O Velho e o Mar Jornal Valença Agora 27 de julho de 2016 Amalia Grimaldi, Colunistas (Amália Grimaldi, de Melbourne, Austrália. 2016) Manhã de sábado. Resolvi arrumar a estante. Simplesmente porque na perturbação dessa ordem residia toda a minha insatisfação. Livros não devolvidos aos seus lugares já se acumulavam, em pilhas disformes. Desarrumação provoca o que se projeta. A perda da ordem geométrica dos pensamentos reflete-se no caos da angústia momentânea. Sobre o que já foi lido, ser válido suporte ao intelecto. Melhor ainda por se tornar um prolongamento do nosso racionalismo crítico na construção de pensamentos lógicos. Procurei ser ágil para não me cansar, de não me desviar na vasta diversidade de assuntos. Entretanto, um grato romance salta às minhas mãos: O Velho e o Mar. Numa carícia merecida, embora atrasando o curso da limpeza, detive-me em algumas de suas páginas. Fazia tanto tempo, antes mesmo de seguir para Amazônia, anos setenta talvez, já havia lido a obra desse grande escritor norte americano – Ernest Hemingway. Lembro-me bem de quando no prazeroso desenrolar da história, já lamentava chegar ao seu final. É que já começava sentir saudades de seus personagens. E, foi assim que, na segunda leitura novas descobertas me conduziriam a novas interpretações. Contudo, não sentindo a mesma paixão de antes, apenas um gratificante bem estar, na certeza do que havia aprendido algo mais sobre a ética do comportamento humano. Na história um assunto, interessantemente progressivo, conduziria-me na avidez até ao fim da trama. Um verdadeiro duelo é travado entre um jovem e um velho pescador. O rapaz, cheio de vida e na sua arrogância juvenil, renega o ancião que se mostra já no fim de sua capacidade física. Mas, é o novo quem tem muito a aprender, enquanto o velho sábio homem põe em prática as suas certezas, sua experiência de vida. O autor conduz um tratamento bastante respeitoso e reverenciado à figura do velho pescador. Descrevia com clareza o seu complexo mundo de homem do mar. Coisa que passou a vivenciar,quando se refugiou numa cabana de pescadores nos arredores de uma praia cubana, ao sul de Havana. Santiago, um velho pescador, com mais de oitenta e quatro dias sem fisgar nenhum peixe, se sente na obrigação de provar aos outros que ainda é fisicamente vigoroso. Foi sozinho ao mar. Pouca água, pouca comida, alimenta-se de peixes voadores e de golfinhos. Luta contra os tubarões. O sol forte castiga mais ainda a sua pele já crestada de anos. Enfrenta mais uma vez a solidão do mar. Já estava acostumado com essa vida. Falava consigo mesmo, em voz alta, como se estivesse com alguém. Perguntava e respondia. Falava com as suas mãos enrugadas. Falava com os seus próprios fantasmas, habitantes da alma, que nunca o abandonariam. O romance não apresenta reviravoltas nem trama intricada, mas antes, uma sinceridade implícita. Vê-se a admiração do autor pela luta do homem que não se deixa abater pelas suas limitações físicas. Na guerra em alto mar, duelando com um gigantesco Merlin, um Espadarte avantajado. Ele, venceu! Esta obra foi escrita em 1952, ainda em Cuba. Mais tarde, idade avançada e doente, ele volta ao seu país. Leva com ele lembranças. Guerras, e sua experiência como jornalista. Numa história real, saga familiar, seguindo o exemplo do pai, o escritor usou uma arma de fogo e também deu cabo à sua vida. Além da desolação por perda tão inesperada, Hemingway, deixou ao mundo que o afligia a sua tão valiosa obra. Vale a pena ler esse admirável romance. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website