Fisiologismo e mobilização das massas: nós gritamos mais alto Valença Agora 13 de outubro de 2016 Colunistas, Matutando A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão. (Aldous Huxley) Para começar, nos perfilhamos com o geógrafo baiano Prof. Dr. Milton Santos quando afirmou: “Sou um intelectual outsider, não participo de nenhum grupo, inclusive grupo de intelectuais, não pertenço a nenhum partido político, não respondo por nenhum credo, não pratico qualquer tipo de militância”. A região passa pelo período pré-eleitoral, onde os candidatos, seus correligionários, simpatizantes e congêneres intensificam a procura por captação de votos. A nosso ver, esse momento seria propício para se promover as discussões políticas, no verdadeiro sentido do termo, ou seja, o debate de ideias que tenham como escopo a concretização de projetos que visem a melhoria da vida em sociedade. Entretanto, observamos que essas ideias, no real sentido do vocábulo, sequer existem, ao menos numa região onde reina absoluto o fisiologismo de alguns e a ignorância por parte das massas. http://www.robsonpiresxerife.com/notas/candidatos-do-barulho Gustave Le Bon, em sua clássica obra, Psicologia das massas, disserta: “A multidão eleitoral caracteriza-se, sobretudo pela pouca aptidão para o raciocínio, a ausência de espírito crítico, a irritabilidade, a credulidade e o simplismo”. De fato, é o que observamos nas ditas campanhas pré-eleitorais, que como se disse, existe a ausência de debates de ideias; as músicas, o jingles criados pelos marqueteiros, apelam para essas aptidões das massas enunciadas por Le Bom e, por outras tantas inclinações, incluindo-se a lubricidade, etc. O foguetório, a gritaria, a repetição de frases desconexas, mas de muito significado quando o que se objetiva é a mobilização das massas, são repetidas hipnoticamente e em som ensurdecedor pelos carros-de-som a rodarem pelas ruas das cidades. Paralelo a isso, uma jovem que já concluiu o ensino secundarista ao nos reclamar da sua situação financeira, a dissemos que, a solução seria estudar-se para concursos públicos, a reação da jovem amiga veio de imediato: “Eu não me vejo estudando”. Não sabemos se esse posicionamento é revelador da letargia social vivida pela massa, ou se de outros estados psíquicos; o que podemos afirmar é que comportamentos como esse são estimulados pelas elites, pois sem leitura, a massa seguirá como está em seu estado de madorna social, o que decerto favorece a dominação, pois como se dizia na Roma: “Dormientibus non sucurrit jus” (O Direito não socorre os que dormem). Esse comportamento enunciado pela jovem, que á bem mais corriqueiro do que se consiga imaginar, pois logo em seguida, o mesmo foi dito por mais duas jovens em igual situação, como se disse é fruto da dominação, configura-se num dos ingredientes para entrar em cena, dentre outros atores sociais, um indivíduo que podemos chama-lo de “oportunista de plantão”. É esse personagem que Gustave Le Bon vai classificar como “agitador”. Convém ressaltar que não se deve confundir o termo científico “agitador” (por isso posto entre aspas), com o vocábulo arruaceiro. Segundo esse autor, cada grupo de massa é controlado por um “agitador” e já tivemos a oportunidade em verificarmos empiricamente, numa grande massa de eleitores, por exemplo, na fila para fazerem títulos eleitorais que, essa grande massa era subdividida em grupos e para cada grupo, existia um indivíduo que, lhe assistia, ou seja, distribuía refrigerantes, lanches, providenciava fotocópias de documentos, etc. Evidente que esses ditos “oportunistas de plantão”, sujeitos hábeis em engambelar o povo, não realizam seus trabalhos em vão, pressupõe-se receberem uma remuneração condizente, além do que, muito provável, irão ocupar cargos na vitoriosa administração, faz parte certamente, do que numa campanha eleitoral se chama “Grupo de Trabalho”. Assustadoramente, vemos o povo afirmar que odeia a política e os políticos, entretanto nesses momentos que antecedem as eleições, notamos uma massa frívola nas ruas, a desfraldarem enormes bandeiras, gritarias, passeatas, etc. Daí constatamos que o povo em muito se parece com as classes que o domina, pois também usam da retórica, o que vale dizer, afirmam uma coisa e procedem de modo contrário. Essa massa que perambula pelas ruas, becos e vielas, são arrebanhadas e conduzidas por integrantes do “Grupo de Trabalho”. Entendemos que esse comportamento predatório não se sustentará por muito tempo, uma vez que, os problemas socioeconômicos, ambientais, etc. se volumam e tendem a tornarem-se insuportáveis, haja vista a violência crescente e as catástrofes ambientais. Daí, a necessidade de discussões sobre ideias e propostas que visem a inclusão social, cultural e educacional. Exemplificando: Somos uma região agrícola, com um êxodo rural assustador. Para ter-se uma ideia da gravidade do problema. Ituberá é um município onde inexiste indústria, portanto um município eminentemente agrícola, no entanto, 72,40% da população moram da zona urbana. Ademais, a leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, que em boletim afirma: [...] As maiores incidências da enfermidade estão nas macrorregiões sul, extremo sul, sudoeste leste, centro-leste e oeste. Por outro lado os maiores coeficientes médios de detecção por 100.000 habitantes de 2009 a 2011 foram observados nos municípios da 5ª DIRES[...]. Doenças como a tuberculose, ainda assola a região. Enfim existe uma gama de problemas a reclamarem intervenções estatais, ao passo em que, não é crível que nada se fale a esse respeito. Evidenciamos que não buscamos uma generalização, pois existem as raríssimas exceções. Entretanto, observamos o jeito de fazer política, certamente herdado do período coronelístico e que teima em não ser erradicado, uma vez que se encontra entranhado na cultura regional, tanto de representantes quanto de representados. À semelhança do Homo neanderthalensis, ganhará sempre o lado que gritar mais alto, no caso, o tamanho e o volume do carro-de-som, a maior carreata, passeata, enfim, o barulho. Enquanto isso, os problemas sociais de séculos, seguem e em pouco tempo, o eleitor certamente esquecerá em quem votou nas últimas eleições e continuará a reclamar, ou até mesmo xingar e maldizer o político a quem deu seu voto e mais, engajou-se de corpo e alma na campanha, caso seus interesses pessoais e imediatos não forem prontamente atendidos. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website