Qual é a vocação de Valença-BA? Jornal Valença Agora 14 de abril de 2025 Colunistas, Janelas Abertas É possível olhar para uma cidade e identificar seus potenciais econômicos, culturais, sociais e ecológicos. A vocação de uma cidade dependerá destes potenciais e das políticas públicas voltadas para a utilização destes potenciais em benefício da população local. A vocação de uma cidade pode ser identificada pelas atividades econômicas que a caracterizam, como o comércio, os serviços ou a intermediação financeira, além das potencialidades do território, como os espaços naturais e históricos. A vocação para o turismo resulta das potencialidades naturais e antrópicas existentes, e deverá estar alicerçada no levantamento destes fatores que representam a capacidade da localidade para desenvolvê-las. Um bom exemplo é a cidade de Penedo-AL, uma das mais antigas do país, onde se decidiu por investir no resgate histórico e cultural da cidade e a sua importância na formação socioeconômica do Nordeste. No passado por estar às margens do rio de São Francisco abasteceu Alagoas, Sergipe e até a Bahia. O projeto conduziu a uma revalorização dos artistas santeiros, escultores em madeira com temas sacros, cuja história remonta ao século XVII. Segundo o secretário da Cultura e Turismo a escolha da metodologia do resgate cultural baseou-se na economia cultural criativa: a alma de Penedo. O quociente locacional, um método econômico de identificar o nível de especialização dos setores econômicos de uma localidade, também precisa ser quantificado. No caso específico de Valença é preciso inicialmente identificar as potencialidades do seu território, espaços naturais e históricos, cultura, atividades econômicas, as crenças e habilidades de seus habitantes, a percepção e o sentimento de pertencimento que estes têm da cidade. Na minha forma de ver Valença tem muitas características únicas e a faz ímpar no Brasil. Relaciono a seguir o que considero como características únicas de Valença: Cultivo de cravo, pimenta do reino, pimenta da Jamaica, guaraná, dendê, urucum, piaçava e cacau; Produção de: azeite de dendê, farinha de mandioca, peixes, camarões e mariscos; Mantinha de carne de porco; Ponto de acesso às ilhas e praias da região; História conectada à Capitania Hereditária de Ilhéus – primeiro local da tentava de fixação em terra; Tentativa de ocupação pela França – invasão ocorrida no Morro de São Paulo; O uso da navegação como meio de locomoção – o bloqueio dos nativos; Polo de carpintaria naval; Uma das primeiras fábricas de tecido da Brasil; População com forte ascendência africana; Forte influência africana e índia – culinária com forte presença de farinha, dendê, coco e coentro; Cultura tradicional de subsistência com forte herança dos povos originários: agricultura de pousio; Na parte mais antiga da cidade predomina a arquitetura portuguesa com ruas estreitas e tortuosas; Dendê como economia, gastronomia e conexões religiosas; Linguagem típica com traços hispânicos presentes: muintcho, oitcho... Assim vejo a cidade de Valença por meio da ótica de suas Atividades e Potencialidades: Na agricultura: cultivo de especiarias: cravo da Índia, pimenta do reino, pimenta da Jamaica, urucum e guaraná – além das possibilidades para cardamomo e patchuli; cultivo tradicional: dendê, cacau, coco e piaçava; culturas de sobrevivência: mandioca, aipim, inhame e quiabo, cultura de frutas: banana, mamão, laranja, limão, jaca e manga; Na aquicultura e pesca: camarão, peixes e mariscos; Na produção industrial: tecidos, azeite de dendê, farinha de mandioca e pré-fabricados de concreto; Nos serviços: bancos, lojas diversas, carpintaria naval, transporte por lanchas para as ilhas próximas, transporte por ônibus para as localidades próximas como Guaibim e Jequiriçá, jornal e estações de rádio, fábrica de gelo, pequenas operadoras de turismo, hotéis, garagens para abrigar veículos que se destinam às ilhas, lojas e supermercados, feira livre, mercado de peixes Na cultura: Teatro e Academia de Letras; Na educação: escolas de educação básica e fundamental, faculdades e Institutos Federais. Por amor à Valença, à preservação das riquezas e das características únicas da cidade e região, como cidadão e como proprietário de RPPN Água Branca a primeira do Baixo Sul quero apresentar minha sugestão de trabalho para a gestão municipal que se inicia. Sugiro inicialmente que as Secretarias de Cultura e de Turismo façam um projeto a duas mãos para constituir o Centro Cultural de Valença. Neste Centro estará a estratificação do que é mais significativo para todo cidadão de Valença. Uma forma de enaltecer o que somos e o que temos de particular e especial. Imagino um espaço com amostras das especiarias produzidas com fotos das culturas, fotos dos locais com as belezas cênicas do município, os escritores nativos e sua obra, pintores, escultores, artistas de todas as naturezas, artesanato local, carpintaria naval