Francisco, a fragilidade do corpo e a teimosia do espírito Jornal Valença Agora 11 de março de 2025 Colunistas Há dois anos, escrevi um artigo alertando para a fragilidade do Papa Francisco. Já naquela época, sua saúde inspirava cuidados. Caminhava com dificuldade, demonstrava sinais de cansaço e enfrentava problemas pulmonares e ortopédicos que comprometiam sua mobilidade. A lógica indicava que, em algum momento, a pressão da carga e os limites do corpo o fariam seguir o caminho de Bento XVI, seu antecessor, que aos 85 anos renunciou ao papado e viveu recluso no Vaticano até sua morte, aos 95. Mas Francisco nunca foi um homem de seguir roteiros previsíveis. Aos 88 anos, insista em continuar no comando da Santa Sé, mesmo com os desafios cada vez mais evidentes. E isso levanta uma questão lógica: até quando? A Igreja Católica já não tem o domínio de outrora. O Vaticano, que durante séculos ditou normas e influenciou governos, hoje enfrenta um mundo onde o poder e a autoridade da religião estão cada vez mais diluídos. A fé segue movendo corações, mas já não arrasta multidões como antes. A concorrência religiosa cresceu, o número de católicos diminuiu, e a própria estrutura da Igreja parece emperrada entre o conservadorismo e a necessidade de renovação. Francisco tentou imprimir uma gestão mais progressista. Falou em acolher os divorciados, debateu temas polêmicos como a união de pessoas do mesmo sexo e buscou aproximar-se da Igreja dos problemas sociais contemporâneos. Mas, internamente, encontrei uma resistência feroz. Cardeais tradicionalistas, grupos conservadores e setores que desejam manter o Vaticano na deficiência doutrinária minam sua liderança. E, no meio disso tudo, a saúde do Papa segue dando sinais de alerta. A pergunta que muitos fazem, dentro e fora da Igreja, é se essa insistência de Francisco em permanecer no cargo fortalece ou enfraquece a instituição. No passado, a figura do papa era quase intocável, um líder infalível e inquestionável. Hoje, ele enfrenta críticas abertas, oposição declarada e questionamentos sobre sua capacidade física e mental para continuar governando. O próprio Bento XVI entendeu que a fragilidade do corpo poderia comprometer sua missão e, por isso, decidiu renunciar. Preferiu sair antes que as situações o obrigassem. Francisco, ao que tudo indica, pensa diferente. Para ele, abandonar o posto significaria falhar em sua missão. Mas há um limite entre o compromisso e a teimosia. E esse limite parece estar cada vez mais próximo. O Vaticano pode evitar um novo período com dois papais vivos – um ativo e outro recluso –, mas, diante da idade avançada e da saúde debilitada de Francisco, é impossível ignorar que essa possibilidade volta a ganhar força. Será que o Papa resistirá até o fim, mesmo enfraquecido? Ou em algum momento perceberá que, às vezes, a melhor liderança é saber a hora de passar o bastão? O tempo, implacável como sempre, dará essa resposta. Enquanto isso, Francisco segue firme. Ou ao menos tente. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website