C com C - Sergio Herrera vinheta

Desde a instauração da República no Brasil tem existido uma preocupação por compreender de que forma a população organiza e processa suas crenças, seu imaginário e percepções em torno da ação política – a dimensão de hostilidade e antagonismo entre os humanos – e de que maneira estas influem tanto na construção das instituições e organizações políticas da sociedade como na manutenção das mesmas e os seus processos de transformação.

Por outro lado, a interrelação da esfera econômica e a organização social, a relação existente entre a cultura e as estruturas políticas, tornam complicada a tarefa de assinalar propostas para impulsionar orientações e atitudes democráticas que consolidem de vez as instituições democráticas.

Assim, a política, portanto, é um elemento importante da sociedade relativo à organização do poder. É o espaço onde se tomam as decisões que tem projeção social, isto é, onde se definem os rumos de uma ordem que organize e possibilite a convivência humana sempre conflitiva.

Isso se percebe na realidade valenciana que busca seu espaço no processo de modernização, nas quais as necessidades materiais ocupam o centro das preocupações dos seus habitantes, onde a secularização é insuficiente para dar conta dos esquemas de autoridade política que se assenta nas razões pessoais e concepções patrimonialistas de poder mais do que na aplicação das normas legais estabelecidas, e onde as estruturas políticas definidas formalmente como democráticas estão longe de atender as demandas sociais, tudo isso, acaba por inviabilizar qualquer tentativa de socializar valores e atitudes democráticos com reais possibilidades de conquistar a singularidade de uma identidade político social.

Contudo, um dos aspectos mais destacados desse processo que vem contribuindo para rever os complexos problemas sociais é a promoção da cidadania enquanto o exercício da democracia, que não é algo predeterminado e/ou constituído, antes constituinte e interpelando para que todos os indivíduos participem na construção de um espaço público que comporte a perspectiva pluralista e restrinja a racionalidade instrumental individualista. Isto é, a manifestação do direito a ter direitos que possibilita a construção das representações sociais reconfigurando os valores sociais ao interior da nossa sociedade.

Nesse sentido, a construção de uma cultura democrática diz respeito à consideração do direito às diferenças e das múltiplas demandas sociais na qual se perfila um “nós” que se assenta nos princípios ético-políticos da liberdade e da igualdade próprios da res-pública. Os desdobramentos sociais dessa iniciativa, portanto, questiona o fato de alienar impunemente o nosso voto nas eleições quando este é decorrência de nossa permanente participação na cultura política, senão partidariamente más exercendo a liberdade de agir e de falar.

Em circunstancias como as descritas, parece que o mais pertinente é pensar na construção de estruturas que na prática se efetivem como democráticas em defesa dos direitos, que incentivem o controle da representação cidadã sobre a ação governamental como fórmula para dirimir as diferenças e canalizar aspirações de poder, que através das instituições socializadoras – família, escola, meios de comunicação – se concretize a dimensão da cultura cívica – a confiança política, o reconhecimento do direito do outro a pensar e viver de forma diferente, as virtudes da participação, etc. –.

Por conseguinte, trata-se de uma tarefa de conjunto que deve partir da consciência crítica frente às perspectivas que envolvem o desenvolvimento de uma cultura política democrática por ser um código valorativo que melhor representa a Valença heterogênea, não só em termos raciais, étnicos, religiosos e sexuais, mas também de interesses contra o confronto violento que nega toda possibilidade de convivência pacífica.

Enfim, é um desafio que deveremos enfrentar por ser um ideal que processa um sentido democrático na medida em que constitui o melhor respaldo para o desenvolvimento das instituições e das práticas democráticas. É uma “arma de contenção” frente às ações e comportamentos anticonstitucionais que violentem a vigência do estado de direito. É a força contra eventuais inclinações a prepotência e a arbitrariedade do poder.

Resta saber se estamos preparados para assumir tal responsabilidade.

 

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