Mulheres debatem pós-trauma e discutem soluções para barrar a violência contra a mulher em discussão promovida pelo CRAM e OAB Valença Valença Agora 17 de março de 2017 Baixo Sul, Notícias Entre as soluções debatidas para diminuir a violência contra a mulher e amenizar suas consequências está a educação dos filhos e o atendimento especializado à mulher. Inserido no ciclo de atividades do ‘Março Mulher’, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher – CRAM Valença em parceria com a OAB, subseção Valença e a Escola Superior de Advocacia Orlando Gomes – ESA BA, realizou nesta quinta-feira (16), um debate na Câmara de Vereadores de Valença com o tema “O Silêncio da Inocente: Uma discussão sobre o pós-trauma da violência contra a mulher”. Foram convidadas para compor a mesa, a coordenadora do CRAM, Luciene Silva; a Conselheira Federal da OAB Bahia, Ilana Campos; a delegada de polícia de Cairu Argimária Soares; a representante da OAB ESA, advogada Itana Viana; a primeira-dama e secretária de Promoção Social de Valença, Margarete Moura; a psicóloga do CRAM, Manuella Perdigão; a diretora de Direitos Humanos de Valença, Manuela Farias; a vereadora Lorena Mercês; o Defensor Público Carlos Maia, a juíza Alzeni Barreto e Cintia Meireles, vice-presidente da OAB Valença que presidiu o debate. Advogados, psicólogos, professoras, membros do CRAM e CRAS, estudantes, representantes de órgãos, associações e movimentos feministas de várias cidades da região lotaram a plenária. Mesa presidida pela vice-presidente da OAB Valença, Cintia Meireles Margarete Moura deu às boas vindas à plenária lotada de mulheres. “Se a gente não se unir e não ir pra luta, nossos direitos ficaram guardados no papel, espero que esse evento encoraje a todas. Não vamos mais ser vítimas, vamos nos valorizar”, disse a primeira-dama de Valença. Mais tarde, em entrevista ao Jornal Valença Agora, a secretária afirmou que sua pasta se preocupa em promover políticas públicas que empoderem as mulheres. “A gente tem que lutar pela nossa valorização, se a gente não se unir como vamos conseguir essa mudança? A mudança tem que partir de nós mulheres, não podemos esperar dos outros”, considerou. Margarete Moura, primeira-dama e secretária de Promoção Social Cintia Meireles, vice-presidente da OAB acredita que é importante que as instituições discutam temas como este para cumprir um papel social. “A violência doméstica familiar no nosso município tem atingido índices alarmantes e a gente achou que era pertinente buscar uma discussão sobre isso pra comunidade abrir os horizontes, pensar nesse assunto e sempre discutir isso para que as soluções possam surgir e a gente tenha o reflexo disso”, destacou a advogada. Para o presidente da subseção, Marcelo Albuquerque, a principal finalidade da gestão da atual diretoria é estreitar laços entre a OAB. “Queremos aproximar o advogado da sociedade e buscar o interesse social e coletivo”, disse. Para isso, o advogado afirmou que conta com a parceria de diversos órgãos e entidades, entre eles a Câmara de Vereadores por ser a “casa do povo”. Antes do inicio das discussões, foram convidadas à frente, duas vítimas da violência doméstica, que relataram os maus-tratos sofridos por seus então companheiros. Falas sobre violência física e violência psicológica foi o ponto alto dos discursos dessas duas vítimas, que também compartilharam com os presentes, os traumas e a ‘volta por cima’ em suas vidas. A ‘libertação’, como é chamado o fato das mulheres deixar de ter vínculo com seu agressor, foi relatado e ovacionado pelo público que se surpreendeu com os relatos compartilhados. Professora Jacira Reis compartilha relatos de sua vida com ao público Público ouviu com atenção os depoimentos Professora Andrea Luz compartilhou experiências com as mulheres Mulheres lotaram a Plenária da Câmara de Vereadores Conselheira Federal da OAB, Ilana Campos A Conselheira Federal da OAB Bahia, Dra. Ilana Campos apresentou dados alarmantes sobre a violência contra a mulher. O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de países nesse tipo de crime. Segundo o Mapa da Violência 2015, dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Essas quase 5 mil mortes representam 13 homicídios femininos diários em 2013. Dra. Ilana apontou para a necessidade de investir na educação das novas gerações para implantar a cultura do respeito a todos e todas. “Se nós criarmos nossos filhos para ser independentes e que tenham o respeito entre si, serão cidadãos muito melhores do que nossas gerações, a ideia é levar a educação para o seio das famílias e para o seio das escolas, a ideia é cuidar das gerações que estão nascendo agora”, disse. Representante da ESA, Dra. Itana Viana A advogada Itana Viana, que é coordenadora do curso de Direito Médico e presidente da Comissão de Saúde da OAB Bahia parabenizou o direcionamento do evento no tema escolhido. “Esse é um momento de reflexão, mas de