carlos-magno

Minha requintada leitora, meu chique leitor, sei que vocês sabem o que é bom na vida. Eu, também. Gosto de café. O aroma do café. A cremosidade. O sabor único. Café, não se toma, sorve-se.

Escrevo esta crônica na minha sala. Ela é conjugada com a cozinha. Liguei a máquina de café expresso. A água fervente entrou na cápsula e encheu a xícara bem devagar. Sensual. Café cremoso. O aroma invadiu o ambiente. Volatilizou-se e foi como se uma nereida voasse e bailasse em um palco improvisado na minha sala, aspergindo pós aromáticos. Pós de café.

Café expresso, eu o tomo sem açúcar. Quente. Vigoroso. Sinto a essência do arábica. Essa essência evoca recordações agradáveis. Vem-me o cheiro que se desprendia da fornalha na cozinha da minha avó. Na fazenda. Cedinho. Uma mistura de cheiros de curral.  As vacas ordenhadas, o leite e o capim.

Outra lembrança que me assoma quando ligo a máquina de café expresso e o agradável aroma se desprende, é a lembrança do Calçadão. Naquele tempo eu não tinha máquina de café. Ainda bem. Eu saía de Guaibim, após o expediente ou no meu dia de folga, às vezes, porque me dava vontade de tomar café expresso. Casa Lacerda. A atendente, linda, de sorriso aberto e olhos claros. Cabelos cacheados loiros. Silvana era o nome dela. Simpática. Eu, para saborear o café, encostava-me ao balcão, pelo lado de dentro, para ficar vendo o povo passar, lá fora. Via a algaravia do Calçadão. Era gente indo e gente que vinha. Roupas coloridas. Sombrinhas. Sacolas. Crianças. Gente bonita e gente feia. A vida tem o doce e tem o sal.

Também, agradava-me sentar em uma das mesas do Sabor do Sul. Na calçada. Os italianos conversando. Tomando café. Passavam turistas com mochilas como se fossem dromedários. Gente de todo jeito. O povo. Mulheres bonitas e sabedoras que são bonitas, mais bonitas são. Algum amigo ou outro passava e se sentava. Tomava um café comigo. Vejam só, um dia, o Mustafá se sentou e declamou um soneto dele para mim. É pouco? Ah, é? E o Alfredo que me convidou para escrever o prefácio do livro dele? Ali, na mesa do Sabor do Sul, tomando café. Quase queimei a língua. Surpreso e honrado.

A minha amiga, atendente do café da Casa Lacerda, sabia, mas sempre me perguntava se eu queria açúcar. Ela perguntava, mas já sabia a resposta e, toda vez, ela dava uma gargalhada. Eu respondia que não queria açúcar, que de doce, basta a vida.

De doce, basta a vida.

*Publicado na edição impressa nº 596, do jornal Valença Agora.

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