Fonte: CNN Brasil | Imagem: Alysson Muotri e filho, Ivan, que hoje tem 18 anos/Muotri Lab/UC San Diego

“Busco qualidade de vida para meu filho”, diz brasileiro que viajará com a Nasa

O cientista brasileiro Alysson Muotri, que comanda o Muotri Lab, na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, viajará ao espaço com a Nasa em busca de tratamentos e até da cura para o transtorno do espectro autista. Com previsão da missão espacial acontecer entre o fim de 2025 e o início de 2026, o pesquisador busca maior qualidade de vida para seu filho, Ivan, 18, que sofre com um nível mais severo da condição e requer acompanhamento constante.

“Se o Ivan ficar sem observação, ele morre”, pontuou Muotri em entrevista à CNN. “Busco uma melhor qualidade de vida para ele. Se não encontrar a cura, que encontre algo que chegue próximo e o torne independente”.

Muotri ainda ressalta que a missão é para investigar as condições mais profundas. “Funciona para todos do espectro do autismo? Não. Tem autismos que a gente chama mais leves, que são mais independentes, no qual o tratamento e a cura não importam”, pontuou.

O cientista afirmou que esses grupos menos severos procuram por uma inclusão social. “Tem pessoas que tem direito a escolher se querem ser tratadas ou não — isso não é a minha responsabilidade. Minha responsabilidade como cientista é prover a opção do tratamento e da cura. Quem vai atrás? Aquele que quiser ser curado, que quiser ser tratado”, completou.

Na missão, o pesquisador ainda procura tratamentos e a cura para o Alzheimer. A doença neurológica, inclusive, também afetou sua família: viu seu avô, que já morreu, adoecer neurologicamente aos 65 anos.

“Durante toda a minha vida, fui influenciado por exemplos ou por contato com pessoas que sofriam de condições neurológicas graves. O Alzheimer terrível do meu avô me expôs: como que uma pessoa perde a própria identidade? Como que uma pessoa esquece todas as memórias e não consegue mais se comunicar?”, questionou.

Como funciona a missão espacial?

O objetivo da viagem é analisar a progressão de doenças neurológicas e buscar tratamentos — ou até a cura — para os níveis mais severos do transtorno do espectro autista e do Alzheimer. Por consequência, também analisam formas de proteger os cérebros dos astronautas, que são afetados pelas missões espaciais.

Analisando os impactos da microgravidade no cérebro humano, ele e mais quatro cientistas serão os primeiros pesquisadores brasileiros a viajarem para o espaço. Ainda não há definição de outros nomes que devem participar da expedição e nem da data de ida e volta.

O grupo embarcará no foguete Falcon 9, da SpaceX, para a Estação Espacial Internacional (ISS), com suas ferramentas de estudo: organoides cerebrais.

Popularmente conhecidos como “minicérebros”, são pequenas estruturas com neurônios, criadas a partir de células-tronco de diferentes indivíduos vivos, que “imitam” aspectos do funcionamento do órgão.

Os cientistas levarão organoides derivados de pacientes que tiveram Doença de Alzheimer e, outros, do espectro autista — principalmente, de quem necessita de acompanhamento constante e corre risco de vida.

Esses organoides envelhecem no espaço: 30 dias em missão espacial equivalem a 10 anos na Terra para os “minicérebros”.

Então, por que as respostas para cura e tratamentos do autismo e Alzheimer podem estar na microgravidade? Segundo Muotri, ao levarem os organoides para o espaço, seria como se os cientistas viajassem no tempo.

“O aceleramento do desenvolvimento ou do envelhecimento dos organoides cerebrais permite com que a gente estude o que acontece em outras etapas da vida da pessoa”, explicou ele.

 

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