Em tudo na vida tem espinho Valença Agora 16 de janeiro de 2017 Colunistas, Moacir Saraiva A moça era importante na comunidade, muito importante. Bem conceituada, seja na profissão, seja na inserção na sociedade, enfim, uma mulher do bem e de bem com a vida. Alegre, espirituosa, onde chega contagia de bom humor o ambiente. Um olhar firme e muito acurado, pois sua profissão exige tais características. Uma profissional que, por ser competente e ter construído um nome que inspira respeito, tem uma "pacientela" numerosa e isso a obriga a trabalhar além da conta. Como muitos profissionais modernos que, de tanto se dedicarem ao trabalho, negligenciam e muito seu bem estar e de seus cuidados pessoais. Quantos filhos são abandonados pelo excesso de trabalho dos pais? Não são poucos os profissionais modernos que se isolam do mundo e das pessoas por priorizarem as atividades laborais. Muitos companheiros se sentem abandonados pela sobrecarga de trabalho da parceira, da mesma forma muitas mulheres se queixam da solidão pelo de fato de o companheiro só viver para o trabalho. Falta ainda a sociedade entender que só se vive uma vez e tem de se buscar viver bem. Entendo até ser este o espinho dos espinhos, o sujeito se entregar somente ao trabalho e se privar de viver a vida, viver bem com a família, curtir os filhos, ter os momentos para si mesmo, enfim harmonizar trabalho e vida pessoal. Independente disso, em tudo há pequenos espinhos que não chegam a embaçar o brilho da vida, mas tem o efeito de pinicar, de incomodar o sujeito que carrega nas entranhas este incômodo ferrão. A profissional a que me referi carregava dentro de si uma farpa que a incomodava com certa frequência. Não era um espinhão paralisante, no entanto, ela ficava constrangida e criava estratégias para o pinicão não criar tantos danos. O curioso é que cada indivíduo tem seu ou seus espinhos, para uns não há motivo para se sentir incomodado com algo aparentemente insignificante, mas para outros sim. A moça em questão se incomodava com as unhas das mãos, pois não tinha tempo para ir ao salão arrumá-las. Em uma de suas atividades usa luva , assim o incômodo do beliscão não se manifesta, já em outra atividade as unhas ficavam expostas. E aí vem o complexo das unhas "sujas" que a incomodava muito, a ponto de deixá-la descorada e, a qualquer custo, tentava escondê-las. Nestas situações, o indivíduo portador de qualquer tipo de espinho, sente que todas as atenções só se voltam para ele, no caso específico, a jovem senhora sentia que todos os olhares só miravam suas unhas, que ela tinha vergonha de expô-las, sem que estivessem devidamente tratadas. Ao atender alguém sem as luvas, fazia malabarismos para que as pessoas não mirassem os "cascos" era assim que se sentia sem que as unhas estivessem devidamente cuidadas e pintadas. Seu complexo, por causa deste espinho, era tamanho, que, no afã de não mostrá-lo, dobrava os dedos, uma cena que chamava a atenção de todos aqueles que conviviam com ela. Um dia foi indagada por uma pessoa a quem ela assistia se era portadora de artrose, pela dificuldade em esticar os dedos e isso a impedia de desempenhar atividades elementares como dobrar uma folha de papel. A vida humana tem facetas que nem Freud explica: como uma mulher estudada, experiente na arte de viver se encabular por causa de unhas por serem feitas? *Publicado na edição impressa nº 601, do jornal Valença Agora. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website