Debate teve como foco a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, patrimônio tombado que está interditado há mais de cinco anos

Foto: Reprodução/Redes Sociais

O município de Valença encontra-se com muitos patrimônios históricos que necessitam de intervenções urgentes para garantir a sua preservação, dentre eles a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, que teve sua construção finalizada em 1825. O bem possui tombamento estadual desde 2001 e também é tombado pelo município. Entretanto, não tem recebido investimentos para a manutenção e preservação da sua estrutura nos últimos anos, o que culminou na sua interdição a cerca de cinco anos atrás, devido riscos de desabamento do telhado.

Para tratar sobre o assunto, a Câmara de Vereadores de Valença, convidou a diretora geral do Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), Luciana Mandelli, para participar de audiência pública com o intuito de esclarecer o andamento para a execução das reformas necessárias na Matriz, já que o IPAC tem feito a coordenação do processo em parceria com a Comissão da Igreja.

Participaram da audiência realizada no último dia 28 de julho, o Padre Marcos Reis, pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus; membros do Comissão da reforma da Igreja; o secretário municipal de Cultura, Gugui Martinez, representante do prefeito Jairo Baptista; membros do Conselho municipal e estadual de Cultura; o deputado federal Raimundo Costa; o assessor da deputada Olívia Santana, Ramon; o presidente da Associação Comercial de Valença, Vidalto Oiticica, dentre outras autoridades e representantes da sociedade civil.

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Foto: Divulgação/Paróquia Sagrado Coração de Jesus

Presidida pelo vereador Valdir Silvestre, a audiência contou apenas com a presença de apenas cinco dos 15 vereadores, sendo eles: Benedito Silva, Cássio da Pesca, Diro Oiticica e Ryan Costa. Os vereadores Fabrício Lemos e Helton Brandão, justificaram a ausência e foram representados por seus assessores.

A diretora do IPAC, Luciana Mandelli, empossada no cargo em fevereiro deste ano, atualizou o plenário sobre as ações referentes à reforma da Igreja e prestou esclarecimentos sobre os patrimônios culturais.

“A lei diz que a responsabilidade de manutenção do bem tombado é daquele que é dono do bem, no caso de Valença, a maioria dos bens são públicos municipais. Patrimônio é salvaguardado pelo dono do bem. Cabe ao Ipac, garantir que isso aconteça, portanto, fiscalizar que os responsáveis façam isso, garantir parâmetros para que isso aconteça de forma legal, decente, coadunando com a legislação. A reponsabilidade dos bens não é do governo estadual, nem do governo federal, ela é do governo municipal e do dono do bem. Em Valença há bens particulares privados, bens da Prefeitura, da Cúria e da Arquidiocese”, informou a diretora.

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Foto: Divulgação/Paróquia Sagrado Coração de Jesus

Luciana relembrou que em 2021, o IPAC, através de convênio, providenciou a criação do projeto de restauro do telhado da Igreja Matriz. “O IPAC tem acompanhado a dinâmica de organização do restauro da Igreja Matriz a alguns anos, inclusive a última obra contratada aqui foi do ano de 2021. A gente terminou esse convênio entregando a identificação de todos os bens diagnosticados na Igreja e o perfil da arquitetura interna. Foi elaborado um primeiro projeto executivo de arquitetura e restauro através desse processo e também um projeto executivo de estrutura para cobertura da igreja, um orçamento executivo, um termo de referência e os quantitativos gerais”, destacou.

O orçamento na época ficou em R$ 3,1 milhões. E, a partir de então iniciou-se uma busca pelos recursos. A Igreja do Sagrado Coração de Jesus tem promovido diversas campanhas, ações e mobilizações para arrecadar o dinheiro da primeira etapa da obra, orçada em R$1,2 milhão em 2021.

 

Luciana Mandelli aproveitou a oportunidade para tecer comentários sobre o destombamento do prédio da antiga Cadeia Municipal de Valença e fazer um chamado à sociedade para um olhar mais responsável sobre os seus patrimônios históricos.

“Falando na condição de diretora do IPAC, nos entristece muito que sejamos aqui chamados à responsabilidade de cuidar e financiar um bem e, ao mesmo tempo a Prefeitura da cidade e a Câmara Municipal está despatrimonializando esses bens, de forma que enfraquece a gente de trabalhar na captação de recursos e no investimento. Fica aqui um convite à sociedade de Valença para um esforço coletivo para que a gente invista na cultura da cidade, invista na nossa identidade. Tomem parte de seus bens e vamos juntos coletivamente garantir que esses bens sejam mantidos, assegurados, não só pelos órgãos que fiscalizam, mas pelos órgãos que tem a responsabilidade de mantê-los na sua salvaguarda”, considerou.

O padre Marcos Reis, que lidera a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Valença, ressaltou que todos os padres que passaram pela referida igreja “lutaram muito e trabalharam para continuar mantendo esse patrimônio de pé”.

Foto: Divulgação/Paróquia Sagrado Coração de Jesus

Foto: Divulgação/Paróquia Sagrado Coração de Jesus

O Pároco e a comissão da Igreja vêm realizando diversas ações e mobilizações para arrecadar recursos para as obras. A última ação pública foi realizada em maio deste ano. Denominada “A Igreja Matriz pede socorro”, a manifestação buscou mobilizar políticos, empresários e a sociedade em geral para contribuir com a igreja.

“A minha preocupação como filho de Valença, do mesmo jeito como ali eu fui batizado, como ali fiz a primeira eucaristia, como ali eu me deitei como diácono e me levantei como sacerdote, é de que é preciso a gente olhar a Matriz não só como um patrimônio que é de fé, religioso, mas que faz parte da história de Valença. Não dá para pensar a cidade de Valença sem ver o Sagrado Coração de Jesus, ao contrário, se não a gente não vai poder olhar nem a própria bandeira, que muita gente desconhece que, quem está na fachada da primeira bandeira de Valença, é o próprio Sagrado Coração de Jesus”, pontuou.

Mais uma vez, Padre Marcos, fez um apelo para que a sociedade se una em prol da Igreja Matriz e demais patrimônios existentes no município. “Nós precisamos que todos os valencianos se deem as mãos e que a gente lute, não só pela Igreja Matriz, mas para todos os bens que temos em nossa cidade, para que a gente possa olhar e dizer, fez parte da minha história, fez parte da minha infância, faz parte da infância dos meus filhos, estão aqui hoje preservados e continuarão fazendo parte da história dessa cidade”, concluiu.

Em nome da gestão municipal, o secretário de Cultura Gugui Martinez reconheceu a riqueza histórica de Valença e também o seu abandono. “Quando iniciamos a gestão Jairo Baptista encontramos um cenário terrível, a maioria dos patrimônios caindo, uma situação de décadas, uma responsabilidade coletiva de cidade que não entendeu a importância do seu patrimônio material. Só na gestão passada 17 prédios tombados municipais foram derrubados”, salientou.

“A responsabilidade do patrimônio, do engajamento da importância do patrimônio é de todo cidadão valenciano, por isso eu vejo como um passo importante estarmos debatendo esse assunto aqui hoje. Precisamos dar as mãos, pois como o recurso para a restauração é um valor alto, precisamos dessa parceria da gestão e deputados para alçarmos o êxito de ter um patrimônio restaurado”, destacou o secretário.

A audiência pública foi transmitida online e pode ser acessada na íntegra, no canal da Câmara Municipal de Valença, no youtube. Acesse aqui.

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Leia reportagem completa na Edição Digital do JVA nº 953, disponível AQUI.

 

 

 

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