Escritora e historiadora Silvana Andrade dos Santos apresentou seu livro “Tecido pela escravidão: tráfico e indústria na Fábrica Têxtil Todos os Santos (Bahia, c.1840-1870)”

Nesta segunda-feira, 13 de maio, data em que o Brasil completou 136 anos da abolição da escravatura a partir da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, a secretaria municipal de Educação de Valença, através da Biblioteca Ruy Barbosa, promoveu no Centro de Cultura, o lançamento do livro “Tecido pela escravidão: tráfico e indústria na Fábrica Têxtil Todos os Santos (Bahia, c.1840-1870)”, da escritora e historiadora Silvana Andrade dos Santos, seguido de roda de conversa sobre a obra e a abolição da escravatura.

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Evento foi realizado no Centro de Cultura de Valença pela Secretaria Municipal de Educação através da Biblioteca Ruy Barbosa (Foto: Valença Agora)

O evento reuniu estudantes, professores, autoridades, artistas, instituições da sociedade civil organizada e visitantes do município de Presidente Tancredo Neves, terra de origem da escritora Silvana. As boas vindas foram proferidas pela diretora da Biblioteca Ruy Barbosa, Lúcia Araújo.

“Neste dia 13 de maio, não apenas marca uma data no calendário da biblioteca, mas celebramos a força, a resiliência e a história dos negros que por aqui passaram e que lutaram para que a gente tivesse uma cidade melhor. É um momento para lembrar e honrar as lutas, as conquistas e a cultura que moldaram e continuam a enriquecer nossa nação. Hoje reconhecemos e valorizamos as contribuições inestimáveis desses homens e mulheres e crianças que vocês ouvirão na fala da doutora Silvana”, afirmou Lúcia, que também leu um poema em homenagem à data. (Clique aqui para assistir)

Albete Freitas, secretária de Educação de Valença (Foto: Valença Agora)

A secretária de Educação de Valença, Albete Freitas, parabenizou a organização do evento e a escritora Silvana. “Esse momento é um momento ímpar porque hoje nós estamos lançando algo cientificamente comprovado sobre a cidade de Valença. Nós precisamos conhecer nossa história mais de perto. A escravidão estava bem pertinho de nós, e esse livro, com certeza, vem para abrir alas sobre conhecer Valença. E com essa história, com esse livro, com certeza nossas escolas, nossos munícipes estarão mais atentos ao que aconteceu, o que acontece e o que poderá ser na história de Valença. Que nós estamos construindo uma história que também tem como referência a escravidão”, pontuou Albete.

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Irene Andrade, representante da Educação municipal de Pres. Tancredo Neves (Foto: Valença Agora)

Representando a gestão municipal e a Educação de Presidente Tancredo Neves, a diretora pedagógica Irene Andrade ressaltou o orgulho pelo trabalho que Silvana vem desenvolvendo. “Somos um território que foi desmembrado do município de Valença, então nós fazemos parte também dessa história. Silvana é um orgulho para todos nós. Ver uma pessoa da nossa comunidade, que saiu da Tesoura 2, zona rural do município de Presidente Tancredo Neves, fazendo história, literalmente, é uma satisfação muito grande. A alegria é saber que ela pode contribuir muito e que esse é o primeiro de muitos livros, de muitas produções que ela vai trazer para contar um pouco da nossa história, um pouco do nosso passado para as gerações futuras, porque a história é a gente ver o que aconteceu no passado e a partir disso construirmos coisas novas, coisas prósperas por base dessas experiências que todos nós tivemos”, destacou.

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Bertolino Júnior, presidente da Câmara Municipal de Valença (Foto: Valença Agora)

O presidente da Câmara Municipal de Valença, Bertolino Júnior também parabenizou a escritora. “Com muita alegria no coração e satisfação a gente está aqui nesse momento acompanhando e prestigiando esse lindo momento. Parabéns à nossa Dra. Silvana por proporcionar e todo esse conhecimento para o nosso município”.

