PAIXÃO É PAIXÃO Jornal Valença Agora 22 de agosto de 2016 Colunistas, Moacir Saraiva Os brutos também amam. Esta é uma assertiva com um problema semântico substantivo, é o que se chama de “paradoxo semântico”. Do ponto de vista estrutural a frase está correta, mas quando se vai para a significação, é gerado um problema que, muitas vezes, causa um mal estar danado e, em alguns casos, até frases com significados preconceituosos. Pela frase acima, parece que só os polidos, as pessoas que se amoldaram ao mundo romântico são capazes de externar o amor. Assim sendo, aqueles que não passaram por um rito, no qual tenham sido levados a terem um coração eivado de conceitos românticos, carregados de polidez, são predestinados a jamais experimentarem o que é o amor, não sabendo externar, tampouco receberem afeto. Há um caso interessante, no qual, o sujeito viveu sempre na roça, com poucos amigos e também não se via em seus gestos manifestações de afeto, visto pelo olhar do homem citadino e educado. Cresceu, muito solitário, casou-se, pois na roça ninguém fica solteiro, a não ser os casos de pessoas com muita deficiência mental, fora isso, tudo se arruma. Vivia com a esposa de uma forma bem interiorana, a dona da casa ficava cuidando dos afazeres domésticos e o sujeito ia para a lida a fim de buscar o sustento. Em pouco tempo de casado, vieram filhos, cinco, e a vida era tocada com tranqüilidade, os meninos, desde novos, desempenhavam funções para ajudar tanto ao pai como também à mãe. As duas meninas se esmeravam na ajuda à mãe e os meninos pendiam para as tarefas do pai. Os filhos cresceram e cada um tomou seu rumo. Os pais ficaram sós e ninguém sabe o porquê, em um dia chuvoso, a mãe abandou o lar e foi morar com um dos filhos. O sujeito se transformou, antes um homem que ia para a lida cedo, voltava meio dia, saia no início da tarde e só voltava ao entardecer, agora, saia pouco, beirando seus sessenta anos, trabalhava pouco e chorava muito. Diariamente, ia a casa do filho, a fim de implor à esposa para que ela voltasse, chorava que nem uma criança a fim de ter o retorno da companheira. Ela se mantinha renitente, ele, se já era sisudo, ficou carrancudo, falava muito pouco, mas chorava bastante. Após um ano neste sofrimento, não parava de insistir para o retorno da esposa. Em uma destas investidas, que permaneciam tão fortes como a primeira vez, ela o ouviu e disse que iria pensar no retorno. Este gesto simples já foi motivo para ele trabalhar mais, para ele conversar mais, sorrir mais, enfim, o sujeito voltou a ser mais alegre do que foi ao longo de toda a sua vida.Começou a se arrumar mais, mantinha a casa organizada, antes com o aspecto de uma tapera. Um dia ele foi ao encontro da esposa e ela marcou a data para retornar e o horário, voltaria após o almoço. No dia exato, o sujeito, sumiu de casa cedo e só retornou meio dia. A mulher veio trazida por dois filhos, em um dia ensolarado, quando ela chegou em sua casa ficou encantada com a recepção, todos os cômodos estavam repleto de flores tiradas do campo, rosas espalhadas pelo chão, pelos móveis, pela cama, enfim, a casa estava colorida com rosas vermelhas, brancas, amarelas. Ao entrar em casa ela começou a chorar e ele também e se abraçaram. Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website