Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff recebiam propina em uma conta-corrente no exterior que guardava mais de US$ 150 milhões, disse o empresário Joesley Batista em seu acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), divulgado nesta sexta-feira (19) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O dono da JBS relatou que pleiteou junto ao BNDES, em 2005, financiamento no valor de US$ 80 milhões para tocar um plano de expansão da empresa. O encontro com Guido Mantega, então presidente do banco, foi intermediado pelo empresário Victor Garcia Sandri, amigo pessoal de Mantega. Vic, como o empresário é conhecido, pediu naquela ocasião para que fosse pago a ele e a Guido um percentual de 4% do valor total do financiamento. O pagamento foi feito por meio de uma conta de offshore, segundo conta Joesley.

As transações entre o grupo JBS e o BNDES prosseguiram nos anos seguintes, mesmo com Guido Mantega já longe do banco, que passou a ser presidido por Luciano Coutinho. Joesley conta que Mantega influenciava nas decisões do BNDES e, em 2009, o empresário passou a tratar da propina diretamente com Guido, sem mais a intermediação do empresário Vic.

Joesley contou à PGR que até então "entendia que estava pagando propina para o próprio Guido Mantega", como em operação realizada em dezembro de 2009, quando o BNDES comprou debêntures da JBS, convertidas em ações, no valor de US$ 2 bilhões. Em razão desse negócio, Joesley disse que abriu conta no exterior em nome de uma offshore e depositou US$ 50 milhões em favor de Guido Mantega.

Já em 2010, Joesley relata que Mantega pediu que o empresário abrisse uma nova conta, que seria destinada à Dilma Rousseff. O dono da JBS então perguntou se aquela outra conta já não seria suficiente, no que Guido respondeu que aquela "era de Lula".

Joesley disse aos procuradores que Lula e Dilma tinham conhecimento do esquema, conforme o próprio Guido havia confirmado a ele. Os saldos dessas contas no exterior, conta o empresário, eram formados pelos "ajustes sucessivos de propina do esquema BNDES" e do "esquema-gêmeo que funcionava no âmbito dos fundos Petros e Funcef".

 

Doações e encontro com Lula 

Em 2014, conta o empresário, Guido Mantega o chamou "quase que semanalmente" para reuniões, nas quais ele apresentava listas de políticos que deveriam receber doações de campanha pela JBS. No primeiro encontro, em julho de 2014, a lista se referia a candidatos do PMDB.

Joesley afirma que, naquele ano, ele encontrou com o ex-presidente Lula na sede do Instituto Lula em São Paulo e disse que as doações da JBS para campanhas já ultrapassavam R$ 300 milhões. O empresário se mostrou preocupado com a situação e disse a Lula que isso "atraía risco de exposição". Lula então "olhou nos olhos de Joesley, mas nada disse", conforme relata o dono da JBS.

 

Outro lado 

Em nota, a assessoria de Dilma afirmou que a petista "jamais teve contas no exterior" e nem "tratou ou solicitou pagamentos ou financiamentos ilegais para as campanhas eleitorais, tanto em 2010 quanto em 2014, fosse para si ou quaisquer outros candidatos".

"Dilma Rousseff jamais teve contas no exterior. Nunca autorizou, em seu nome ou de terceiros, a abertura de empresas em paraísos fiscais. Reitera que jamais autorizou quaisquer outras pessoas a fazê-lo. A verdade vira à tona", diz o texto.

Já os advogados de Lula frisaram em nota que as denúncias são fruto de "supostos diálogos com terceiros, que sequer foram comprovados". Os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira atacam ainda o Ministério Público Federal ao afirmar que "delações premiadas somente são aceitas se fizerem referência – ainda que frivolamente – ao nome do ex-presidente”.

 

Fonte: Último Segundo - iG 

 

 

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