As oficinas de capoeira Angola começaram no IFBA de Valença, você ainda pode fazer sua inscrição! Jornal Valença Agora 26 de fevereiro de 2016 Baixo Sul, Notícias Mestra Gegê Poggi: Natural do Rio de Janeiro, sua vivência na Capoeira Angola começou em 1995 quando foi residir em Washington DC, Estados Unidos e conheceu o Mestre Cobra Mansa. É membro fundadora da Fundação Internacional de Capoeira Angola (FICA) e durante os seus 14 anos morando nos EUA, Gegê ajudou nas atividades desenvolvidas pelo núcleo da FICA-DC e também influenciou Angoleiras de outros núcleos da FICA nos EUA durante suas inúmeras viagens pelo país. Em 2003 Gegê recebeu o título de Treinel e em 2010 voltou ao Brasil com seus dois filhos, residindo então em Salvador para se dedicar ao aprendizado, pesquisa e ensino da Capoeira Angola dando ênfase ao ensino infantil e à presença feminina. Em 2011 recebe o titulo de Contra Mestra e em 2014 muda-se para Valença, interior da Bahia, para estar próxima do Mestre Cobra Mansa e apoia-lo nas atividades desenvolvidas pelo Kilombo Tenonde. Em Valença Gegê implementou seu projeto de inserção do ensino da capoeira angola nas escolas da cidade como apoio a lei 10.639, o qual já acontece em quatro escolas. Além disso, cursa Educação Física e vem estabelecendo o núcleo da FICA-Valença. No ano de 2015 Gegê realizou o XX Encontro Internacional da FICA na cidade de Valença onde foi formada Mestra de capoeira angola. Mestra Gege e o treinel Pescador ; os professores de Capoeira Angola de IFBA de Valença Jornal Valença Agora: Porque você escolheu dar aula no IFBA de Valença? Mestra GegêPoggi: O professor Erashto me chamou para dar aula no IFBA, ele me contatou quando estava preenchendo o edital se escrevendo e eu queria participar, não pensei duas vezes, por coincidência meu projeto para esse ano de 2016 era expandir nosso trabalho de capoeira Angola para os jovens Afro-brasileiros da cidade de Valença. Para mim é uma meta dentro da capoeira de atingir esse público principalmente feminino, quando ele me convidou não tive nem uma dúvida que fosse o inicio de um lindo projeto e aceite. Na hora não estava nada certo, estava em um projeto que poderia ser aprovado ou não. Erashto já conhecia o trabalho do mestre Cobra Mansa no Kilombo Tenondé (Bonfim), já tinha feito parcerias e já tinha vindo conhecer meu trabalho na FICA Valença. Uma ligação nasceu entre nós e uma vontade de trabalhar juntos. O projeto foi aprovado, fiquei muito feliz porquê é um projeto que visa dinamizar culturalmente a cidade de Valença e acho que essa cidade precisa muito de essas iniciativas. Pelo convite da Seiva as aulas de capoeira começaram na semana passada! Jornal Valença Agora: Qual é o objetivo de desenvolver um trabalho de capoeira Angola na instituição IFBA de Valença ? Mestra Gegê Poggi: Para mim é muito importante que os jovens Afro-brasileiros da cidade tenham um contato com a capoeira Angola, acredito na capoeira Angola como uma ferramenta de educação, uma educação justa, uma educação que tem sua raiz na cultura africana e conscientemente traz uma valorização para esses jovens, ajuda eles a terem uma identidade, a recriar sua identidade cultural como jovens Afro-brasileiros. A capoeira Angola ajuda a apoiar e incentivar as escolas e a ensinar sobre as raízes africanas de nosso país, a divulgar esses valores. Faço um trabalho nas escolas em apoio à lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de Historia e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino Fundamental. O sistema educacional brasileiro peca muito quando se fala em África, em cultura de origem africana, é algo muito minimizado e acho que a capoeira traz muito mais profundidade nesses conhecimentos. Eu acredito que uma vez que esses jovens tenham esses conhecimentos, essas raízes fortalecidas