Cultura, ontem, hoje e sempre – (V) Jornal Valença Agora 29 de novembro de 2024 Colunistas Herdamos a mais típica essência do espírito no corpo manifesto na dança. É a plena sociabilidade inseparável entre a música e o canto motivada pela sinfonia harmonicamente disposta dos instrumentos. Evoca-se episódios da vida ancestral; a liturgia de referência na comunhão homem/natureza; o sacramento que recepciona acolhendo o corpo em movimento comprometido na forma sublime como que se comunica; a latência permanente que se expressa definindo o provisório e a circunstância. Práticas de expressão desenhando formações artísticas e socioculturais imateriais manifestos através do corpo enquanto um desenrolar de energia e fluxos. Apropriação da experiência em relação com o outro orientada a desenvolver as marcas essenciais da sensibilidade humana, processo afirmativo do saber, do fazer e do sentir. Dança cerimonial dos ritos sexuais da África, influencia que se expandiu por estes lares encontrando aqui o seu novo “habitat”. Tempo, espaço e o novo meio social fez com que se adeque gerando uma verdadeira transformação. Os participantes formados em círculo, executam passos, reboleios e sapateados acompanhados pelos instrumentos de percussão e ritmos das palmas. É assim o Samba do Enrolar. A dança bole com as emoções de muita gente recatada, incentiva a imaginação que ressalta a relação sensual quando a mulher sapateando dá os seus passinhos de qualidade e estilo para entrar na roda; quando a dançarina começa a desenhar um “corta jaca miudinho” ou quando requebra um “corta coco direitinho” é a manifestação erótica do corpo inscrita na norma simbólica da arte. O samba é a exibição das qualidades individuais inventando a interpretação singular de cada um dos participantes, quando cada qual engendra o movimento mais apurado maior o grau de entusiasmo das beldades e bacanas que acabam por imprimir o remelexo mais “irado”. Dos olhares lascivos da sambadeira às emoções dos espectadores exalta-se toda a beleza da estética sensorial. Por isso que samba denota produção de emoções, encantamento de desejos, pregaria de adoração, tragédia de queixume, instinto de súplica: eis o Samba de Enrolar. Mais um dia na história daquilo que fazemos por nós em nome de todos. Sim, sabia que o futuro está no passado histórico? O caminho que segue é aquele da memória viva construindo as estratégias para dar orientação à existência. Dita as coordenadas do dito e aquilo por dizer. Oferece as luzes do rumo a percorrer estabelecendo a paz ou a guerra dos interesses. Define tempo e espaço daquilo que produz em nome das tradições, maquina movimentada pela vontade humana, vezes decisão individual pelo todo, para todos e por todos. Os historiadores afirmam que as tradições são inventadas, construídas de maneira mais difícil de localizar num tempo determinado, práticas que surgem e são aceitas abertamente que vão inculcando valores e normas de comportamento de natureza ritual ou simbólica acabando por caracterizar o nascimento da arte popular. As coisas populares são simples e belas dispensam requintes de enfeites e complementos que as façam realçar naquilo que tem de mais autêntico, quanto mais belo e singelo mais comprometido com seu objetivo. A revelação desse sentimento popular reflete o conhecimento intimo das coisas da terra que os viu nascer. É uma força telúrica, infinita, que se renova a situações novas. Declaração constante porque expressa a natureza mais emblemática satisfazendo as profundas inclinações do espirito criativo. Assim nasceu a alegoria dos Boêmios, construída pelo braço forte do orgulho de ser destas terras de Valença como foi seu idealizador Seu Manuel Trindade. A boêmia que nada mais é do que levar uma vida airada, denotando a expansão sadia do espirito jovial e irrequieto, criativo, curioso em registrar seus anseios lúdicos dando respostas lúcidas as fantasias festivas. Assim, é a Boêmia. Não esqueça da próxima edição.... Acompanhe... Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website