Expedição Barco Escola promove imersão educativa e ambiental no estuário do Rio Piau

Projeto une ciência, cultura, sustentabilidade e turismo em experiência prática promovida pelo IF Baiano Valença e OSCIP Construir Melhor

No sábado, 7 de junho, uma embarcação transformou-se em sala de aula flutuante nas águas da região estuarina do Rio Piau Una. A iniciativa fez parte da Expedição Barco Escola, projeto de educação ambiental promovido pelo Instituto Federal Baiano (IF Baiano) campus Valença em parceria com a OSCIP Construir Melhor. Reunindo estudantes e professores do curso técnico em Meio Ambiente e de outras instituições, a atividade propôs um mergulho nos ecossistemas locais, na história territorial e nas possibilidades de um turismo mais consciente no Baixo Sul da Bahia.

Segundo o coordenador da expedição, o engenheiro ambiental e professor do IF Baiano, Eduardo Barcelos, a iniciativa integra o projeto de ensino “Expedição Territorial pela Bacia do Rio Piau”, realizado desde 2022. Ele explica que as ações se dão em etapas, e essa foi dedicada à parte baixa da bacia, numa vivência prática com foco na região estuarina. “A ideia foi promover para os estudantes um mergulho no modo de vida, nos patrimônios culturais, nos ecossistemas dessa região. Perceber também a importância da cultura afro-indígena e os impactos ambientais, inclusive do turismo e da ocupação desordenada. É uma experiência que permite compreender a história regional, a geografia e as relações sociais, numa educação territorializada”, explicou.

Eduardo Barcelos, coordenador da Expedição; professor do IF Baiano - Foto: Reprodução

Além da vivência prática, a expedição tem caráter científico. Desde 2022, o IF Baiano vem coletando dados ambientais da Bacia do Piau, como qualidade da água, cobertura vegetal e situação das nascentes, para criar uma base de dados públicos e acessíveis. “Estamos construindo uma plataforma virtual que será uma devolutiva para a sociedade. Esses dados vão subsidiar políticas públicas e permitir à comunidade reivindicar direitos com base em informação qualificada”, afirmou Barcelos. Segundo ele, a ciência que se faz no IF Baiano é cidadã, comprometida com o território. “Não é uma ciência abstrata, é uma ciência que tem lado. E o lado é o Baixo Sul da Bahia.”

Igor Abe, professor da UNEB - Foto: Reprodução

A bordo do Barco Escola, estiveram também profissionais de outras instituições. O engenheiro de pesca Igor Abe, professor do curso superior de Aquicultura da UNEB, destacou o valor da atividade para a formação dos alunos. “Essa primeira visita foi muito enriquecedora, do ponto de vista ambiental e cultural. Os estudantes puderam vivenciar de perto como as ações humanas influenciam a diversidade dos ecossistemas. E, para a aquicultura, é essencial entender como aliar produção e sustentabilidade.”

Tasso Menezes, professor do IF Baiano - Foto: Reprodução

O biólogo e professor de Biodiversidade do IF Baiano, Tasso Menezes, ressaltou que a expedição amplia o alcance da formação, conectando os alunos à realidade do território. “A gente tem discutido a importância da biodiversidade local, os impactos da perda de hábitat e das mudanças climáticas. Atividades como o ‘passarinhar’, por exemplo, têm ganhado força na Bahia, e Valença pode se tornar referência por abrigar espécies migratórias e endêmicas. Estamos falando de um patrimônio biológico que precisa ser reconhecido e valorizado.”

Perimar Moura, professor do IF Baiano - Foto: Reprodução

Outro professor do IF Baiano, o biólogo Perimar Moura, também destacou o caráter multidisciplinar do projeto. “O convite da OSCIP Construir Melhor nos permitiu desenvolver uma proposta pedagógica integrando ciências naturais, aquicultura, antropologia, filosofia e história. É uma oportunidade ímpar de mostrar na prática tudo aquilo que debatemos em sala de aula, com inserção direta nas comunidades e valorização da escuta local. Estivemos no Galeão e em Morro de São Paulo, conversando com moradores e observando os impactos ambientais em diferentes ecossistemas, como os manguezais.”

Anderson Epifania, professor do IF Baiano - Foto: Reprodução

Para o geógrafo Anderson Epifania, professor de Turismo e Desenvolvimento Regional do IF Baiano, a expedição também é uma ferramenta de planejamento territorial e qualificação do turismo. Ele defende que o olhar para o turismo deve ir além do modelo de massa, que beneficia agentes externos e pouco retorna à população local. “Durante o percurso, vimos o potencial do etnoturismo, especialmente em comunidades como o Galeão, que têm um patrimônio material e imaterial riquíssimo. Mas também há possibilidades no turismo gastronômico, ecológico, de base comunitária. Valença precisa ser mais do que um lugar de passagem. Tem ilhas fluviais, cachoeiras, serras e casarios históricos que contam a história da cidade e precisam ser preservados.”

Em sua fala, Anderson lembrou que o turismo é uma cadeia produtiva ampla, que pode gerar renda e qualidade de vida, se for pensada com responsabilidade social e ambiental. “Não se trata apenas de receber visitantes. Trata-se de valorizar o que temos, de garantir que o lazer e o bem-estar também sejam acessíveis ao morador. E os técnicos em meio ambiente têm um papel importante nesse processo, seja em ONGs, empresas ou no setor público.”

Secretário de Turismo de Valença, Vidalto Oiticica - Foto: Reprodução

O secretário de Turismo de Valença, Vidalto Oiticica, também acompanhou a expedição à convite dos organizadores. Para ele, conhecer o projeto Barco Escola é fundamental para pensar novas alternativas turísticas para a cidade. “Valença tem se firmado como a capital do Baixo Sul, não apenas pelas riquezas naturais e históricas, mas pelo seu papel integrador. Queremos despertar a sociedade para as possibilidades que temos, acolher quem nos visita e permitir que essas pessoas conheçam, se encantem e retornem. Projetos como esse revelam novas vertentes para o turismo regional, mais sustentável, educativo e conectado ao nosso território.”