Mudanças Valença Agora 14 de janeiro de 2017 Carlos Magno de Melo, Colunistas Ouvi um senhor falando, enquanto esperava para pegar a senha no banco, que os tempos estão mudados. É, realmente estão mudados. Mudados para quem? Eis a questão. Mudados para gerações mais antigas. Para os novos, os tempos são os que se apresentam. Não sentem saudades do antigamente porque não o viveram. O bom para eles é o tempo de agora. Os mais antigos têm ponto de referência e vivem a ambiguidade de estarem vivendo dois tempos distintos. O antigo, ao qual eles se aferram e os novos, que os horrorizam. O fato é que os tempos estão mudados. Ou estão mudando muito rapidamente. Na Revolução Industrial, a transição do mundo rural para a urbe se deu em um século. Hoje, as mudanças operam em piscares de olhos. Meses. Uma multidão escapa das guerras e terrores da África, para a Europa, que não lhes quer, em instantes. São semanas. Campos de refugiados pululam em desesperadas e fragmentadas esperanças que não se colam por falta de tempo. Não há mais tempo para o tempo. Tudo urge. Claro, novos modelos de sociedade estão sendo forjados. Relações se firmam e se desfazem em um período que não sedimenta nada. Mas alguma coisa sairá desse caldo efervescente. Uma nova sociedade. Pior? Melhor? Se tivermos tempo, veremos. Sim, por aqui, tivemos migrações de haitianos, de venezuelanos, enfim, o mundo movimenta-se. Costumes, línguas, hábitos, culturas, música. Tudo isso se mistura. A informação instantânea desnuda mistérios que na realidade eram apenas suposição de serem mistérios. Nada mais guarda suspense. Tudo se mostra no écran da TV. O escândalo é soterrado por outro mais atual e não menos horroroso. O rosto do corrupto é fugaz. Logo outro tomar-lhe-á o lugar. Sucessivamente. A música é instantânea. Cada um tem os seus quinze minutos de fama. As uniões se volatilizam. As famílias se transformam em uma relação múltipla. Filhos morando com irmãos que vieram só do pai ou da mãe. Filhos sendo criados por pai e pai, mãe e mãe. A família se modifica. Transforma-se. Os que não se adaptarem perecerão, ao que tudo indica. Fiquei esperando a minha vez de ser chamado ao caixa. A frase do senhor que esperava a senha, na minha cabeça: “os tempos estão mudados.”Quem está preparado para as mudanças? Eu estarei? Você estará? Quem estará? A Teoria de Darwim demonstra que os que conseguem se adaptar deixam descendentes. Sobrevivem. *Publicado na edição impressa nº 601, do jornal Valença Agora. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website