carlos-magno

Terminei de ler um livro. “Davi”. O autor: Joel Baden, professor associado da Yale DivinitySchool, da Universidade de Yale. O livro mostra o rei Davi real, despido da áurea de herói e autor de salmos. Nem por isso, menos fascinante. Aliás, até mais fascinante, porque ele, mais humano, aproxima-se de nós, apesar de ter feito tudo para se distanciar e pairar níveis acima, quase divino.

Mas a intenção desta crônica, minha católica leitora, meu evangélico leitor, não é falar sobre o rei Davi, o executor de Golias. Esta crônica veio a lume para falar de palavras. O significado delas e o que está por trás delas. O que fica oculto sob a linha da evidência.

Usarei duas palavras que ouvimos muito. Nas igrejas. Nas TVs. Nos rádios. Duas palavras apenas para mostrar, ou tentar colocar em evidência o que está nas sombras dos significados da palavra. No caso, das duas escolhidas. Escolhidas a propósito da leitura do “Davi”.

A primeira palavra: Hebreu.  Povo que nos remete à antiguidade, à crônica bíblica.  Pois, segundo o escritor Baden, quase mil anos antes de Davi, no século XIX a.C e mesmos antes, textos sumérios relatam um grupo de mercenários , de etnia não identificada, sempre à disposição de quem os contratassem para ações bélicas. Falavam vários idiomas, vagavam pelos campos, pelos desertos e possuíam uma aparente organização militar. Pois, o termo sumério para esse coletivo solto era sa.gaz, ou seja assassino, bandido. Essa palavra suméria foi traduzida para as línguas semitas como habiru. De habiru para hebreu foi uma questão de séculos. Uma luz pouco lisonjeira. Não que todo israelita fosse bandido. Habiru era usado para designar quem vivia fora das sociedades tradicionais centralizadas. Por esse motivo, os estrangeiros descreviam os israelitas como habiru, moradores em pequenas aldeias do planalto central de Canaã.

Fonte de disputas sangrentas, Jerusalém nem sempre foi uma cidade israelita. Nem foi ou ainda é famosa por ser o centro administrativo de Israel, mas por ser o centro religioso.  Ela era a cidade dos jebuseus. Como o próprio nome indica, Jerusalém -“fundação de Shalém”- era dedicada a Shalém, deus do crepúsculo ou estrela da noite, divindade semita. Depois, o rei Davi a tomou e lá instalou a arca, símbolo da presença de Deus. Então, de Shalém até Jerusalém foi uma questão de tempo e adaptações linguísticas.

As palavras nos assustam e nos encantam.

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