referência de aprendizagem e também com os meninos da Madre de Deus, bairro de São Luís. Eu morava também na mesma rua que mestre Nevo e praticava capoeira com meu mestre Euzamor, esses mestres mais antigos são minhas referências. No bairro de Fátima, onde morava, a cultura popular fazia parte do meu cotidiano. Sempre dançava, tocava e cantava nos Tambores de Crioula, Bumba meu Boi, rodas de capoeira... cresci nesse meio.

Jornal Valença Agora : Os baianos gostam do Tambor de crioula?

Dandara: O Tambor de Crioula conquistou as pessoas! Agora muitas pessoas estão participando, até um grupo se formou! Os baianos gostam do tambor de crioula pela semelhança com o samba de roda, mas o tambor de crioula ele tem outras características muito forte da cultura negra de resistência, tanto no que diz respeito às mulheres hoje em dia, que podem tocar tambor ou em relação da fertilidade.  O tambor de crioula também tem uma relação com questões relacionadas à sexualidade no tambor e com a própria capoeira. Talvez essa diversidade fez com que as pessoas de Salvador gostassem e se conectassem para curtir essas noites de Tambor, e também o fato de que ele está existindo e resistindo aqui!

Jornal Valença Agora: Como fui recebido o fato de ser uma mulher e estar na frente desse grupo?

Dandara:Agradeço muito às  mulheres que vieram antes de mim.  Elas abriram esses caminhos, para que nós hoje pudéssemos  ter essa liberdade!

A luta das mulheres para tocar o tambor é antiga. Há 15 anos atrás eu lembro  como as mulheres se articulavam para poder tocar o tambor . Havia  Samme, a mulher do Mestre Patinho, Rosa Reis, eu ... Organizávamos-nos para pegar o tambor grande dos homens, e já na época tinha uma abertura e tínhamos uma liberdade para fazer isso.

Quando minha tia Zezé me perguntou se queria ser iniciada, eu falei que eu queria tocar e na maiorias dos terreiros, as mulheres não tocavam. Na maioria das tradições de cultura popular afro-brasileira as mulheres não tocam, mas na casa dela se podia tocar !Como estamos um pouco distante da tradição e estamos em processo de mudanças, aqui não tem tanta resistência dos homens porque eles reconhecem o meu aprendizado!

Eric Acakpo

03O  tambor do sábado, 27 de fevereiro fui muito especial por contar com a presença de Eric Acakpo, (Artista Internacional, músico, dançarino da tradição) ele vem do Benin e é Mestre das Divindade do IFA, pela primeira vez ele visita a Bahia.
"Eu estou no Brasil para um trabalho artístico, fui convidado para um intercambio cultural perto de Florianópolis, trabalhamos durante um mês com musica e dança , e conheci o tambor de crioula no sul do Brasil. Salvador me lembra muito o Benin , fazia muito tempo que queria conhecer Salvador . Aqui muitas divindades religiosas do Candomblé são comum a minha religião na África. Dandara e eu somos como dois irmãos que foram separados sem querer.
O tambor de crioula me faz  pensar muito em um ritual que existe no Benin com três tambores , com o simbolismo da roda, a comunicação entre as bailarinas e os tocadores, os ritmos são parecidos, são as mesmas raízes! - Comentou Erick.

Thyago Bezerra :

04Jornal Valença Agora: Porque você foi ao Maranhão na busca do tambor?
Thyago Bezerra : Faz 15 anos que estou envolvido inteiramente com a cultura do Maranhão, principalmente pela amizade e aprendizados de Tião Carvalho, temos um grupo de bumba meu boi na minha cidade natal que vai fazer 15 anos. Aqui na Bahia temos o Bando Cumate que estuda e brinca de cultura popular brasileira e nos últimos 3 anos fomos todo São João a São luis estudando principalmente Boi e Tambor com Mestre Amaral e (Boi de Pindaré e boi do maracanã) daí nossa ação de ter ido ao maranhão, e trazer a pareia para salvador e continuar estudando aqui na Bahia, pandeirão já temos e brincamos há alguns anos com o Bando Cumate
Jornal Valença Agora : Como você se sente quando toca e canta?
Thyago Bezerra : Me sinto bem demais é o que mais gosto de faze na vida, Batucar, cantar, brincar de roda, é resistência é o tipo de política que ainda acredito
Jornal Valença Agora: Porque vocês usam Tambor com a base de PVC?
Thyago Bezerra: Os tambores de PVC surgiram porque no maranhão percebemos que muitos grupos tradicionais usam tambores feito desse material, e por "destino" ao lado da praia da paciência onde brincamos, o Tambor de crioula teve uma reforma e começou aparecer os de pvc com os diâmetros que precisávamos, pegamos as sobras num amanhecer de tambor e arriscamos fazer nossa pareia, tenho que citar 2 pessoas, Alessandro Mônaco e Leco Brasileiro que já são fazem instrumentos há muito tempo .

Paola Kianda , sou bailarina e faço um curso de dança na FUNCEB

05"Há sete meses frequento o tambor de crioula. Aprendi aqui na Praia da Paciência , foi o primeiro contato que tive através de Tyago e Alessandro Mônaco, eles me apresentaram como funciona a roda, os toques, a dança e a percussão e fui observando como funcionava, qual é a relação da dança, dos passos , da movimentação com o tambor grande, fui observando e praticando.

O que me chamou atenção foi o giro, o círculo, a relação com os instrumentos me fascinou, para mim é como um processo de cura!

Agora eu tenho muita, muita vontade de conhecer o Maranhão !" Finalizou Paola.

 

 

 

Ouça o áudio:

 

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