Vinheta Opinião Gregório José

Ah, o Brasil! Terra onde o sonho de consumo muitas vezes se transforma em pesadelo financeiro. Em um cenário onde a educação financeira é praticamente uma ficção científica nas escolas, e o controle de gastos é uma arte desconhecida, vivemos a eterna dança entre cartões de crédito, endividamento e o famoso churrasco de fim de semana.

A mais recente pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que, em julho de 2024, 85,22% das negatividades no crédito eram de devedores reincidentes. Ou seja, são aqueles que já haviam enfiado a mão no cartão mais uma vez. Desta parcela, 61,75% ainda estavam com dívidas pendentes, e 23,48% haviam saído do cadastro de inadimplentes, mas logo retornaram ao "clube dos esquecidos".

E aqui está o cerne do problema: o brasileiro parece viver em um ciclo interminável de dívida e consumo, frequentemente acompanhados por um estilo de vida que é um verdadeiro espetáculo de contradições. Enquanto alguns têm dificuldade em pagar contas e devolver bens adquiridos por crédito, continuam a garantir a cervejinha e a carne assada do final de semana como se o amanhã fosse uma abstração.

A situação fica ainda mais intrigante quando analisamos que, segundo o indicador, a média de tempo entre um atraso e outro é de apenas 72,6 dias. Em outras palavras, menos de três meses e o cidadão já está no vermelho novamente. E, claro, o mais chocante: os devedores reincidentes são predominantemente na faixa etária dos 30 aos 39 anos, com uma distribuição de gênero quase equilibrada.

Vamos falar a verdade: se a educação financeira fosse uma disciplina obrigatória, talvez o cenário fosse bem diferente. Mas, em vez disso, nossas escolas preferem dar ênfase a matérias que, na vida real, são tão úteis quanto um manual de remoção de manchas de gordura para quem não sabe nem mesmo o que é uma receita básica.

O nosso sistema de crédito parece estar tão fora de controle quanto o orçamento doméstico de muitos brasileiros. A realidade é que, ao invés de ensinarmos os jovens a controlar suas finanças, os preparamos para um futuro onde o endividamento é quase uma inevitabilidade. E, mesmo quando enfrentam as consequências dessa falta de controle, o ciclo se repete, com novos consumidores entrando no mesmo caminho tortuoso de dívidas.

A questão se torna ainda mais grave quando observamos o impacto da alta taxa de juros. Com o crédito mais caro e difícil de pagar, muitos veem a única saída na esperança de uma oferta que possa melhorar a renda, muitas vezes sem considerar o risco adicional de se afundar ainda mais em dívidas.

Enquanto o brasileiro continua a ostentar carros e motocicletas, devolvendo os bens meses depois na maior naturalidade, o que realmente está em jogo é a falta de responsabilidade e planejamento financeiro. A cervejinha e o churrasco nos finais de semana são apenas pequenos consolos para uma realidade financeira que não para de se deteriorar. É um ciclo vicioso de gastar, endividar, e repetir – uma tragédia financeira com risos e goles de cerveja no meio.

Como sempre, na Terra do Carnaval, até as dívidas são motivo de celebração. Assim seguimos, dançando ao som de cartões de crédito, endividamento e, claro, a eterna esperança de um milagre financeiro.

 

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