Na semana passada, uma manifestação pela democracia aconteceu na praça da República e no dia 05/04 na UNEB.

O objetivo é levantar o debate acerca da conjuntura política nacional e estimulá-lo em várias praças e lugares públicos das cidades.

UNEB

Essa atividade foi construída por professores da UNEB, do IFBA, grupo da juventude, o núcleo regional de educação NRE06, o Grêmio Estudantil Jovem Político Transformando o Futuro, o Grêmio estudantil do IFBA, a Pastoral da Juventude Rural JRI, formando uma rede ampla para tentar encontrar respostas junto à comunidade sobre o cenário de crise e ao mesmo tempo reforçando a importância da luta pelos direitos democráticos.

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O ato começou com a intervenção político-artística do professor Isaías Pereira, da rede estadual, que interpretou canções que marcaram as gerações que resistiram à ditadura militar. Posteriormente, houve uma mesa de debates sobre a importância da democracia e como ela ganha sentido institucional no Estado Democrático de Direito com os professores Pedro Diamantino (Direito – UEFS), Gilsely Barreto (Direito – UNEB) e Rebeca Vivas (História - IFBA). O evento contou com ampla participação de estudantes da rede estadual da zona rural, além de um grupo de estudantes do IFBA e da UNEB.

prof-filipeFelipe Estrela professor da Universidade Federal Da Bahia Campus Valença

Sou professor na UNEB no campus de Valença. Esse evento é fruto de uma organização coletiva. Nosso país está vivendo hoje, um momento muito singular da sua história, considerando que há uma democracia muito recente no país e, por conta de um agravamento da crise social, econômica, política e institucional.

As elites conservadoras de nosso país estão apresentando respostas para essa crise como o movimento de impeachment contra a presidenta Dilma. Para superar esse contexto de crise temos que nos organizar e abrir o debate. Decidimos ampliar essas discussões além das instituições, por isso essa discussão foi feita para os estudantes secundarista da zona rural da região. Além de proporcionar uma fonte de informação que transcenda os próprios limites da mídia e, reafirmar caminhos populares para essa superação. Nosso desafio é que a organização popular pode constituir uma alternativa autônoma em frente a esse contexto de crise e sem abrir mão da democracia!

Zai Pereira

zai-pereiraJornal Valença Agora: Porque você está se apresentando na UNEB hoje?

Me apresentei na UNEB porque as universidades, as escolas de nível médio e básico tem esse papel de difundir os debates políticos. A educação deve ser um ato político. É isso que fortalece a autonomia dos que compõe aquele espaço. Sou ex-aluno da UNEB e agora aluno da UFRB. Sou um dos primeiros universitários e mestrandos da minha família, assim como milhares de jovens que jamais sonharam entrar numa universidade. Estou aqui porque lembro perfeitamente da situação da juventude antes desse governo e tenho medo do que virá caso o golpe se concretize mais do que já se concretizou.

Jornal Valença Agora: porque você acha importante falar da conjuntura política atual?

A importância sobre o debate político está relacionada justamente ao descrédito que a população tem com a política. Aprendemos que política, religião e futebol não se discute. Mas devemos discutir sim! O Frei Beto afirma que quem não gosta de política é governado pelos que gostam. Desde a conclusão das eleições de 2014, pelo perfil dos deputados eleitos, percebi que seria uma gestão difícil. Temos uma câmara formada por uma bancada de conservadores e estão ligados a empresas, a igrejas e seus respectivos interesses. Infelizmente, o financiamento de campanhas por empresas privadas faz com que os eleitos sejam os representantes da marca, e não do povo.

Jornal Valença Agora: De onde vem a música de protesto?

O rapper paulista Emicida nos avisa: "Sem identidade somos objetos da história". A construção de uma identidade depende muito dos conhecimentos históricos. No projeto Música na Ditadura, ressaltamos como os artistas que viveram o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) atuaram. A música de protesto, ou de contestação social, questionava e fazia o público refletir aquela conjuntura. As técnicas de drible à censura mais utilizadas eram as metáforas, os trocadilhos e os pseudônimos. Muitos músicos foram exilados, expulsos do país. Não havia condições de sobrevivência onde as músicas eram censuradas, em alguns casos, somente pelo nome do autor e das suas posturas políticas e ideológicas.

Por tanto, falamos desses fatos, não pra comemorar os 52 anos do golpe, mas para lembrar a população, fortalecer o direito a memória, pois sabemos que a história se repete. Obviamente, o golpe de hoje não é o mesmo de ontem. Mudaram a roupa e a cor. Trocaram as armas e a farda pela toga, mas os atores são os mesmos.

Alunas do IFBA de Valença – Emily Ribeiro Da Silva e Mariana Felício de Sousa

emily-e-marianaNosso professor de história Erahsto Felício resolveu levar a gente na UNEB para que pudéssemos aprender mais sobre o contexto político atual. Está sendo muito interessante e muito produtivo. Estamos interagindo com outras organizações e com outros alunos de escolas do Interior.

