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(Amália Grimaldi, de Melbourne, Austrália. 2016)

 

Curiosa, observava aqueles peixes enormes amontoados sobre toscas bancadas de madeira que dispostas lado a lado compunham a fotografia do momento. Concepção impermanente, sem dúvida, visto que ao final de cada dia tudo seria desmontado, para então, mais uma vez, recompor-se na magia do cenário da manhã seguinte. Nunca igual.

anuncie_agoraDeti-me a observar aquelas sardinhas prateadas na transparência de seus olhos azuis, e de olhos outros tantos, aqueles, de peixe morto. De repente senti estar atrapalhando o vai-e-vem atribulado daquelas pessoas. Estavam todos com pressa. Menos eu. Encostei-me ao sólido e revelador detalhe do que sobrou da antiga cultura helenística, marca indelével do antigo povo grego em Siracusa. Nesse pedaço da ilha siciliana, um resquício volumoso da coluna do templo de Apolo. Sentia no ar um vago odor, denso e úmido. Sob as axilas do filósofo Arquimedes?! Logo imaginava. Em relances de erudição um cheiro de antiguidade conduzia-me ao rico passado histórico.

Pensando em resgatar a continuidade perdida do meu eu, na história do meu avô materno, o siciliano José Grimaldi, quando a cumprir sua saga de homem migrante, ainda no início do século dezenove, daí partiu sem volta, rumo ao mar azul da Bahia. Alcançaria a fertilidade das terras úmidas do Vale do Una. Escolheria como companheira, uma mulher valenciana, Maria Madalena de Menezes para ser a mãe de seus muitos filhos.

Passei a admirar os pedaços do que sobrou da cultura helenística- romana. O legado de Arquimedes, o sábio filósofo aí nasceu e seria morto depois pelos romanos a mando do imperador.  Meu conhecimento sobre a história greco-romana, um tanto restrito, vamos dizer assim, me fez mergulhar por instantes num mundo ilusório, de suposições teóricas, e com certeza, acredito ter chegando a arranhar a superfície dura daquele mármore mitológico.

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