O mundo enlouqueceu. E esqueceu de avisar. Jornal Valença Agora 15 de maio de 2025 Colunistas Tem coisa que nem a mais criativa das criações do genial Stanislaw Ponte Preta conseguiria prever. E olha que o homem escreveu o Festival de Besteiras que Assola o País numa época em que o Brasil já dava sinais claros de que sabia ser ridículo com maestria. Mas o que dizer de adultos que adotam bonecas como se fossem filhos, organizam festas de batizado para brinquedos, simulam partos para bonecos de vinil, e ainda acham razoável agendar consultas pediátricas para um pedaço de silicone com olhos de vidro e cílios postiços? Diz a sabedoria popular que cada doido com sua mania. Mas agora a coisa passou dos limites. Está virando epidemia. Das brabas. Estamos falando da febre do “bebê Reborn”, uma aberração do bom senso que ganhou força nas redes sociais. Aliás, onde mais? A rede social, que já foi território de gatinhos fofos e receitas de bolo, virou espaço de delírio coletivo. São vídeos com vozinha infantil, adultos dando mamadeira para um boneco, comprando berço, dando vacina de brinquedo, e o pior: exigindo guarda compartilhada em caso de separação conjugal. Oi? Enquanto isso, no mundo real — que, aliás, parece estar sendo deixado de lado como se fosse só uma distração secundária — milhares de crianças de verdade esperam por adoção, vivem em abrigos, algumas sequer sabem o que é um colo de mãe. Animais de verdade, famintos e esquecidos, se acumulam em centros de zoonoses implorando por um lar, um pouco de carinho e talvez um cobertorzinho velho. Mas não. A prioridade é pentear o cabelo da boneca. Trocar a fralda do vinil. Ensaiar voz de neném para postar no TikTok. Se possível, fazer um chá de revelação para o plástico. Essa inversão de valores, esse abandono do sensato, nos faz perguntar: será que não está na hora de colocar antipsicóticos na água das cidades? Pelo menos até que o juízo resolva dar as caras novamente. A coisa é tão surreal que talvez o Ministério da Saúde tenha que criar um protocolo novo: “Síndrome de Afeto Transferido para Objetos Inanimados com Necessidade de Aceitação Virtual Crônica.” Ou então, mais direto: F.O.F.A. — Falta de Ocupação, Fadiga de Afeto. É claro que não estamos aqui para julgar quem compra um Reborn por razões emocionais profundas. A solidão existe, a carência também. Mas quando o jogo vira teatro público de insanidade, com direito a consultas médicas para bonecas e briga judicial por guarda de brinquedo, é sinal de que perdemos o freio. E o juízo foi junto. Que Stanislaw nos perdoe, mas essa fase do Brasil (e do mundo) nem ele conseguiria satirizar — porque já virou auto-paródia. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website