Elegância Valença Agora 16 de janeiro de 2017 Carlos Magno de Melo, Colunistas Não há elegância que se sustente sobre sapatos apertados. Quanto mais se tenta despistar, mais evidente fica. Já vi mulheres granfinas caminhando como se fossem urubus em pista de desfile. Desengonçamento total. Acode um pé de cá, o sapato morde o outro de lá. Caminhando sobre ovos. Se for um sapato só que estiver apertando, anda mancando para um lado. Um horror. Ser elegante é estar à vontade. Uma vez, via e fotografei a Tássia Camargo descalça, no passeio de um teatro. Ele acabara de fazer uma bela récita em uma homenagem à Cecília Meireles. Foi lá em São José do Rio Preto. Tássia chegou à calçada e exclamou que sapato apertado! Não teve dúvida, em nome do conforto tirou os sapatos e ficou maravilhosa, pés no chão, livre do martírio. Elegância foi aquilo, ter a liberdade e usufruir dela. Fotografei. E narrei em crônica. E volto a tocar no assunto. Comprei um par de sapatos que foi uma benção. Rodei meio mundo com eles. Fui da Bahia à região montanhosa de Tarragona na Espanha. Nenhum incômodo. Sapatos macios, leves e esportivos. Estavam bem com roupas informais. Caíam bem com jeans e com um blazer. O tempo passou e tive que me desfazer deles. Com pesar. Fiz até um poema contando nossas aventuras turísticas. O tempo. O desgaste. Aproveitei que estava em Brasília e fui até a loja responsável pela marca dos meus sapatos. Aquele modelo estava fora de linha. Quase tive um troço. Bem, fazer o quê? Escolhi um outro modelo. Parecia tão confortável. Aliás, a tônica da marca é a confortabilidade. Meu filho fez um comentário quando viu os “pisantes”. Devem ser muito confortáveis, porque são feios que dói. De fato. Comprei. Ah, pra quê? Os contrafortes dos danados dos sapatos roíam os meus calcanhares, não propriamente os calcanhares, mas aquela corda que tem por trás dos pés da gente. Deu no sangue. Um horror. Quando me vi andando como se fosse um urubu, resolvei. Voltei à loja. Aceitaram minhas reclamações. Preencheram papéis e me falaram que iriam mandar para a perícia, na fábrica. Com trinta dias era para que eu voltasse. Se fosse comprovado que era defeito de fabricação, eu poderia escolher outro modelo. Pois bem, escolhi. Estou de sapatos novos. Agora é ver. Que venham outras viagens, outros caminhos, os mesmos caminhos, que a vida segue. Indo ou vindo. Se for com conforto, melhor. Estarei à vontade, elegante, portanto. Espero. Espero, também, que os sapatos do Brasil sejam trocados por um modelo mais agradável. *Publicado na edição impressa nº 602, do jornal Valença Agora. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website