Eduardo Pereira - matutando

Que juiz de futebol e político são seres execráveis, a população afirma em alto e bom som. Sabemos que as coisas são aprendidas pelas pessoas desde a mais tenra idade, notadamente na família e posteriormente no grupo de amigos e, assim por diante. Dessa forma é lógico afirmar que as pessoas do povo não nasceram com essa ojeriza aos políticos. Portanto, aprenderam esse suposto ódio aos dirigentes políticos, com seus grupos na circularidade cultural.

Arriscamo-nos dizer que, todo esse suposto horror aos políticos, que paradoxalmente foram e continuam sendo escolhidos pelo próprio povo para representa-lo, faz parte das estratégias da dominação política, e são assim ensinados que políticos não prestam, com o intuito de afastar as pessoas do povo de se tornarem candidatas, ou seja, ensinam-se à população que devem apenas serem eleitores e jamais candidatos.

Por outro lado, a classe dominante, inicia seus pupilos desde a mais tenra idade na política. A exemplo disso, Udorico Júnior, ainda estudante, foi eleito deputado federal, nas eleições do ano de 2014, com apenas 22 anos de idade. Na ocasião, o site G1, destacou:

“O estudante de Agronomia, morador de Teixeira de Freitas, região sul, e filho do ex-deputado federal Uldurico Pinto, conquistou 39.904 votos e pretende aliar o mandato ao seu curso universitário. "Sempre fui político. Quando era pequeno, assistia aos comícios e, desde os meus 18, sempre trabalhei, fazia reuniões de movimento estudantil", conta. Além do pai, o avô materno e dois tios de Uldurico estiveram no mundo da política também no cargo de deputado federal. "Nasci em Brasília quando meu pai era deputado federal, mas vim bem pequeno pra Teixeira de Freitas. Depois, no último mandato de meu pai, quando tinha 15 anos, voltei para Brasília. [...]

(Disponível em: <http://g1.globo.com/bahia/eleicoes/2014/noticia/2014/10/deputado-eleito-da-ba-e-o-mais-jovem-do-pais-e-afirma-sonhar-ser-presidente.html>).

Essa é uma das forma do poder político manter-se em mãos das famílias  tradicionais brasileiras a séculos. É somente observar-se os sobrenomes, a maioria com ligações imperiais. Mais uma vez exemplificando, no estado do Rio Grande do Norte, onde dos oito deputados federais eleitos,  nas eleições próximas passadas, 100% tinham ligação de parentesco com políticos, destacando-se que o deputado Betinho Segundo (PP), da família Rosado, que domina a segunda maior cidade do estado, Mossoró, é neto de governador e bisneto de intendente – nome que se dava aos prefeitos até 1930. Outro

 

caso ainda mais clássico, trata-se do deputado federal pelo estado de Minas Gerais, Bonifácio de Andrada, descendente da família de José Bonifácio de Andrada e Silva, isto mesmo, aquele dos livros didáticos de História, do nosso tempo de criança. (Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/herdeiros-de-politicos-ocupam-metade-da-camara/>).

O prefeito mais jovem do Brasil, nas eleições do ano de 2012, Francisco Carneiro Pacheco Neto, passou a maior parte da campanha com vinte anos de idade, já que nasceu em 4 de setembro de 1991. Detalhe, Pacheco Neto é filho do ex-prefeito Paulo Sérgio de Almeida Pacheco que, foi condenado a cinco anos e três meses de prisão, sob a acusação de desvio de verbas públicas federais. (Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/ceara/2012/10/09/noticiasjornalceara,2933732/chaval-e-vicosa-tem-prefeitos-mais-jovens-do-brasil.shtml>).

São incontáveis os casos ocorridos, sempre um jovem eleito, via de regra tem um parente na política. A nível de ilustração, finalmente citamos a eleição a vereador na Cidade do Rio de Janeiro, de  Carlos Bolsonaro, no ano de 2012, com apenas 17 anos de idade, Carlos que é filho do deputado federal Jair Bolsonaro e, obteve naquela ocasião, 16.053 votos. (Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoegente/65. >).

Os exemplos aqui relatados são meramente ilustrativos, uma vez que, aqui na região, não é nada diferente, e também faz parte da nossa cultura, a eleição de parentes de políticos, tudo seguindo num verdadeiro “revezamento dinástico”, pois os que saem por ruim com altíssimos níveis de reprovação popular, nas próximas eleições, são os “salvadores da lavoura”, autênticos “Sasás Mutemas” e o povo crédulo mais uma vez é engambelado, ou se deixa engambelar.

Acreditamos que o “pano de fundo” para manter-se esse status quo no Brasil, é o clientelismo, muito bem descrito por Emerson Santiago (disponível em: http://www.infoescola.com/politica/clientelismo/), nos informa esse autor que: “Recebe o nome de clientelismo a prática política de troca de favores, na qual os eleitores são encarados como "clientes". O político concentra seus projetos e funções no objetivo de prover os interesses de indivíduos ou grupos com os quais mantém uma relação de proximidade pessoal, e em meio a esta relação de troca é que o político recebe os votos que busca para se eleger no cargo desejado”.

Para Santiago, tais práticas tem sua origem na sociedade rural tradicional, com as relações entre latifundiários e camponeses (leia-se fazendeiros e roceiros nesta região), fundadas na reciprocidade, confiança e lealdade. Na forma moderna, o clientelismo envolve, a concessão de benefícios públicos, na forma de empregos, benefícios fiscais, isenções, em troca de apoio político, permanecendo a sua forma básica, que envolve a negociação do voto. O mencionado autor vê essa prática como danosa para toda a sociedade, para ele o combate se dará pela educação formal e o esclarecimento a todos os cidadãos, a fim de evitar-se o predomínio de determinados grupos sobre outros e dessa forma possa-se alcançar o melhoramento social, político e econômico da coletividade.

Para os que se interessem em saber mais, sugerimos a leitura da obra clássica do Victor Nunes Leal: Coronelismo, enxada e voto: O município e o regime representativo no Brasil.

*Publicado na edição impressa nº 595, do jornal Valença Agora.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.