O ano mais quente da história Jornal Valença Agora 10 de março de 2016 Colunistas, Janelas Abertas “Como seres humanos, estamos suscetíveis a confundir o sem precedentes com o improvável. Em nossa experiência cotidiana, se algo nunca ocorreu antes, assumimos que não vai acontecer no futuro, mas as exceções podem nos matar e a mudança climática é uma dessas exceções.” (Al Gore – Político e ativista ambiental norte-americano, Prêmio Nobel da Paz em 2007) O ano de 2015 foi marcado por grandes acontecimentos ambientais negativos, uns visíveis, outros nem tanto, porém bastante preocupantes. O principal deles, o acidente com o rompimento da barragem de fundão pertencente a empresa mineradora samarco em Mariana (que causou uma grande tragédia, matando pessoas e riscando do mapa o distrito de Bento Rodrigues) foi algo que chocou o país. Porém uma revolução muito maior, de proporções cataclísmicas está se desenrolando e muitas vezes não conseguimos perceber. Trata-se do aquecimento do planeta terra, causado principalmente pela emissão de gases de efeito estufa, com contribuição do fenômeno conhecido como El Niño. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA sigla em inglês) o ano de 2015 foi o mais quente desde que começaram a registrar a temperatura do planeta no ano de 1880. De acordo com as medições realizadas pelo órgão, a temperatura média da Terra e dos oceanos em 2015 foi a maior em 136 anos, ficando 0,9°C acima da média do século XX, que foi de 13,9°C. O recorde anterior, que era do ano de 2014, foi superado em 0,16°C. Dezembro de 2015 também foi o mês mais quente já registrado. Além do ano de 2015 ter sido o mais quente desde 1880, esta foi a quarta vez em onze anos que a temperatura anual ultrapassou o recorde anterior, algo extremamente preocupante. A Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA sigla em inglês) que monitora o clima mundial através de satélites e estações meteorológicas, confirmou que o ano passado bateu todos os recordes de calor dos tempos modernos. No fim do ano passado, a ONU já havia alertado que 2015 poderia ser o mais quente da história. Se a tendência for mantida, é bastante provável que 2016 também quebre o recorde de 2015 e se torne o ano mais quente da história. Talvez para a maior parte da população sejam apenas números ou estatísticas com pouco significado, mas verdade seja dita é uma situação que causa um enorme temor e precisa ser colocada na pauta das principais discussões em matéria ambiental no mundo. As consequências do aumento de temperatura são graves para todos os seres vivos, incluindo o ser humano. O aquecimento global tem impactos profundos no nosso planeta como a extinção de espécies animais e vegetais, alteração na frequência e intensidade de chuvas (interferindo, por exemplo, na agricultura), elevação do nível do mar e intensificação de fenômenos meteorológicos como tempestades severas, inundações, vendavais, ondas de calor, secas prolongadas, entre outros. Uma das principais consequências que será sentida pelos seres humanos será as inundações das cidades costeiras. Percebam que não estamos falando de enchentes, que apesar de serem bastante danosas, ceifarem vidas e causarem prejuízos financeiros, ocorrem em períodos de chuva e suas águas retrocedem com o final das mesmas. Estamos falando de inundações onde o mar vai ocupar lugares hoje habitados, onde parte da população terá que deixar suas casas e demais propriedades e consequentemente suas raízes históricas para migrarem para outras localidades. Cidades costeiras serão tomadas parcial ou totalmente pelas águas, segundo o Greenpeace, mais de 70% da população mundial vive nas planícies costeiras. A elevação do nível do mar iria forçar essas pessoas a mudar-se para o interior. Urge portanto um esforço coletivo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, seja por parte das pessoas, empresas e governos. Necessário se faz entender que o que está em risco é a sobrevivência de muitas espécies, inclusive do próprio ser humano. É preciso entender que a questão ambiental deve falar mais alto que uma busca desenfreada por um modelo de desenvolvimento que é excludente e predatório, que além de distribuir desigualmente a riqueza produzida, enriquecendo os mais ricos e colocando os mais pobres no fundo do abismo social, ainda polui o ar e as águas, destrói florestas e outros ecossistemas e produz lixo num ritmo cada vez mais acelerado. A questão do aquecimento do planeta deve ser encarado como questão prioritária e urgente. Devemos buscar soluções para diminuir as emissões de gases de efeito estufa ou vamos juntamente com todos os demais seres do planeta Terra sofrer as terríveis consequências de nossas atitudes, que tem se mostrado a cada dia, atitudes mais egoístas e mais insanas. Nas palavras do teólogo e ambientalista brasileiro Leonardo Boff “Não dá mais para nos iludir, cobrindo as feridas da Terra com esparadrapos. Ou mudamos de curso, preservando as condições de vitalidade da Terra ou o abismo já nos espera.”. Ramon Menezes da Silva é ambientalista, pedagogo, especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, diretor e sócio-fundador da ONG Instituto Bioeducar. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website