carlos-magno

As grades são relativas nas prisões que nos cercam. Somos prisioneiros do tempo. Grilhão implacável. Bola de ferro pesada e constante no tornozelo. Acordamos cedo porque temos um compromisso. Sempre nos levantamos mais tarde do que o previsto. O tempo com a chibata. Corremos. Não poderemos chegar atrasados. O relógio de ponto. O olho do patrão. O nosso olho, quando somos o patrão.

As pessoas andam olhando para o relógio. Para o celular. Vendo as horas. Chegar. Fazer. Embarcar. Tudo corrido. Nas férias, o horário dos aviões. Dos ônibus. Dos hotéis, com o café. A hora do momento de reinício da excursão. Ufa!

Todos somos prisioneiros do tempo. Do mais rico, ao mais pobre. Tive um sócio, homem milionário. Naquele tempo, ele era dono de várias empresas. Tinha mais de setecentos e cinquenta ônibus. Revendedoras de veículos. Era deputado federal. Pois, minha leitora, que já está atrasada enquanto lê esta crônica, meu leitor, que hoje conseguiu um tempo extra, meu amigo carregava uma agenda( naquele tempo ainda não tínhamos todos os recursos que hoje temos com internet). Na agenda dele estava marcado o horário de ir ao banheiro. Um homem rico que precisava de licença no tempo para fazer as necessidades fisiológicas. Aliás, é um engano pensar que os ricos não trabalham. Trabalham. E muito. Por isso são ricos.

Por falar em amigo, tenho um outro, que comigo e mais dois amigos comuns,  formamos uma república de estudantes. Com o passar do tempo, a república foi diminuindo os integrantes, até que ficamos só eu e ele. Depois de formados, uma época, fui morar de aluguel em um apartamento dele. Ele tinha outro apartamento no mesmo prédio.  A casa do meu amigo era cheia de livros, revistas e havia no corredor para os quartos, uma pilha de páginas separadas, de jornais. Um monte de jornais empilhados ao longo do corredor. Tudo material que ele guardava para ler quando se aposentasse, porque não tinha tempo para ler. Hoje ele mora em uma casa que é separada em dois corpos. Uma parte é dedicada aos livros. Mais de 15 mil exemplares. Conversei com ele há pouco e ele me confessou que precisa de tempo para ler. Ele está aposentado.

O tempo. O carcereiro. Uma bola de ferro presa ao pé. O Sarney, dizem, será obrigado, pela idade não poderá ir para uma cela, então, será atado a uma tornozeleira eletrônica no peador. Terá tempo para ler e para escrever. Terá?

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