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‘Coma as verduras ou então eu trocarei a senha do wi-fi!’

Internet e memória - Sem esta fenomenal tecnologia contemporânea, essa caixa de pandora, muitas vezes somos obrigados a viajar numa áspera esteira rolante, verdadeiro ativo ‘esfoliante’, o que se pode chamar de ‘memória digital’.  Quantas vezes, e por obrigação, vigilantes, estamos a deletar contatos telefônicos e fotos nossas online. Mas o vírus, contagiante, estará sempre presente, seria impossível evitá-lo. A perfeição do silicone, entretanto, não requer perfeito ‘deletamento’. E mais uma vez, achamo-nos envolvidos, e embebidos de maneira tal, que nos devemos nos inclinar mais para tecnologias insurgentes, e assim nos desculpamos, só para ajudar a eliminar problemas derivados dessa hodierna tirania de engenhosa parafernália.

Lendo textos de Alberto Einstein, lembro-me agora de uma afirmação onde segundo ele não deveríamos nunca memorizar assuntos os quais não seriam uteis ao momento, nem ao futuro. De fato, a memória humana aparenta ser também um profundo ato inventivo. Portanto, deveremos tratar bem do nosso hipocampo evitando-se volume de códigos e imagens desnecessárias.

Na verdade nós nos tornamos simbióticos com as ferramentas do nosso computador, o que seria uma extensão daquela original tendência de descarregar a rede de informação da memória. De tal jeito que, quando perdemos a conexão da internet, seria como se perdêssemos um amigo. Explicavelmente, a sensação de perda será inevitável. Frustrante. Talvez por isto justifique-se o porquê de estarmos permanentemente conectados ao aparelho e à rede. Vivemos num estado de permanente escravidão!

Observando o quintal molhado pela chuva de ontem, vejo que os caracóis voltaram, e silenciosamente seguem a traçar caminhos de vida na terra umedecida deixando um rastro gosmento de passagem. Nessa espiral logarítmica, aprendo no traçado de linhas imperturbáveis, a geometria do tempo no espaço. Sinto também que carregamos nas costas o ‘peso da pedra do caminho’, pois que, na sua difícil remoção, interpretamos a metáfora da  nossa incapacidade, a de poder recompor eventos novos. Seguramente, o tempo, por ser inexoravelmente irreversível, este não poderá ser contido. Assim como um fino pó é a irretornável areia branca do ‘kronos’, que incontida está a fugir entre nossos dedos. Eis aqui um universo grandioso, sílica abundante, maior do que qualquer palavra!

*Publicado na edição impressa nº 601, do jornal Valença Agora.

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