O Rei Thamus e a minha torrada queimada Valença Agora 16 de janeiro de 2017 Amalia Grimaldi, Colunistas Ser adulto ou ser criança. Histórias contadas, fantasias exacerbadas. Na verdade cresci acostumada, não ao computador e a internet, mas a outdoors, sinalização de tráfego à beira de estradas, letreiros de propaganda, etc. Sou do tempo de pensar. E assim, quando não havia internet, acompanhava mudanças no bairro onde morava e no comportamento das pessoas no agito da cidade. Artigos, reportagens e fotografias em magazines e jornais da época, e indubitavelmente, tanto o cinema como o teatro, também me ajudariam a impulsionar comportamentos e assim produzir minhas próprias conexões através de fatos personalizados. Sem dúvida, sinto uma quebra de sintonia nesses dias velozes, pois comensurável aumento de memória interativa está a nos conduzir a um absoluto estado de amnésia. A propósito, parei com a mania impulsiva de explorar no Google. Verifico que a minha memória não seria capaz de armazenar tanta informação ao mesmo tempo, por vezes levando-me até ao esquecimento. Mas, compulsivamente, sempre retorno ao procurador do Google. Argumentando este meu texto, cito oportuna passagem da história contida na mitologia egípcia, onde Íbis seria o nome do sábio Teuth. Tendo este inventado números e aritmética, também geometria e astronomia, o cubo de dados e, o mais importante, inventou o código de letras. O rei do Egito a esse tempo era Thamus, que vivia na parte alta da cidade de Thebas. Lá um dia, Teuth veio até a sua presença a fim de mostrar-lhe a sua mais nova invenção. Falava ele que seria de grande impacto para o povo do Egito. Porém incrédulo, Thamus indagava para que serviriam aqueles códigos, e que levaria muito tempo para memorizá-los. Pacientemente, Teuth então, explicou que isto levaria o povoa usar a memória e assim o tornaria mais sábio. Um verdadeiro elixir para o cérebro, o alfabeto fonético seria um grande presente para o povo egípcio. A nova tecnologia da escrita poderia fazer a memória dos egípcios mais poderosa e acrescentaria mais riqueza ao patrimônio. Então, o rei Thamus, enfaticamente lhe respondeu: ‘Oh soberano e genial Theuth, esta sua descoberta certamente criará esquecimento a alma dos aprendizes . Sim, isto porque eles não usarão a própria memória, eles apenas confiarão nos caracteres externos escritos e não lembrando deles próprios. Esta especifica invenção que vós tendes descoberto seria uma ajuda, um apoio, não à memória, porém à reminiscência, e assim darias aos teus discípulos, não a verdade, mas a semelhança da verdade. O povo aparentará onisciência, mas geralmente nada saberá’. Bem, aqui convenhamos que informação e conhecimento são duas coisas bem distinguíveis. A propósito, acho que o meu hipocampo encontra-se repleto de informação, não dando espaço ao conhecimento real. E assim, começo a esquecer de coisas mais imediatas. Esquecida, a minha torrada queimou de vez, porém mandou-me um aviso sinalizador: fumaça no ar e um intenso cheiro de pão queimado. Então, achei melhor me reprogramar... *Publicado na edição impressa nº 602, do jornal Valença Agora. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website