moacir-saraiva

Alguns idosos ficam muito mais sensíveis diante de adversidades e, portanto, antecipam até sofrimentos e, o pior, criam fatos diante de indícios, ainda que, vagos, sobretudo  quando tais sinais têm relação com a morte.

O idoso parece que, diante de determinadas circunstâncias externas que denotem dor, sofrimento, traz para si uma preocupação exagerada, talvez por estar debilitado e também considerando o peso dos anos vividos. Com essa longevidade, ele já tem consciência de que se aproxima a partida, assim, qualquer anormalidade, tais como carro do Samu parado perto de casa, barulho de sirene rondando as cercanias onde mora, informações de que algum amigo foi internado são manifestações que trazem ao idoso preocupação agigantada com seu futuro.

Poucos são os idosos com uma visão serena da vida e que vivem como se novo estivessem, não pretendendo dar uma de novinho, mas vivendo simplesmente sem dar importância nenhuma a problemas que se apresentem. O que vier ele encara, procura resolver se for possível, se não, vai conviver com tal adversidade com tranqüilidade sem olhá-la com lente de aumento, tampouco, sem ficar preso ao passado, e nem se apegar a doenças suas e de amigos, alguns procuram simplesmente viver e pronto.

A idosa mora com uma parenta que lhe tem muito zelo, esta moça, apenas dorme em casa, era uma companhia para as noites, pois durante o dia a senhora resolve seus problemas, cuida de seus afazeres domésticos sozinha, bem como as obrigações que surgem nos bancos, nos mercados, enfim ela tem uma vida independente e muito ativa.

Cuida da alimentação, com uma determinação própria de que quem gosta de viver e de forma saudável. Do café da manhã até a última refeição tudo estudado e obedecendo a prescrições de especialistas, pode-se garantir que a idosa não convive com deficiências na saúde significativas, no entanto, preocupa-se muito com a morte.

Um dia, à noite, do seu apartamento, ela ouviu grunhidos de mulheres e logo associou aos familiares da vizinha, pois esta, mais cedo fora levada, no carro da SAMU, para um hospital. Logo associou que os grunhidos, que estava ouvindo, deviam-se à morte da enferma, as filhas e demais parentes estavam chorando      Nesta noite, ela, não dormiu como no horário de costume, esperou a sua parenta chegar, pois a cabeça ficou a mil, pensando na morte, ficou agoniada, embora os gemidos tivessem desaparecido cedo. Pelas três da madrugada, a parenta chegou e ela se abraçou com a moça e, quase chorando, passou toda a informação e afirmando com convicção que a vizinha que ela vira sair cedo na ambulância teria morrido.

A moça, após ouvir tudo, sorriu e disse:

- D. Carmosina, não tem nada disso, moramos bem perto deste bendito hotel que fica aí ao lado.

A senhora, abruptamente interrompeu a interlocutora e argumentou:

- Sim e daí?

A parenta respondeu com calma:

- Funciona como motel e os barulhos estranhos que a senhora ouviu são os casais transando.

- E eu perdendo meu sono, poxa.

Foi dormir.

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