Estamos entendo e aprendendo a usar o espaço da faculdade pública como espaço de discussão. Estamos aprendendo mais sobre democracia e sobre nossos direitos e deveres!

 

cleonilsonCleonilson Dos Santos Pereira – aluno do Colégio Estadual Onildo Raimundo de Cristo no Orobó. Representante do Grêmio Estudantil Jovem Político Transformando o Futuro

Minha escola recebeu um convite e eu decidi participar porque me interesso muito por política. Os jovens têm que entender de política para poder se basear e saber como atuar no mundo. É essencial os jovens entenderem o que é democracia e como atuar na democracia, como ser cidadão de democracia. Eu quero estudar história, quero entender a relação entre história e política para poder entender melhor o mundo no qual vivemos. Estou aqui para buscar informações e respostas.

 

camileCamile Barbosa – Colégio Estadual Hermínio Manoel De Jesus

Recebemos esse convite através da DIREC, estou aqui porque achou muito importante os alunos serem estimulados e conscientizados sobre a politica de nosso país. Estou aqui para aprender mais e tentar entender o que está acontecendo no país. Não concordo de todo o que está dito, mas estou buscando informações para criar minha própria opinião!

 

 

Clóvis e Aryelle– estudantes de direito na UNEB (Valença), membros do Levante Popular da Juventude

uneb clovis et arielle

Aqui organizamos um debate com os alunos na zona rural da região de Valença, para tentar informar eles sobre a conjuntura política de nosso país. A gente entende que a informação que chegou até a população é tendenciosa, notadamente as informações da rede Globo. Nossa intenção é informar os alunos para eles criarem suas próprias opiniões.

Emanuelle, Cristiane, Zenildes, Kauma e Érica do Colégio Estadual Bernardo Bispo Dos Santos

alunas

A gente quer entender melhor o que está acontecendo, porque essa tal crise nos afeta tanto, mas não afeta a classe superior da população. Estamos aqui para buscar respostas.

Nós viemos de Jequiriçá e passamos muitas dificuldades, como a estrada para chegar até nosso Colégio é péssima, não tem mais ônibus, temos que ir andando ou de topic, se tiver vaga.

Temos que lutar pelos nossos direitos, se ficamos parados não vamos conseguir nada! Temos que falar e nos manifestar para fazer valer nossos direitos. Onde eu moro tem pessoas sem casa para morar, alunos sem fardas e material escolar para poder entrar na escola, um único posto de saúde que fecha ao meio dia! Estou querendo mostrar para a comunidade todas essas dificuldades e procurar ajuda para o povo de Jequiriçá!

Flordolina Angélica de Andrade - Direitora do Núcleo Regional De Educação NRE 06

Estamos querendo dar voz e ouvir a juventude da zona rural de Valença. Eles têm que participar de debate aonde normalmente eles não têm oportunidades. Nesse momento em que a democracia no Brasil está sendo ameaçada, a gente achou importante levar para as escolas públicas a oportunidade de poder debater para que eles não ficassem restritos ao que a mídia fala e os influencia. Queremos que eles possam criar a própria opinião, refletir e se posicionar criticamente e de forma livre. Esso é o nosso objetivo.

Querendo romper com a ideia de que a escola pública é o espaço isolado onde não se pode discutir política. Estamos quebrando esses preconceitos e levando esse debate constante para eles.

É fundamental que esses alunos de escola pública da zona rural tenham acesso a esses debates, e possam participar. Que eles escutem outras opiniões, que eles escutem, reflitam e passem também as ideias, que eles se posicionem e critiquem.

Cabral, estudante de Pedagogia

cabralSou militante de Esquerda, estudante da UNEB e brasileiro! Estamos passando por um golpe econômico e hoje estamos aqui querendo estabelecer nossa democracia. Estou aqui para fortalecer a democracia brasileira!

Hoje mais de 80% da população do Brasil mora na cidade, o campo brasileiro foi esvaziado! Eu acho que esses 20% da população que mora na zona rural é mais consciente como cidadão, que o cidadão da cidade, da periferia ou da favela.

Estamos precisando abrir os olhos desse mínimo e conscientizar eles!

 

 

Erahsto Felício, professor de História do IFBA

Nós, professores, estudantes, trabalhadores, militantes de esquerda em geral, criamos a Rede de Solidariedade Baixo Sul Contra o Golpe. Nada mais é do que uma reunião de pessoas preocupadas com a situação política que nosso país passa. Há uma escalada do pensamento conservador que nos preocupa. O impedimento da presidência da Republica é apenas um sintoma destes reclames de direita. Fizemos bate-papos na praça, mesa redonda em rádio e a aula pública na UNEB, como forma de conversar com nossas comunidades a respeito deste golpe jurídico-político e midiático que estamos vivendo. O saldo na aula pública foi admirável: escolas das zonas rurais, uma turma do IFBA, estudantes e professores da UNEB, um encontro para pensar a conjuntura.

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