a auto estima deles vai ser elevada e mais que tudo eles vão se tornar jovens multiplicadores dessa cultura, eles vão se tornar pessoas para difundir e transmitir essa cultura Afro-brasileira que é nossa base. Jornal Valença Agora: Qual é a importância para você dar aula para jovens de escola pública? Mestra Gegê Poggi: Porque quero atingir jovens que tenham menos condições, menos informações. Sabemos que vivemos em um país seletivo, elitista, e que todas as informações no chegam para as camadas mais baixas da sociedade, as informações não são passadas no canal de televisão que as pessoas assistem, então a gente acha que é a população mais carente de informação. Também a própria escola ainda não cumpre essa função de educar esses alunos sobre essa cultura africana de uma maneira positiva, de valorização. Queremos dar de volta a esse povo, as pessoas de origem africana, de descendência africana o que pertence a eles! Estar sempre se apropriando sua própria cultura. Acaba que hoje em dia nos grupos de capoeira não tem a presença negra tão forte, quando se fala de mulher menos ainda, quase que não tem, então é muito importante estar nesses lugares, é dar essas oportunidades para esses jovens! Jornal Valença Agora: Como Mestra de capoeira queria que você me falasse do lugar da mulher na capoeira. Se é mais difícil? Mestra Gegê Poggi: É muito mais difícil, a capoeira reproduz o machismo ainda dominante em nossa sociedade brasileira, está se transformando mas, muito lentamente, e as mulheres estão começando a ocupar espaços que não ocupavam antigamente. A cobrança para uma mulher é muito mais forte, ela tem que provar que é capaz, ela tem que se superar e se é uma mulher negra, ela vai ter que se superar ainda mais, e se é uma mulher negra lésbica, mais e mais ainda que seja na capoeira mais também na sociedade no geral. E a capoeira carrega aquilo que têm na sociedade, a gente tenta transformar, tenta fazer diferente, estamos conseguindo fazer um pouco diferente mas isso demora. E as dificuldades das mulheres são inúmeras, elas têm mais dificuldade física porque dentro de uma sociedade machista, as meninas desde jovens, estão ensinado a elas que meninas não podem brincar na rua, não podem sujar roupa, que menina tem que usar vestido, tem que sentar de perna fechada, tem que ajudar a mamãe em casa, enquanto o menino está na rua brincando, rolando, se sujando, esse menino vai chegar na capoeira claro que ele vai ter mais facilidade. As habilidades corporais e físicas de uma menina são podadas desde pequena. Então ela chega na capoeira com essa defasagem em relação ao menino. Os pais e a sociedade condicionam as meninas. A capoeira empodera muito a mulher. Quando ela vai vencer essas barreiras ocupando esse espaço, o empoderamento, a força interior que vai gerando dentro dela é muito positiva e se torna uma arma, ela vai poder estar nessa sociedade de cabeça erguida! Meu objetivo é de trazer mais jovens mas principalmente as meninas para a capoeira. Viajo muito pelo mundo inteiro, pela Europa, pelos Estados Unidos, a Ásia, a América do Sul, a América Central e vejo muitas mulheres fazendo capoeira e com um nível muito bom de capoeira e vejo que o Brasil está muito atrás. É uma prova que aqui o machismo é mais preponderante, mais real! Mulher negra ainda tem praticado menos capoeira no Brasil. As mulheres que fazem capoeira estão mais nos estados do sul, são brancas de classe média, que foram para a escola particular e que são formadas na faculdade. Acho essa situação preocupante, alarmante, tem que mudar esse quadro. Eu podendo, vou estar sempre ajudando. Por ser mulher e por achar que a capoeira fortalece e que nós mulheres precisamos ser fortalecidas para essa vida, para estar bem e feliz! Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website