Enfermagem: Quebrando os paradigmas Jornal Valença Agora 24 de agosto de 2016 Colunistas, Janelas Abertas Para fazer essa coluna sobre a História da Enfermagem, fiz uma visita na História da cidade de Valença-Ba, ondeme veio a memória a minha infância, quando metade dela ou porque não completa fui criado dentro da Santa Casa de Misericórdia de Valença, pois minha mãe a saudosa Rita Laurença, com falecimento de seus pais (meus avós) foi levada de Cairu-Ba, sua cidade natal, para trabalhar na Santa Casa,ainda jovem, onde sua juventude foi assistida pelas Freiras que administravam a casa filantrópica na época. Permanecendo como funcionaria ativa e assídua por mais de 35 anos de serviços e dedicação trabalhando na enfermagem até a lavanderia onde se aposentou. Foi através das Freiras que aprendeu a ser enfermeira (Técnica de Enfermagem), assim denominadahoje, na época o Hospital tinha poucas enfermeiras (Técnicas de Enfermagem) e o Hospital era bem menor em suas instalações, portanto muitas enfermeiras foramformadas dentro do próprio Hospital, tendo com instrutoras as Freiras. Haviamdificuldades, situação econômica difícil.Só podiam está sendo enfermeiras aquelas que atendessem alguns requisitos indiscutíveis, como ser Católicas e frequentadoras assíduas da Igreja Católica e ter escolaridade exigida na época ou está cursando o curso de Admissão, algumas eram voluntarias. Mas o progresso, avanços e modernidade surgiam a qualquer custo e esses paradigmas foram extintos para essa profissão e hoje temos uma realidade hipotecada de excelentes profissionais formadas em Universidade, Faculdades e Escolas, bemcomo um Hospital tão bom quanto ao da época citada, pois cada legado tem a sua importância tanto na história da cidade, como na vida pessoal de cada um daqueles que contribuíram e corroboraram para a construção dessa realidade. Vou discorrer em poucas linhas a História da Enfermagem, bem como trazer a história de Ana Neri, que colaborou com sua dedicação e visão futurista para romper preconceitos e paradigmas sobre a função da mulher na época e quehoje serve de exemplo para a luta feminista e aceitação aos direitos profissionais da mulher. A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em 1880, com a presença de D.Pedro II e Dona Tereza Cristina. No que diz respeito à saúde do nosso povo, merece destaque o Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e catequeses; foi além: atendia aos necessitados do povo, exercendo atividades de médico e enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns. Há mais de cem anos atrás, a Cruz Vermelha Brasileira (CVB) foi fundada no Rio de Janeiro, iniciou no ano de 1907, graças à ação do Dr. Joaquim de Oliveira Botelho. A inauguração contribuiu para a profissionalização da enfermagem no país, com a criação da Escola Prática de Enfermeiras em 1916. A primeira escola de capacitação profissional fora criada em 1890. Intitulada Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, hoje ela se chama Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). O idealizador da Cruz Vermelha Internacional foi Henry Dunant (1828-1910). Os princípios da instituição eram: humanidade, igualdade, proporcionalidade, imparcialidade, neutralidade, independência e universalidade. O símbolo adotado pela instituição foi uma cruz vermelha sobre um fundo branco, em homenagem a Suíça, nas cores invertidas da bandeira daquele país. Esse símbolo tem significado de inviolabilidade e respeito com as pessoas e instituições destinadas à assistência, principalmente, durante a guerra. Em 1911, a instituição recebe do Governo Federal um terreno para a construção de uma sede própria, abrigando o Dispensário para Assistência Médica gratuita e um local para ensino de enfermagem. Três anos depois, a CVB iniciou a formação de enfermeiras voluntárias, mas a necessidade de profissionais para a capital federal era premente. Em 1916, para atender a esta necessidade as Damas da Cruz Vermelha propuseram a criação de um curso de enfermeiras profissionais. A formatura da primeira turma ocorreu um ano depois. Mesmo assim, os cuidados dos doentes permaneciam sendo exercidos quase sempre por praticantes amadores e religiosos. A Escola Prática da Cruz Vermelha Brasileira, no Rio de Janeiro, funcionava anexa ao Dispensário para Assistência Médico-Cirúrgica da instituição, sob direção do Dr. Getúlio dos Santos (1881-1928), então Diretor do Serviço Médico da Cruz Vermelha Brasileira. Para o ingresso no curso de enfermeiras profissionais, as candidatas deveriam encaminhar um requerimento ao diretor da Escola; ser sócia da Instituição, saber ler, escrever e fazer as quatro operações aritméticas, além de apresentar os documentos de atestado de boa conduta, conferido por autoridade competente ou por pessoa idônea; certidão ou justificação de idade provando ser maior de 18 e menor de 30 anos; e atestado médico, declarando não sofrer de nenhuma moléstia crônica nem contagiosa e não ter defeito físico incompatível para o exercício da profissão. A primeira turma de enfermeiras profissionais teve trinta e seis mulheres matriculadas, mas somente oito enfermeiras se formaram ao final do curso. Na composição do uniforme, o véu chamava atenção. Este complemento da veste lembra as filhas de Maria, as noivas, algumas imagens religiosas, e as irmãs da caridade. O