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Adriano Pereira, conselheiro estadual de Cultura (Foto: Valença Agora)

O município de Cairu também prestigiou o evento sendo representando pela secretaria de Cultura e Turismo através de Adriano Pereira. O mesmo também representou o Conselho Estadual de Cultural do qual é conselheiro. Adriano convidou a escritora Silvana Andrade para apresentar seu livro próxima sessão do conselho, onde haverá uma Moção de Aplausos pelo lançamento da obra. “Esse livro tem que chegar em outros lugares e eu acho que o Conselho pode contribuir também com isso, para que a história da de Valença seja conhecida na Bahia também e em vários outros lugares que há muita identificação”, afirmou.

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Silvana Andrade e o jornalista Vidalto Oiticica diretor executivo do JVA (Foto: Valença Agora)

O jornalista e Diretor Executivo do Jornal Valença Agora, Vidalto Oiticica, participou do lançamento e o considerou um momento rico de novos conhecimentos sobre a história de Valença. “Sabemos, a partir do lançamento do livro, de onde viemos, sabemos quem nós somos e podemos perfeitamente entender que é possível construir um futuro bem melhor, engajando, se envolvendo, entendendo que nós fomos edificados por um povo estrangeiro que aqui veio, trouxe as suas visões, edificou vários patrimônios que trouxeram a cultura, a educação e que por isso hoje Valença é milionária. Hoje nós não estamos tendo a sabedoria de gerir e juntar o entendimento dessas riquezas. Fica aí a responsabilidade para todos nós e o Jornal Valença Agora está contribuindo com o desenvolvimento sustentável, participando, registrando e disseminando essas informações que vão fazer com que tire o nosso povo, a nossa visão, o nosso momento de inércia e possamos provocar momentos bem mais grandiosos e com um futuro melhor para todos nós”, comentou Oiticica.

A apresentação da autora foi proferida pela professora Nelma Barbosa, coordenadora do curso de Especialização em Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-Brasileira na Educação – REAFRO do Instituto Federal Baiano campus Valença.

Silvana Andrade dos Santos nasceu em Valença, filha de um agricultor e uma professora. Cresceu no povoado da Tesoura 2, zona rural do município de Presidente Tancredo Neves. É graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia, Campus V, Santo Antônio de Jesus. Mestra e Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente desenvolve pós-doutorado na Universidade de São Paulo, a partir do qual foi pesquisadora visitante no Conselho Superior de Investigações Científicas na Espanha.

Entre suas experiências profissionais, foi professora na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Estadual do Norte do Paraná; e Coordenadora Geral da Educação no município de Presidente Tancredo Neves.

Desde 2010 se dedica a estudar a história de Valença e do Baixo Sul da Bahia, tendo apresentado e publicado inúmeros trabalhos a respeito da região. É uma das organizadoras do livro “Tráfico e traficantes na ilegalidade”.

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Profª Nelma Barbosa, coordenadora do REAFRO - IF Baiano (Foto: Valença Agora)

“É uma grande alegria hoje ver uma parte do trabalho de Silvana organizado nessas palavras, aqui, que para a gente não é só um livro, é uma arma. A nossa memória, ela não pode continuar na oralidade, somente. Ela vai continuar oral, mas ela precisa ser sistematizada. Como Silvana, nós temos várias outras pessoas estudando, comprovando aquilo que a gente sempre soube, que nós somos resistência. Então, Silvana, muito obrigada pelo teu trabalho”, disse professora Nelma.

A Doutora e Mestra Silvana Andrade, falou sobre o seu trabalho de pesquisa iniciado em 2014, pautado na escravidão em Valença, pontuando sobre como se deu o surgimento do livro. A escritora também apresentou um resumo da obra de 270 páginas, que conta a relação da Fábrica Têxtil Todos os Santos, atual Companhia Valença Industrial – CVI, com a escravidão.

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A escritora falou sobre o surgimento do livro e apresentou resumo da obra (Foto: Valença Agora)

“Eu estou contando essa história não só como uma acadêmica, mas eu falo também com muito envolvimento com a história do lugar. Para mim não faria sentido nenhum se eu publicasse esse livro, onde quer que fosse, no Brasil, no exterior, mas que eu não viesse aqui para a gente conversar. Porque só faz sentido para mim se isso que eu produzir tiver impacto nessa sociedade hoje. Esse livro não é um ponto final, é um passo importante rumo a esse debate essencial sobre história e memória da escravidão de Valença, um debate que a gente já vinha fazendo, mas eu acho que está cada vez mais forte”, ressaltou.

