De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a Bahia é o quarto produtor de borracha natural do país com 13.723 toneladas de borracha seca e possui a segunda maior área em fase de exploração, correspondente a 23.627 hectares. Muito além dos números, a cultura da seringueira em território baiano exerce uma importante função social, econômica e ambiental, já que sua forma de produção consorciada – de janeiro a dezembro - permite uma melhor utilização da mão de obra e distribuição da renda ao longo do ano. Por tudo isso, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), vem intensificando as ações de combate à Crosta Negra, doença que pode inviabilizar os seringais dos Territórios do Baixo Sul e Extremo Sul do Estado.

“A Bahia se destaca pela infraestrutura de produção e industrialização da borracha, bem como pela expressiva área em exploração com a seringueira. O estado integra todos os elos da cadeia produtiva com investimentos nos segmentos de insumos, produção primária, agroindústria, indústrias de pneumáticos e artefatos”, enfatiza o diretor geral da Adab, Lázaro Pinha, acrescentando que essa realidade motivou a Agência e seus parceiros a ampliar as ações de fitossanidade na heveicultura. Além de ser uma atividade ajustada ao perfil da agricultura familiar, o cultivo da seringueira ajuda ainda a evitar processos erosivos, protege os mananciais, a fauna e a flora. Também mantém corredores ecológicos e representa uma alternativa à utilização de uma fonte não renovável, o petróleo, usado na fabricação da borracha sintética.

A praga foi detectada em 2017 nos seringais de Igrapiúna e Ituberá, chegando a inviabilizar a exploração de algumas áreas (Foto: Divulgação/ADAB)

Há quase um ano, o esforço conjunto entre as iniciativas pública e privada permitiu a criação da Comissão Técnica Regional de Prevenção e Controle da Crosta-negra da Seringueira com o objetivo de encontrar essas alternativas para conter a dispersão da doença, causada pelo fungo Phyllacora huberi, também identificado em associação à Rosenscheldiella heveaeColletotrichum spp. e Corynespora cassiicola.“Foram estabelecidos critérios e procedimentos para a realização dos levantamentos de detecção da crosta-negra nas regiões produtoras de borracha, visando à delimitação das áreas de seringueira atacadas ou não, a fim de adotar medidas de prevenção e controle”, explica do diretor de Defesa Vegetal da Adab, Celso Duarte Filho, lembrando que a praga foi detectada em 2017 nos seringais de de Igrapiúna e Ituberá, chegando a inviabilizar a exploração de algumas áreas.

FITOSSANIDADE E CONTROLE

Como medida de controle emergencial recomenda-se a aplicação de fungicida via pulverização a baixo volume com pulverizador acoplado à trator. Dentro de uma estratégia para manejo da resistência dos fungos a fungicidas, outras moléculas demonstram nível de controle in vitro, devendo ser testadas em campo.  Vale lembrar que a aplicação de fungicidas requer a definição de tecnologia de aplicação acessível e eficaz, que possibilite a adoção pelos produtores e, em especial, pela agricultura familiar.

Outras tecnologias se constituem em alternativas a serem testadas para o controle da crosta-negra, como o controle biológico, cultural, uso de indutores de resistência, pulverização com uso de drones, e, para novos plantios, o emprego de clones resistentes à enfermidade. Presente em municípios do Baixo Sul e Litoral Sul da Bahia, a Crosta-Negra encontrou condições ideais para manifestar epidemias severas, reduzindo a produção de borracha em até 80% na safra 2020/2021.

No estádio final, se observam crostas bem desenvolvidas,  formando estranhas imagens nas folhas (Foto: Divulgação/ADAB)

No estádio final, se observam crostas bem desenvolvidas, formando estranhas imagens nas folhas (Foto: Divulgação/ADAB)

Os primeiros sintomas da doença são perceptíveis em folíolos ainda jovens, com desfolha progressiva e lenta das plantas até reduzir a área foliar a até 20%, cerca de quatro a seis meses após refolhamento normal da seringueira, período no qual ocorre a ação danosa de outras pragas. Com o tempo aprecem placas circulares negras, circundadas por tecidos verdes-amarelados.  No estádio final, se observam crostas bem desenvolvidas, formando estranhas imagens nas folhas.

No estádio final, se observam crostas bem desenvolvidas, formando estranhas imagens nas folhas.

“Isso leva a uma redução da produção, diminuição da renda, êxodo da mão de obra rural qualificada e restrição da oferta de borracha para a agroindústria”, alerta o fiscal estadual agropecuário da Adab, que coordena as ações pela autarquia na região, Epaminondas Peixoto. Segundo o especialista, o seringal passa por duas desfolhas: uma desfolha natural e outra devido à doença, que ocorre no final do verão, nas condições da Bahia. “Em que pese a ocorrência da crosta-negra em outras regiões produtoras de borracha do Brasil, não há registro de danos extremamente severos, como os que são observados no Baixo sul da Bahia. Daí a movimentação da sociedade civil em prol desta importante cadeia produtiva para o Estado”, finaliza Peixoto.

As atividades em campo, pesquisas, instruções de procedimento e uso das alternativas mais viáveis estão sendo conduzidas por uma equipe composta por diversos profissionais e entidades, entre elas, a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), através do engenheiro agrônomo e fitopatologista  Jaime Honorato Junior,  a Plantações Michelin da Bahia Ltda, por meio do seu Gerente de Pesquisa, Ivo Cairo Cabral Junior, a Bahiater/SDR, por intermédio da coordenadora técnica e agrônoma, Ana Cristina Souza dos Santos, além do Consórcio Intermunicipal do Mosaico das Apas do Baixo Sul (CIAPRA) com participação do agrônomo Joelson Virginio Orrico da Silva, além da Cooperativa dos Agricultores Familiares do Baixo Sul (COOPAFBASUL) e Cooperativa Ouro Verde Bahia.

Fonte: Ascom ADAB

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