Governo brinda a vitória na aprovação da reforma trabalhista com folga na Câmara e o mercado mostra otimismo com a possibilidade de diminuir a rigidez das regras sobre a mão de obra, vista como um dos gargalos do crescimento no Brasil. A comemoração, porém, é limitada por dois fatores. Primeiro, a expectativa com a greve e os protestos desta sexta-feira, que miram as reformas de Michel Temer, um presidente já com baixa popularidade. Segundo, é que a vitória desta madrugada é vista como um sinal positivo, mas não definitivo, de que a reforma da Previdência também passará no Congresso.

“Considero o dia de ontem histórico, com a modernização da legislação trabalhista, início do fim do fórum privilegiado e a questão do abuso de poder muito mais na direção correta”, diz Luiz Fernando Figueiredo, presidente da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central. Depois de uma tendência negativa no processo político, o Brasil voltou ontem a “andar na direção correta” em relação à agenda de reformas, diz Figueiredo. “De ontem para hoje, aumentou a chance da reforma da Previdência. Não estamos lá ainda, mas melhorou”.

Indicação da votação da reforma trabalhista como perspectiva para a previdenciária é “construtiva”, mas não dá para garantir que o governo terá sucesso, diz Mauricio Oreng, estrategista do Banco Rabobank. Apesar de a reforma trabalhista não ter obtido os 308 votos que seriam necessários para aprovar a reforma da Previdência, Oreng destaca o fato de o governo ter melhorado seu desempenho em relação a votações passadas.

Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, não vê o governo preocupado com o fato de os 296 apoios obtidos pelo governo Temer na votação da reforma trabalhista serem insuficientes para aprovar a da Previdência. São votações distintas, com pesos distintos e punições muito distintas aos parlamentares desleais ou não presentes, pondera o consultor.

Um dos fatores de dúvida para o mercado é qual o impacto que os protestos e greves terão no cenário político. Para Rafael Cortez, analista da Tendências Consultoria, dificilmente os protestos vão impedir o governo de continuar com as reformas, dado que Temer já trabalha com popularidade muito baixa. Porém, ele considera que o impacto das greves e manifestações sobre o governo e o Congresso não deve ser minimizado.

No mínimo, os protestos devem reforçar o “sentido de urgência” em relação às reformas, diz Cortez. O governo precisaria completar sua agenda econômica antes que se aproxime o ano eleitoral de 2018, quando a sensibilidade política ficará ainda mais aguçada. O analista prevê que a janela de oportunidade para aprovar reformas impopulares, como a da Previdência, não passa muito de três meses. Após este prazo, a temperatura política pré-eleitoral já deve começar a esquentar.

Além do tamanho dos protestos esperados para esta sexta, o mercado também deve monitorar a composição dos participantes. Manifestações contra o governo compostas apenas por sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda não preocupariam, dado que são grupos já sabidamente contra as reformas. Para os operadores de mercado, o Congresso só deve sentir o impacto se outros segmentos da classe média engrossarem o coro.

Por Josue Leonel (Bloomberg)

 

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