C com C - Sergio Herrera vinheta

Inexorável o tempo carrega consigo o evangelho das nossas ações dirigidas em relação ao outro, deixando para todos, os sentimentos evidenciados pela experiência. Expressamos essas condições e objetivos práticos através do trabalho coletivo como são as festividades, de conteúdo essencial e profundo não deixa de ser uma forma de conceber a existência humana proveniente do mundo do espírito e das ideias, sem as quais, todavia, não existiria o clima de festa.

A festa se constitui, por outro lado, pela memória viva do passado, pela renovação do cotidiano, em última instância, pela recriação do tempo. Essa ruptura permite, então, o acesso a um tempo especial vinculado ao mundo sagrado e ao mundo profano que, na sua junção, vão reafirmando normas e valores coletivos fortalecendo os laços de interação entre os indivíduos que se reconhecem no espaço.

Pela importância do seu compromisso social a festa promove a transmissão de tradições através das quais cada geração herda saberes, conhecimentos e memoria compartilhada. Sendo comunitária ou familiar ao interior de um espaço determinado, convoca a participação de costumes, mitos, ritos, obrigações e deveres atreladas à representação do imaginário social, que por sua vez, traduz o convívio com o outro, que por sua vez, incide no desenvolvimento da personalidade em relação à coletividade e a responsabilidade em torno da sociedade.

O caráter festivo relacionado com o ciclo da vida identifica e celebra as diferentes etapas de mudança que experimenta todo individuo em inteira correlação com o interesse coletivo. Essa passagem transitória vai sempre acompanhada de ritos e cerimonias, que embora mudem e variem ao longo do tempo, manifestam a condição de pertença social à família pilar de integridade física e moral da dignidade humana.

Assim, a festa para todo individuo é a reconciliação entre os seres humanos influenciado permanentemente pelos acontecimentos que oscilam entre a razão e a emoção. No encontro dessa dualidade há um continuo fio de emoções e sentimentos difusos que assinalam a toma de decisões dando sentido à existência. Assemelhasse ao continuo movimento de contrapeso da balança, vezes que a razão comanda sem se afastar por completo das cores que desenham a afetividade deixando nossas ações decifrar os segredos manifestos ou latentes do espírito humano.

 

Disso que trata o íntimo do ser que faz das palavras a medida do universo das suas ideias enquanto registro de aproximação da autoestima, isso lhe permite não esmorecer no confronto, quiçá fique um tanto indeciso, quiçá inseguro, mas tenta se segurar por todos os lados na tentativa, tal qual equilibrista, de buscar uma saída, de um rumo no meio de escolhas e de consequências na procura de uma verdade reprimida com a qual precisa lidar na dimensão mais radical da incerteza.

Nessa realidade, a celebração dos ritos se constitui no elo do mundo dividido entre aquilo que fazemos do bem e aquilo do mal; no espaço/tempo onde precisamos ser ordeiros para retirar dele o melhor para a vida, aliás, um compromisso que estabelecemos desde que nascemos; reafirmação do que devemos ser para nós mesmos: a construção de um feitio moral que fortaleça o caráter que vai definindo a personalidade e a humildade; a qualidade do ser solidário e ter um relacionamento social equilibrado e sadio com todos aqueles com quem compartilhamos a nossa vivência.

Enfim, racionalidades e sentimentos que contam na hora de enfrentar os imponderantes que se apresentam no cotidiano e regem as ações humanas. Contudo, não deixa de ser uma força psicológica para continuar remando nas ondas agitadas e turbulentas do que somos onde as normas sociais estabelecem o respeito, sim, o respeito para ser ouvinte do drama humano, da alegria, sim, da alegria por compartilhar a empolgação do entusiasmo pela vida com a firmeza integra de vive-la intensamente.

Por isso mesmo, que as festas de final ano sejam a reafirmação da verdadeira rebeldia de decidir em construir o possível na sua dimensão humana, enquanto a expressão “ano novo” é retórico, por outro lado, é imprescindível ter em conta que as mudanças vêm de um mesmo que acaba por pintar a frágil felicidade em torno daqueles que compartilham a paz espiritual. Que as festas de final de ano sejam de confraternização, reencontro e regozijo no acolhimento de sentimentos sinceros e acalorados da família. Que o próximo ano seja muito melhor do ano que finda.

Grande abraço aos leitores do Jornal Valença Agora.

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