Por Givaldo Ferreira Couto - Agente de Atividades Agropecuárias. Licenciado em Pedagogia, pós-graduado em Gestão Pública.

Introduzido por acaso no Sul da Bahia, o cacau desenhou perspectivas de pujança, aguçando no espírito humano, aspirações e anseios por um futuro envolto em riqueza e poder. Permeou o século XX como uma das principais atividades econômicas, revelando-se com insofismável importância na geração de receitas, para sustentar vidas, alimentar esperanças de produtores e de todos os envolvidos na sua cadeia produtiva.

No decurso do século passado, fatos históricos e acontecimentos nortearam os rumos políticos, econômicos e sociais no mundo e no Brasil. Abordagens sobre a produção de cacau serão abalizadas, enquanto atividade econômica, no contexto dos mais diferentes episódios que se estenderam durante o século XX. Antes, devo informar que segundo os dados do IPEADATA, a exportação de cacau teve inicio em 1821 com 1.016 (t), em pleno século XIX quando a soma de todo o cacau brasileiro exportado, totalizou 353.707 (t), correspondendo a uma média anual de 4.477 (t).

De 1901 a 1985, a curva da produção de cacau manteve-se ascendente, como mostra a tabela 01.

Tabela 1: Produção brasileira, quinquenal de Cacau no século XX
Ano Produção Ano Produção
1901 17.100 1965 160.823
1905 22.300 1970 197.061
1910 30.200 1975 281.887
1915 44.200 1980 319.141
1920 66.883 1985 430.789
1925 59.756 1990 356.246
1930 68.729 1995 296.705
1935 127.166 2000 196.788
1940 128.016 2005 208.620
1945 119.656 2010 235.889
1950 152.902 2015 278.299
1955 163.223 2020 269.731
1960 160.823
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados do IPEADATA, 2021.

O século XX iniciou com produção de 17.100 (t) de cacau, que evoluiu na primeira década para 30.200 (t), em 1910. Vários foram os acontecimentos daquele período histórico, a começar com a Primeira Guerra Mundial no início do século, com reflexos negativos sobre preços e exportações. Ainda pior, do que o conflito bélico, foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, que gerou a Depressão Econômica em todo mundo. A crise gerada por esse episódio obrigou a criação do Instituto do Cacau da Bahia em 1931, pelo governo do estado, para atendimento e suporte econômico aos cacauicultores quanto à organização e comercialização da produção, antes, atribuída aos intermediários.

O Brasil passou a produzir 127.166 (t), em 1935, superando o limite da centena de milhar. No inicio dos anos 1940 quando a produção nacional alcançou 128.016 (t), o mundo foi surpreendido pela Segunda Guerra Mundial, que gerou outra crise econômica, afetando a exportação da commodity e outros produtos.

A CEPLAC foi criada em 1957, quando a produção de cacau alcançou 164.556 (t), enquanto o processo de industrialização que fazia parte da política desenvolvimentista do Governo Juscelino Kubitschek, desenvolvia-se no Sudeste sob a égide do Plano de Metas.

Algum tempo depois da sua estruturação, a CEPLAC consolidou-se com a instalação do Centro de Pesquisas em 1962 e da Escola Média de Agropecuária da Região Cacaueira, em 1965. Tornaram-se perceptíveis as mudanças no cenário socioeconômico da região, que se desenvolvia sob os efeitos das recomendações oriundas das pesquisas e disponibilizadas aos produtores, através dos métodos de extensão rural.

Na década de 70, precisamente, em 1979, a produção de cacau chegou a 336.326 (t). Efeito da mudança de uma cultura atrelada ao extrativismo, para um paradigma de manejo tecnificado, com o uso de insumos, seguindo os preceitos sugeridos quanto às correções de acidez dos solos, fertilizações, combate às pragas e formação de novos cacauais com sementes híbridas.

Vale lembrar que nada disso seria possível, sem a extensão e o crédito e rural, protagonizados em convênio, pela CEPLAC e Banco do Brasil. Sob os efeitos das orientações técnicas recomendadas, os cacauais aumentaram, significativamente, a capacidade produtiva durante a década de 80, culminando em 1986 com a maior produção do século XX, 458.754 (t).

O ano de 1987 marcou o declínio do cacau, por conta da estiagem que se abateu sobre a região cacaueira, diminuindo, vertiginosamente, em 28% a produção que foi 329.266 (t). A estiagem de 1987, segundo Almeida (s.d.), provocou uma drástica redução na produção de cacau, porque houve coincidência com a fase crítica do ciclo de produção, da pós-fecundação da flor até a fase de enchimento das sementes.

Antes mesmo de se recuperar nos anos subsequentes, surgiu a Vassoura de Bruxa, em 1989, que junto com outros fatores, inflação alta e preços baixos, potencializaram ainda mais a queda da produção, registrando entre 2000 e 2004 produções anuais, abaixo de 200.000 (t). Em 2015 o cacau produziu 278.299 (t), a maior do século XXI, dando sinais de recuperação quando em 2016, outra estiagem assolou a região, reduzindo a produção para 213.871 (t). Finalmente, em 2020 a produção brasileira de cacau alcançou 269.731 (t).

Asseveramos ao concluir, que o cacau representa o símbolo mais emblemático do sul do estado, enquanto atividade econômica que sempre incrementou o desenvolvimento socioeconômico em vários municípios, gerando empregos diretos e indiretos. Sempre se revestiu de grande importância, principalmente, por garantir a geração de rendas e bem estar social, nos panoramas dos 69.022 estabelecimentos rurais onde o cacau é produzido na Bahia.

 

 

REFERÊNCIAS

IPEADATA. Dados macroeconômicos. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 15/04/2022

ALMEIDA, H. A. de. Efeitos da Estiagem de 1987 sobre a produção de cacau.

CEPLAC/CEPEC/CLIMATOLOGIA. Disponível em:<file:///G:/4828.pdf>. Acesso em: 20/04/2022

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