ação também!”, enfatizou a representante da ESA. Uma das doenças mais diagnosticadas no pós-trauma da violência, é a depressão, assunto comentado pela Dra. Itana. “Hoje a depressão é a doença que mais assusta o mundo inteiro. No Brasil os índices já são alarmantes, tanto que as associações de psiquiatras e psicólogos têm se mobilizado para fazer o enfrentamento da depressão”, afirmou. Itana destacou o papel da mãe na educação dos homens. “Homem machista foi criado por mulher machista. As mães tem uma responsabilidade muito grande na educação de seus filhos, em criá-los respeitando as mulheres, respeitando toda e qualquer diferença. Esses filhos é que são os autores desses feminicídios que tem ocorridos no Brasil e que tem ocupado a mídia nacional de maneira assustadora”, pontuou. Delegada de Polícia, Argimária Soares A delegada de Polícia Argimária Soares afirmou que as mulheres ainda precisam de empoderar mais e se reconhecer como ‘fortes’. Argimária defendeu a realização desse mesmo evento incluindo os homens como público-alvo e o maior envolvimento de toda a sociedade para pleitear uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. A delegada relatou ainda os altos índices de casos de violência contra a mulher no município de Cairu, classificando como “recorrente” esta demanda. Lorena Mercês, vereadora de Valença contou que indicou através do Legislativo Municipal, a constituição de uma Comissão Permanente do Direito das Mulheres, a implantação da Secretaria da Mulher e a construção de uma casa de apoio pra mulheres vítimas de violência doméstica. “Estamos aqui pra unir forças com vocês e defender os direitos das mulheres”, afirmou a vereadora. Vereadora Lorena Mercês e o Defensor Público Carlos Maia Carlos Maia, Defensor Público da Comarca de Valença aproveitou a oportunidade para informar sobre serviços da Defensoria. “A Defensoria Pública procura trabalhar em rede, está disponível pra rede e precisa da rede. Se falou aqui em saúde pública, a Defensoria Pública entende também que no pós-trauma precisa-se da saúde pública. A Defensoria Pública aqui em Valença está fazendo Às quartas-feiras, as coletas de material genético para exames de DNA, inteiramente gratuito. Temos psiquiatra que faz o atendimento às segundas-feiras. E, uma vez por mês, aos sábados estamos atendendo, especificamente, o pessoal das ilhas e da zona rural”, comentou, acrescentando que é preciso pensar sobre uma Delegacia Especializada da Mulher e uma Delegacia de Prisão Civil. Luciene Silva, coordenadora do CRAM Luciene Silva, coordenadora do CRAM Valença falou acerca do atendimento oferecido pelo Centro e apresentou algumas estatísticas de atendimentos. O CRAM promove o acolhimento e escuta qualificada, acompanhamento psicossocial e jurídico com sigilo absoluto. O equipamento visa cuidar, prevenir e enfrentar todas as formas de violência contra a mulher. De novembro de 2010 a dezembro de 2016, de acordo com Luciene, o CRAM de Valença atendeu 1.270 mulheres vítimas de violência, sendo que a maior quantidade de casos foi de violência psicológica, seguida de violência moral, patrimonial e sexual, praticadas em sua maioria por cônjuges ou namorados. Apesar dos dados, Luciene alertou que essa não é a realidade de Valença e do Baixo Sul. “Temos altos índices, só que existe ainda muito tabu e falta de informação das mulheres entenderem que violência não é só a física e que os outros tipos de violência causam danos à saúde mental e física”, concluiu. Psicóloga Manuella Pergidão falou sobre as consequências do pós-trauma A psicóloga Manuella Perdigão traçou as consequências do pós-trauma de mulheres vitima de violência, entre elas ansiedade, síndrome do pânico, depressão, suicídio, todas relacionadas à fragilidade emocional da mulher violentada. “A mulher que nos procura tem sérias dificuldades de enxergar a capacidade dela de mudar essa realidade”, mas que com o acompanhamento e orientações corretas é possível se libertar, disse a psicóloga. Dra. Alzeni Barreto, juíza em Valença, em seu pronunciamento A juíza de Direito Alzeni Conceição Alves Barreto relembrou o período em que iniciou na Magistratura e precisou estar atenta aos preconceitos por ser mulher e negra. Dra. Alzeni prestou sua solidariedade às mulheres vítimas de violência, e elencou como maior dificuldade de atendimento, a estrutura física e de pessoal disponível atualmente. “Precisamos de uma Delegacia da Mulher, ser atendida por pessoas preparadas, precisamos de forma coletiva e pessoal buscar esse objetivo, as pessoas que tem representatividade lutar por isso. Só o fato desta plateia está hoje cheia, tenho certeza que teremos muitos multiplicadores repassando que nós devemos cada dia se empoderar e procurar órgãos que ajude as pessoas nessa situação pós-traumática”, afirmou. Equipe do CRAM de Valença OAB presenteou participantes [Show slideshow] Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website