Eduardo Pereira - matutando

Eduardo Pereira

Historiador, jurista e psicanalista em formação.

 

Ao chegar-se em um supermercado ou numa feira-livre, ao observar-se toda aquela gente escolhendo seus tomates, pimentões, chuchus, batatas, cenouras, beterrabas, laranjas, etc., logo tem-se a impressão de viver-se ainda no período paleolítico, quando o ser humano não conhecia a agricultura e a pecuária e vivia da caça, da pesca e catar frutas, sendo conhecido como o homem coletor-caçador.

É estarrecedor a constatação que nesta extensa região (Costa do Dendê), não planta-se nem o tomate que se consome, diga-se o tomate porque esse produto se consegue plantar num pequeno espaço e apenas um pé fornecerá os frutos necessários para a alimentação de uma família. Dessa forma, consomem-se tomates vindos da região de Jequié, laranjas produzidas em Cruz das Almas e adjacências e assim por diante.

coletor3Recorda-se e, não faz muito tempo que, o homem do campo, o roceiro, que hoje seria o agricultor familiar, o pai do autor deste trabalho e muitos dos seus colegas por exemplo, viviam na maior fartura, abóboras, tomates de diversas variedades, pimentões, coentros , salsas, quiabos, gilós, e todos os tipos de verduras, feijões, milhos, melancias, favas, mangalôs, andus, etc., eram produzidos na propriedade rural, onde se colhiam centos e dúzias e viviam de forma tranquila, ao menos sob o ponto de vista da segurança alimentar, inclusive consumindo produtos sem a adição dos perigosíssimos agrotóxicos.

Vacas leiteiras, porcos, galinhas, frangos, os famosos “capões”, patos, perus, toda propriedade tinha uma pequena barragem, chamadas de tanques, feitos pelos próprios moradores, com um rudimentar muro de terra-batida, onde se criavam os peixes, principalmente os famosos “acarás”.

Esse ator social o roceiro, em pouco tempo migrou para as periferias das cidades, dando origem a outro tipo social – o favelado, despovoando  as roças. Na região do Maruim, tomando-se como exemplo, verifica-se que se tornou um deserto com tantas propriedades largadas a formarem taperas, pois seus antigos moradores agora  povoam as zonas periféricas das cidades de Ituberá e Igrapiúna.

coletor2Os problemas sociais, culturais e econômicos advindos desse fenômeno – o êxodo rural, são incalculáveis, já estamos vivendo os profundos reflexos desse fato,  a médio e a longo prazo, não consegue-se sequer imaginar-se  os aprofundamentos dos problemas e suas nefastas consequências, tais como o aumento da violência urbana, desemprego, as mais diversas privações, etc. Além do que, fora da terra, o  homem do campo perdeu completamente as técnicas de sobrevivências na roça, pois essas técnicas eram transmitidas de geração em geração pela oralidade. São conhecimentos seculares de sobrevivência na roça, desaparecendo sem que ninguém nada faça para conter a derrocada do homem do campo.

Agora a “bola da vez” é o feijão, cuja alta nos preços  “espetacularizada”  pela mídia, sem aprofundar nas causas, apavora a população, essa elevação no preço dessa leguminosa, provavelmente tem muitas causas, entretanto, não se pode desprezar que, por exemplo na roça quem planta um quilo de feijão, seguramente, colherá mais de 100 quilos que alimentarão uma família durante aproximadamente um ano, e como se disse muitas pessoas deixam seu “pedacinho de terra”, onde poderiam cultivar e criar seus filhos em paz, para aventurarem-se nas periferias das cidades expostos às mazelas pertinentes à urbanização desenfreada.

A principal razão da alta no preço do feijão, é a destruição em massa de um ator social de fundamental importância na região – o roceiro que vivia com sua família,  na sua pequena propriedade rural, plantando, criando e vivendo na fartura. Aliado a isso, o homem da cidade, vergonhosamente, não se dá ao trabalho de plantar coentro e salsa num caqueiro. Assim vamos vivendo: de um lado, uma elite gananciosa de nariz “empinado”, e do outro lado, um povo “gingoso”, que não conseguem ao menos plantar o que comem.

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