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É possível olhar para uma cidade e identificar seus potenciais econômicos, culturais, sociais e ecológicos. A vocação de uma cidade dependerá destes potenciais e das políticas públicas voltadas para a utilização destes potenciais em benefício da população local.

A vocação de uma cidade pode ser identificada pelas atividades econômicas que a caracterizam, como o comércio, os serviços ou a intermediação financeira, além das potencialidades do território, como os espaços naturais e históricos.

A vocação para o turismo resulta das potencialidades naturais e antrópicas existentes, e deverá estar alicerçada no levantamento destes fatores que representam a capacidade da localidade para desenvolvê-las.

Um bom exemplo é a cidade de Penedo-AL, uma das mais antigas do país, onde se decidiu por investir no resgate histórico e cultural da cidade e a sua importância na formação socioeconômica do Nordeste. No passado por estar às margens do rio de São Francisco abasteceu Alagoas, Sergipe e até a Bahia. O projeto conduziu a uma revalorização dos artistas santeiros, escultores em madeira com temas sacros, cuja história remonta ao século XVII. Segundo o secretário da Cultura e Turismo a escolha da metodologia do resgate cultural baseou-se na economia cultural criativa: a alma de Penedo.

O quociente locacional, um método econômico de identificar o nível de especialização dos setores econômicos de uma localidade, também precisa ser quantificado.

No caso específico de Valença é preciso inicialmente identificar as potencialidades do seu território, espaços naturais e históricos, cultura, atividades econômicas, as crenças e habilidades de seus habitantes, a percepção e o sentimento de pertencimento que estes têm da cidade.

Na minha forma de ver Valença tem muitas características únicas e a faz ímpar no Brasil. Relaciono a seguir o que considero como características únicas de Valença:

  • Cultivo de cravo, pimenta do reino, pimenta da Jamaica, guaraná, dendê, urucum, piaçava e cacau;
  • Produção de: azeite de dendê, farinha de mandioca, peixes, camarões e mariscos;
  • Mantinha de carne de porco;
  • Ponto de acesso às ilhas e praias da região;
  • História conectada à Capitania Hereditária de Ilhéus – primeiro local da tentava de fixação em terra;
  • Tentativa de ocupação pela França – invasão ocorrida no Morro de São Paulo;
  • O uso da navegação como meio de locomoção – o bloqueio dos nativos;
  • Polo de carpintaria naval;
  • Uma das primeiras fábricas de tecido da Brasil;
  • População com forte ascendência africana;
  • Forte influência africana e índia – culinária com forte presença de farinha, dendê, coco e coentro;
  • Cultura tradicional de subsistência com forte herança dos povos originários: agricultura de pousio;
  • Na parte mais antiga da cidade predomina a arquitetura portuguesa com ruas estreitas e tortuosas;
  • Dendê como economia, gastronomia e conexões religiosas;
  • Linguagem típica com traços hispânicos presentes: muintcho, oitcho...

Assim vejo a cidade de Valença por meio da ótica de suas Atividades e Potencialidades:

Na agricultura: cultivo de especiarias: cravo da Índia, pimenta do reino, pimenta da Jamaica, urucum e guaraná – além das possibilidades para cardamomo e patchuli; cultivo tradicional: dendê, cacau, coco e piaçava; culturas de sobrevivência: mandioca, aipim, inhame e quiabo, cultura de frutas: banana, mamão, laranja, limão, jaca e manga;

Na aquicultura e pesca: camarão, peixes e mariscos;

Na produção industrial: tecidos, azeite de dendê, farinha de mandioca e pré-fabricados de concreto;

Nos serviços: bancos, lojas diversas, carpintaria naval, transporte por lanchas para as ilhas próximas, transporte por ônibus para as localidades próximas como Guaibim e Jequiriçá, jornal e estações de rádio, fábrica de gelo, pequenas operadoras de turismo, hotéis, garagens para abrigar veículos que se destinam às ilhas, lojas e supermercados, feira livre, mercado de peixes

Na cultura: Teatro e Academia de Letras;

Na educação: escolas de educação básica e fundamental, faculdades e Institutos Federais.

Por amor à Valença, à preservação das riquezas e das características únicas da cidade e região, como cidadão e como proprietário de RPPN Água Branca a primeira do Baixo Sul quero apresentar minha sugestão de trabalho para a gestão municipal que se inicia.

