Estudante de Medicina Veterinária sugere ações para eliminar o cocô de pets nas ruas de Valença

Dando continuidade à série de conteúdos sobre o cocô de cães deixados nas ruas, o JVA traz a entrevista com a estudante do 5º semestre de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Rebeca Luz Oiticica Pires, 21, sobre o tema.

“Eu escolhi a Veterinária por gostar de animais e por ser uma área muito abrangente, com diversas possibilidades de ramos de atuação, inclusive na saúde pública cuidando também dos humanos e não só dos bichinhos. É uma profissão linda!”, destaca a futura médica Rebeca Pires.

Acompanhe a entrevista a seguir:

Rebeca, como você avalia o problema do cocô de pets nas ruas em Valença?

Vejo que esse problema vem se agravando, já que cada vez mais os tutores saem com seus bichinhos para passear, caminhar e não se importam com os dejetos dos animais.

Na sua opinião, o que pode ser feito para coibir essa prática do cocô de cães deixados nas ruas, calçadas e espaços públicos?

A principal ação deveria partir do poder público da nossa cidade como: campanhas para os cidadãos saírem de casa com a sacolinha, educar sobre a importância de recolher as fezes do seu animal. Também podem ser criadas leis com multas caso o tutor deixe as fezes do animal na rua, como já existe em algumas cidades do Brasil. A Prefeitura pode disponibilizar pontos de fornecimento de sacolinhas nas ruas em que é mais comum que os tutores andem com seus animais, mas o principal mesmo é a conscientização do tutor mostrando quais os benefícios e malefícios de recolher as fezes.

Uma questão também muito importante é dos animais errantes da cidade (de rua), já que eles seguem espalhando doenças. Cabe ao poder público retirar esses animais da rua, leva-los para um abrigo e ter os devidos cuidados com esses animais para dar o suporte até que os mesmos sejam adotados, o que leva a necessidade de haver campanhas de adoção e sobre o abandono de animais.

Poderia também ser realizadas campanhas de vermifugação e castração para a população mais carente da nossa cidade, além de ensinar a estas pessoas que é importante manter a saúde do animal em dia. Quando você cuida do seu animal, você também está cuidando da sua família.

Quais os problemas que o cocô na rua pode trazer para o todo (meio ambiente, animais e seres humanos)?

Diversos. Contaminação dos solos como em parques, jardins, principalmente lugares com areia, e também contaminação da água, caso as fezes sejam levadas pela água da chuva até os rios. As fezes são um importante meio de transmissão de doenças, tanto para os próprios animais quanto para nós. Existem diversas doenças, por exemplo:

Vírus Parvovirose: contaminação feco-oral (o animal cheira, lambe ou come as fezes ou até pisa, ou se esfregar onde as fezes estavam e depois se lambe ou outro animal o lambe, ou seja o contato das fezes com a cavidade oral, a boca do animal). É uma zoonose, então os humanos podem pegar através das mãos sujas e do alimento contaminado. Tem vacina disponível no mercado.

Como exemplo de vermes, tem a Ancylostoma, que é o bicho geográfico; o animal defeca na areia, em praia, parque, e os humanos tem o contato com aquele local e adquirem. Atenção para as crianças que tiram o sapato, brincam na areia, põem a mão na boa, atenção redobrada. Tem também a Toxocara, que infecta órgãos internos dos humanos e animais causando lesões e a proliferação dele, contaminação feco-oral (crianças que põe a mão na boca, alimento contaminado, mãos sujas).

Como exemplos de protozoários tem a Giárdia e a Entamoeba (ameba), ambas zoonoses de contaminação feco-oral. São doenças importantes quando o assunto é contaminação pelas fezes.

Para evitar essas doenças, os cuidados que deve ter com o animal são: manter a vacinação em dia, a vermifugação em dia, revisão com médico veterinário, banhos periódicos, não deixar o animal ter contato com as fezes de outro já é um grande passo, fazer a higienização correta do local onde esses animais vivem também.

Como é a preparação do profissional de Veterinária voltada para este assunto?

Não diretamente sobre este assunto, mas estudamos a matéria de parasitologia onde aprendemos sobre os parasitas que os animais podem adquirir e como prevenir, nesse caso específico evitando que os animais tenham contato com as fezes de outros animais para não contrair doenças e sempre que possível o contato com as fezes dele próprio, já que o animal pode se reinfestar com um parasita que ele já tem no organismo. É importante cuidar bem do seu animal, pois ele é um ser vivo que necessita de cuidados e caso o tutor não ofereça esses cuidados, pode colocar sua família em risco. Muitas doenças são zoonoses, o que significa que elas podem infectar animais e humanos, colocando em risco a nossa saúde, por isso esse assunto é uma questão de saúde pública.

Na sua opinião, qual a importância de um veículo de comunicação como o JVA, levantar esta campanha à favor da educação dos donos de animais em recolher as fezes do seu cão?

É de extrema importância. Já foi comprovado por estudos que em uma localidade onde os tutores não recolhem as fezes as doenças se perpetuam, contaminando outros animais num ciclo constante. É importante proteger seu animal e também o animal dos outros, cada um fazendo a sua parte, todos se protegem. O papel da imprensa em fomentar essa conscientização, levando esse debate para a sociedade é capaz de operar grandes mudanças.