“Eu fiz um projeto de doutorado para pesquisar a relação da fábrica com a escravidão e existe uma dedicação muito grande. Não é algo que é feito de hora para outra. Porque eu sei que a fábrica, que toda essa memória tem um peso muito importante na construção da memória coletiva sobre Valença. Então eu não poderia chegar aqui e falar coisas que eu não pudesse referenciar. Eu tinha que chegar aqui e falar com seriedade, depois de uma pesquisa aprofundada e foi isso que eu fiz. A tese resultou no livro, então eu digo que aqui tem pelo menos 12 anos de pesquisa, porque desde que eu comecei a pesquisar a produção de farinha de mandioca, eu já estudava sobre Valença, embora eu não estudasse sobre a fábrica, e todas essas informações contribuíram para que eu acumulasse ideias, informações que hoje resultaram no livro”, destacou.

Silvana comentou sobre a importância da obra. “A gente achava que era necessário não só para a história de Valença, mas para a história do Brasil, porque como a gente sabe, a fábrica foi a maior fábrica de tecidos do Brasil do século XIX, então é um livro que deu uma contribuição também para história do Brasil muito significativa”.

A escritora compartilhou que o livro está organizado em suas partes. A primeira parte aborda os três proprietários fundadores da Fábrica de Todos os Santos: Antônio Francisco de Lacerda, Antônio Pedrozo de Albuquerque e John Smith Gillmer, onde é relatado o enriquecimento destes a partir do tráfico de escravos.

“A segunda parte do livro, eu vou falar sobre a fábrica, também dividida em três capítulos. No primeiro capítulo eu vou falar sobre o estabelecimento da fábrica em Valença. No segundo capítulo, eu vou falar do funcionamento da fábrica. A fábrica era a maior fábrica do Brasil na época. Eu comparei com fábricas de outros países, do México, dos Estados Unidos e da França. Era realmente uma coisa impressionante. E por último, o terceiro capítulo é sobre o emprego da mão-de-obra escrava. Sim, a fábrica utilizou mão-de-obra escrava”, pontuou Silvana.

“Valença era uma vila antes da chegada da fábrica, e a fábrica promove um desenvolvimento econômico em Valença muito significativo, a gente não pode negar isso, mas a gente precisa estar atento que esse desenvolvimento econômico, essa riqueza foi possível pela exploração de pessoas escravizadas”, frisou a autora.

Após a apresentação de Silvana, todos participaram deum bate-papo com a autora, tirando dúvidas e debatendo acerca da memória da escravidão em Valença.

O livro “Tecido pela escravidão: tráfico e indústria na Fábrica Têxtil Todos os Santos (Bahia, c.1840-1870)” está disponível para compra no site da Editoria Hucitec e na Amazon.

CONTRACAPA  - Por Thiago Campos Pessoa

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“Em meados do oitocentos, os anúncios da maior indústria têxtil do Brasil vendiam seus produtos como símbolo da modernidade capitalista e sua autoimagem como empresa livre da escravidão. Aos incautos, a propaganda talvez refletisse a realidade da fábrica Todos os Santos, fundada no litoral da Bahia em 1844. No entanto, Tecido pela escravidão argumenta que a modernidade em questão era aquela de um país escravista, moduladora de instituições e empresas, como a fábrica construída pela sociedade Lacerda & Cia. Aliás, a autora não dá vida fácil à memória dos seus sócios, entremeando suas 'fortunas ao tráfico de africanos.

Impressiona, igualmente, as agências desses homens na promoção da modernidade oitocentista.

Assim, adianto ao leitor: não será sem surpresa que chegará ao final do percurso, reflexivo sobre o progresso à brasileira, tecido com o dinheiro dos negócios lastreados pela escravidão.”

 

 

 

 

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