  • Sugiro inicialmente que as Secretarias de Cultura e de Turismo façam um projeto a duas mãos para constituir o Centro Cultural de Valença. Neste Centro estará a estratificação do que é mais significativo para todo cidadão de Valença. Uma forma de enaltecer o que somos e o que temos de particular e especial. Imagino um espaço com amostras das especiarias produzidas com fotos das culturas, fotos dos locais com as belezas cênicas do município, os escritores nativos e sua obra, pintores, escultores, artistas de todas as naturezas, artesanato local, carpintaria naval com fotos, registros históricos da cidade, enfim um local onde o turista seja enriquecido com conhecimentos e informações sobre nós e nossa região. O espaço pode conter também guichês com as operadoras de turismo locais e os possíveis passeios.
  • Sugiro também estabelecer a Visão da cidade. Que deverá ser o cenário do futuro desejado para Valença. Deve ser clara, objetiva e capaz de mobilizar os munícipes e os demais interessados na cidade. Esta é uma forma de criar, desenvolver e valorizar os sentimentos de orgulho e de pertencimento à cidade. Estes sentimentos são decisivos para orientar os negócios ligados à Cultura e ao Turismo.
  • Sugiro ainda, por causa da praticidade e dos baixos custos envolvidos, usar as redes sociais como instrumento e pesquisa e de comunicação com a população. A maioria absoluta das pessoas se utiliza das redes no cotidiano. Como a nova gestão da cidade começou recentemente e se utiliza do orçamento herdado da gestão anterior, creio que os recursos destinados ao Turismo e à Cultura possam não ser suficientes para um novo enfoque sobre estas questões.
  • Sugiro aplicar à população e ao turista um questionário aberto com as questões como as relacionadas a seguir. Estas informações nos ajudarão a orientar as Políticas Públicas e a definir as estratégias globais voltadas para o crescimento da cidade, positivar a sua imagem junto ao cidadão e destacá-la dentre as demais cidades da Bahia. Olhando sob o aspecto do ecoturismo, por exemplo, este só é considerado ecoturismo quando a atividade turística gera conservação da natureza e impactos positivos as comunidades receptoras e esta é a expectativa que tenho quando vejo o cidadão orgulhoso de pertencer a uma comunidade.

Para as pessoas da comunidade:

  • Cite as 3 coisas que você mais gosta em Valença.
  • Quais são as 3 maiores belezas de Valença?
  • Quais são os 3 pontos positivos da cidade?
  • Quais são os 3 pontos negativos da cidade?
  • Como você acha que o turista vê Valença?
  • Cite 3 coisas que você espera do Poder Público?
  • Cite 3 coisas que a Prefeitura pode fazer para receber melhor o turista.
  • Cite 3 coisas que você pode fazer para ajudar na gestão da cidade?

Para as pessoas que nos visitam:

  • Cite as 3 coisas que você mais gosta em Valença.
  • Quais são as 3 maiores belezas de Valença?
  • Quais são os 3 pontos positivos da cidade?
  • Quais são os 3 pontos negativos da cidade?
  • Cite 3 coisas que podem ser feitas para receber melhor o turista.
  • Você foi bem recebido?
  • Você retornará?

Por fim gostaria de acrescentar que o cultivo de especiarias faz de Valença A CAPITAL DO CRAVO DA ÍNDIA e que o CAMINHO DAS ÍNDIAS tanto procurado por Portugal existe e está aqui em Valença que também é a CAPITAL BRASILEIRA DAS ESPECIARIAS

Acredito que valorizar o que temos e o que somos será é um meio para orientar os negócios de Valença. Desta forma podem ser desenvolvidas muitas ações voltadas para o turismo local e para o suporte ao turismo nas ilhas e praias do Baixo Sul.

Quero reforçar ainda a importância do sentimento de pertencimento e de orgulho para com a cidade, sua história, sua cultura e, acima de tudo, o que nos diferencia das outras cidades. Tenho observado nas falas das pessoas com que convivo um pessimismo e uma percepção negativa quanto à cidade, como se aqui nada houvesse de bom. Isto precisa ser trabalhado por esta razão me refiro sempre ao amor à terra e ao orgulho de pertencer à Valença. Vivemos uma época onde a anomia gerada pelas redes sociais faz com que todos vejam as mesmas coisas o que traz como consequência a perda da identidade. É preciso estar atento para não permitir que a perda do amor à terra leve ao pessimismo e venha a interferir na vida da comunidade tornando cada cidadão um caramujo dentro do seu casco.

Não sei se respondi com clareza à questão: “Qual é a Vocação de Valença?” Elenquei os elementos que considero fundamentais para compreender a vida de uma comunidade e os laços que unem as pessoas à terra. Estou à disposição para contribuir para a comunidade que descobri nos idos dos anos 80! Flávio Diniz Fontes RPPN Fazenda Água Branca Valença, 09 de fevereiro de 2025.

SOBRE O AUTOR - Flavio Diniz Fontes

  • 77 anos
  • Natural de Morrinhos-GO
  • Proprietário da Fazenda e RPPN Água Branca, desde 1984
  • Engenheiro Mecânico graduado pela Universidade de Brasília em 1975
  • Especialista em Gestão de Negócios pela Faculdade de Administração da UFBA
  • Trabalhou na Petrobras por quase 40 anos nas áreas de projeto, construção e montagem, manutenção, planejamento, programação e controle, gestão e organização
  • Membro da Diretoria e do Conselho Fiscal do IDEIA por várias gestões
  • Presidente do Conselho Deliberativo da PRESERVA – Associação dos Proprietários de Reservas Particulares da Bahia e Sergipe
  • Consultor Voluntário do GESPÚBLICA de 2010 a 201212 nas Secretarias de Estado: Planejamento, Educação, Administração e Meio Ambiente além de outras instituições públicas como a Prefeitura de Vera Cruz
  • Professor de Gestão Estratégica da Produção no curso de Engenharia
  • Membro da Diretoria e do Conselho Fiscal da Associação dos Engenheiros da Petrobras por vários períodos

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