Malas Jornal Valença Agora 14 de janeiro de 2016 Carlos Magno de Melo, Colunistas Uma vez vi um filme em preto e branco. Uma mulher jovem dirigia um carro. O tempo estava cinza. Entardecer. Era uma estrada estreita e sem movimento. A moça entrou em uma curva e perdeu o controle. O carro bateu em um carvalho. A cena fica parada, com o carro amassado ao lado do carvalho. Ningém aparece. A moça abre o carro. Não está ferida. Um pouco atordoada. Ela abre a porta trazeira e tira uma mala. Pesada. Sem saber para onde ir, ela segue pela estrada. No meio da mata. Já era noite. Depois de muito andar, ele chega a uma casa. Uma mansão. Um homem a recebe e a encaminha para um quarto. Ele tenta falar com o homem, mas ele apenas se mostra solícito e sai. A moça fica no quarto. Sai para tentar falar ao telefone. Leva a mala. Sempre carregando aquela incômoda mala. Na casa, as pessaoas são gentís, mas não lhe explicam muito, ou melhor, não explicam nada. São três pessoas. Uma jovem, um homem de meia idade e um senhor. A moça, sempre carregando a mala, não encontra um telefone. As pessoas, sempre gentis, deixam a sala. Saem discretamente. A moça fica só. Encontra uma escada que desce para um porão. Teme descer ao porão. Algo a apavora. Ela corre. A mala incômoda a atrapalha e ele insiste em carragá-la. Saiu para o jardim. Corre. Depara-se com um muro alto. Tenta escalar o muro. A mala. Com a pesada bagagem ele não consegue saltar o muro. Volta para a casa. Ela, então, resolve enfrentar o medo e desce a escada. Puxa a mala escada a baixo. Há uma sala grande, com uma nesga iluminada por uma luz aconchegante, que se infiltra por uma vidraça de uma porta. Ninguém presente. A porta. A moça leva a mão à maçaneta. Apavora-se e foge. Carregando a mala. Sobe as escadas. Ofega. Senta-se ao lado da mala. Volta ao porão e na hora de abrir a porta, corre de volta e sai do porão. Cenas difícies. Penosas. A moça angustiada entre abrir a porta e sair ou permanecer na casa. Carregando pelos cantos aquela mala pesada. Finalmente, ela cria coragem, volta ao porão e abre a porta. A luz a envolve. Ela abranda o semblante e deixa-se envolver pela luz. A cena volta para o carro trombado junto ao carvalho. A câmera se aproxima e mostra o corpo da moça. Ela está morta ao volante. A mala pesada era a vida que ela relutava em deixar para entrar na outra dimensão, na vida que lhe afagou em luz. Assim é nossa vida. Carregamos malas pesadas. Problemas que relutamos em resolver. Raivas, ressentimentos, angústias, medos, frustrações e sentimentos negativos que são pesos, incômodos e que nos atrasam a vida. Afastam-nos da luz. Ano Novo sem caregar inutilidades. Perdoando para sermos perdoados e amando, amando incondicionalmete. Que assim seja. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website