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(Amália Grimaldi, de Melbourne, Austrália. 2016)

 

Verão europeu. Naquelas planejadas férias de agosto do ano dois mil e oito, caminhava absorta pelas antigas ruas de Siracusa. Encontrava-me então na satisfação de almíscares exaltados, na familiar essência amoniacal, de becos estreitos e suspeitas vielas sem saída. Parede-meia, pequenos sobrados formavam passagens sombrias. Corredores de graciosas casinhas, dispostas lado a lado, pareciam viver na eterna profanação da intrínseca organicidade. E, na possível razão da intriga, cochichos e sussurros, na fala reveladora de porosa argamassa.

anuncie_agoraO contacto com pessoas de outras culturas, aceitação e não aceitação, onde situações inesperadas fazem sentir-se o ego ferido, tudo isto faria parte da minha experiência, de viajante pensante.  sem dúvida proporcionou-me sábios ensinamentos, os necessários então. Entre texturas e tessituras, contudo, tenho aprendido amarrar pontos aos entrelaces. Em meandros de entreveros, venho tecendo o crochê desses meus atribulados dias. E, em andanças por este vasto mundo largo, com certeza, venho mantendo o pensamento aguçado.

As colunas de Apolo, de tão robustas pareciam desafiar o tempo, e o saber de homens inteligentes. Ainda de passagem por Siracusa, mais precisamente pela pequena ilha de Ortígia, mergulhando com prazer minhas suadas mãos na fonte de Artemísia, uma fluida energia tomaria conta de meus sensos na mágica crença da sua bela mitologia. Refresquei aí meus pensamentos.

Nessa minha viagem ao mundo de teoremas iniciais, Saí de encontro às colunas do templo de Apolo, e frustrada com a pizza mal assada, de qualidade inferior, batia com a cabeça de encontro ao duro mármore desse meu tempo. Sentia-me derrotada ante o poder de homens locais. Presa ainda à minha nativa presunção achei melhor deitar meu choro nas catacumbas de São João Evangelista.

Abatida, via-me caída sem dó no poço fundo da minha casta preconcepção (a melhor pizza se come no Brasil!). Gritaria ao ouvido de Dionísio, aquela cratera dilacerada de um monstruoso rochedo de arenito calcário. As ruínas dos deuses consagrados mostravam-se como gigantes ameaçadores, e aguçavam o quixotesco mundo da minha imaginação. Aí então, soltei meu berro!  Sentia-me livre. Pois, ninguém ali me conhecia.

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