significado do véu pela ótica da moda é uma das maneiras de ocultar a identidade e enfatizar a moralidade. Ao lado do símbolo da cruz, ele reforçava a mensagem da instituição no apelo à caridade e bondade que as enfermeiras deveriam transmitir à sociedade. No período da guerra, não sabemos se a Cruz Vermelha Brasileira enviou enfermeiras para os hospitais na Europa, mas é possível afirmar que algumas esposas de militares acompanharam seus maridos e lá auxiliavam nos cuidados aos feridos nos campos de batalha. Ao mesmo tempo, no Brasil, a Revista da Semana publicava imagem de enfermeira em campanha para recolher donativos para as famílias dos soldados como um gesto de bondade humana. Com o término da I Guerra Mundial, o país foi marcado pela gripe espanhola e, no Rio de Janeiro, a Cruz Vermelha Brasileira foi transformada em um hospital. Durante a epidemia, as enfermeiras da instituição cuidaram dos acometidos pelo flagelo da gripe. Para se ter uma ideia da gravidade, a gripe espanhola levou ao óbito 15 mil pessoas, inclusive com a morte do presidente eleito à época Rodrigues Alves, deixando-a conhecida, na voz corrente, como gripe democrática. A doença, apesar de causar danos à saúde da população, evidenciou que a Cruz Vermelha não se destinava apenas aos cuidados dos feridos de guerra, mas também para àqueles tipos de calamidades. Ainda em 1916, foi lançado o livro intitulado “Livro do Enfermeiro e da Enfermeira para uso dos que se destinam à profissão de enfermagem e as pessoas que cuidam de doentes” de autoria do Dr. Getulio dos Santos. Esse livro descrevia às qualidades exigidas à mulher para ser enfermeira para a prática na caridade e bondade, consoantes com os princípios da Cruz Vermelha. Dr.Getulio Santos esclarece que o motivo que o levou a escrever o livro foi à carência de literatura e de profissionais de conhecimento técnico e prático para exercer as atividades da enfermagem. O livro destinava-se aos professores, alunos e interessados em auxiliar os médicos no tratamento aos doentes. O livro foi editado em 1916, 1918 e 1928. Na sua última edição, foi composto de 376 páginas, 151 figuras distribuídas em 13 capítulos. Ana Neri Aos 13 de dezembro de 1814, nasceu Ana Justina Ferreira, na Cidade de Cachoeira, na Província da Bahia. Casou-se com Isidoro Antônio Neri, enviuvando aos 30 anos. Seus dois filhos, um médico militar e um oficial do exército, são convocados a servir a Pátria durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), sob a presidência de Solano Lopes. Mas foi sem formação profissional que Anna Nery fez história na enfermagem, casou-se aos 23 anos. Ficou viúva aos 51 anos e, ao vivenciar a partida de seus filhos e um sobrinho para os campos de batalha da Guerra do Paraguai, resolveu ser voluntária no atendimento aos feridos de guerra. Antes de partir, aprendeu lições e maneiras de como cuidar de doentes no Rio Grande do Sul, com as Irmãs de Caridade São Vicente de Paulo, com período de estágio para convalescentes da guerra, em Salto na Argentina. Ao retornar da guerra trouxe consigo seis órfãos do Paraguai para criá-los. Recebeu uma coroa de louros cravejada de brilhantes como homenagem e ficou conhecida popularmente como “Mãe dos Brasileiros”. Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no Edifício do Paço Municipal. O governo Imperial lhe concede uma pensão, além de medalhas humanitárias e de campanha. Faleceu no Rio de Janeiro a 20 de maio de 1880. A primeira Escola de Enfermagem fundada no Brasil recebeu o seu nome. Ana Neri e Florence Nightingale (Italiana de Florença) rompeu com os preconceitos da época que faziam da mulher prisioneira do lar. Faleceu em 20 de maio de 1880, aos 65 anos de idade, no Rio de Janeiro. Após sua morte, ainda ocorreram diversas homenagens, dentre elas em 1919, pela Liga das Sociedades da Cruz Vermelha, em Paris, que a reconheceu como pioneira da Enfermagem Brasileira e precursora da Cruz Vermelha Brasileira. Em 1926, Anna Nery passa a ser nome da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, sendo então denominada Escola de Enfermeiras Donna Anna Nery, atual Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Essa escola foi criada em 1922, no início da Reforma Sanitária, liderada por Carlos Chagas, e subvencionada pela Fundação Rockefeller para implantação da enfermagem moderna no país. O Enfermeiro(a) já foi visto como um profissional que fazia parte da equipe de um hospital apenas para cuidar do paciente, e é claro que essa é uma função básica do profissional. Contudo, abriram-se outros campos de trabalho, especialmente com a criação do SUS e com o Programa Saúde da Família. Hoje, são mais de cinco mil equipes no Brasil e um dos integrantes da equipe é o enfermeiro, de presença obrigatória. Isso criou um campo bastante amplo e levou, também, a uma nova forma de entender o papel desse profissional. O enfermeiro de agora é alguém que, além da assistência ou o do cuidado direto ao paciente, exerce coordenação de equipes, porque tem uma visão ampla da área da saúde, está preparado para discutir quais são os determinantes e os condicionantes ligados à questão de adoecer e morrer da população brasileira. O enfermeiro não lida só com a assistência a partir da doença, lida, também, com a promoção da saúde. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website