com fotos, registros históricos da cidade, enfim um local onde o turista seja enriquecido com conhecimentos e informações sobre nós e nossa região. O espaço pode conter também guichês com as operadoras de turismo locais e os possíveis passeios. Sugiro também estabelecer a Visão da cidade. Que deverá ser o cenário do futuro desejado para Valença. Deve ser clara, objetiva e capaz de mobilizar os munícipes e os demais interessados na cidade. Esta é uma forma de criar, desenvolver e valorizar os sentimentos de orgulho e de pertencimento à cidade. Estes sentimentos são decisivos para orientar os negócios ligados à Cultura e ao Turismo. Sugiro ainda, por causa da praticidade e dos baixos custos envolvidos, usar as redes sociais como instrumento e pesquisa e de comunicação com a população. A maioria absoluta das pessoas se utiliza das redes no cotidiano. Como a nova gestão da cidade começou recentemente e se utiliza do orçamento herdado da gestão anterior, creio que os recursos destinados ao Turismo e à Cultura possam não ser suficientes para um novo enfoque sobre estas questões. Sugiro aplicar à população e ao turista um questionário aberto com as questões como as relacionadas a seguir. Estas informações nos ajudarão a orientar as Políticas Públicas e a definir as estratégias globais voltadas para o crescimento da cidade, positivar a sua imagem junto ao cidadão e destacá-la dentre as demais cidades da Bahia. Olhando sob o aspecto do ecoturismo, por exemplo, este só é considerado ecoturismo quando a atividade turística gera conservação da natureza e impactos positivos as comunidades receptoras e esta é a expectativa que tenho quando vejo o cidadão orgulhoso de pertencer a uma comunidade. Para as pessoas da comunidade: Cite as 3 coisas que você mais gosta em Valença. Quais são as 3 maiores belezas de Valença? Quais são os 3 pontos positivos da cidade? Quais são os 3 pontos negativos da cidade? Como você acha que o turista vê Valença? Cite 3 coisas que você espera do Poder Público? Cite 3 coisas que a Prefeitura pode fazer para receber melhor o turista. Cite 3 coisas que você pode fazer para ajudar na gestão da cidade? Para as pessoas que nos visitam: Cite as 3 coisas que você mais gosta em Valença. Quais são as 3 maiores belezas de Valença? Quais são os 3 pontos positivos da cidade? Quais são os 3 pontos negativos da cidade? Cite 3 coisas que podem ser feitas para receber melhor o turista. Você foi bem recebido? Você retornará? Por fim gostaria de acrescentar que o cultivo de especiarias faz de Valença A CAPITAL DO CRAVO DA ÍNDIA e que o CAMINHO DAS ÍNDIAS tanto procurado por Portugal existe e está aqui em Valença que também é a CAPITAL BRASILEIRA DAS ESPECIARIAS Acredito que valorizar o que temos e o que somos será é um meio para orientar os negócios de Valença. Desta forma podem ser desenvolvidas muitas ações voltadas para o turismo local e para o suporte ao turismo nas ilhas e praias do Baixo Sul. Quero reforçar ainda a importância do sentimento de pertencimento e de orgulho para com a cidade, sua história, sua cultura e, acima de tudo, o que nos diferencia das outras cidades. Tenho observado nas falas das pessoas com que convivo um pessimismo e uma percepção negativa quanto à cidade, como se aqui nada houvesse de bom. Isto precisa ser trabalhado por esta razão me refiro sempre ao amor à terra e ao orgulho de pertencer à Valença. Vivemos uma época onde a anomia gerada pelas redes sociais faz com que todos vejam as mesmas coisas o que traz como consequência a perda da identidade. É preciso estar atento para não permitir que a perda do amor à terra leve ao pessimismo e venha a interferir na vida da comunidade tornando cada cidadão um caramujo dentro do seu casco. Não sei se respondi com clareza à questão: “Qual é a Vocação de Valença?” Elenquei os elementos que considero fundamentais para compreender a vida de uma comunidade e os laços que unem as pessoas à terra. Estou à disposição para contribuir para a comunidade que descobri nos idos dos anos 80! Flávio Diniz Fontes RPPN Fazenda Água Branca Valença, 09 de fevereiro de 2025. SOBRE O AUTOR - Flavio Diniz Fontes 77 anos Natural de Morrinhos-GO Proprietário da Fazenda e RPPN Água Branca, desde 1984 Engenheiro Mecânico graduado pela Universidade de Brasília em 1975 Especialista em Gestão de Negócios pela Faculdade de Administração da UFBA Trabalhou na Petrobras por quase 40 anos nas áreas de projeto, construção e montagem, manutenção, planejamento, programação e controle, gestão e organização Membro da Diretoria e do Conselho Fiscal do IDEIA por várias gestões Presidente do Conselho Deliberativo da PRESERVA – Associação dos Proprietários de Reservas Particulares da Bahia e Sergipe Consultor Voluntário do GESPÚBLICA de 2010 a 201212 nas Secretarias de Estado: Planejamento, Educação, Administração e Meio Ambiente além de outras instituições públicas como a Prefeitura de Vera Cruz Professor de Gestão Estratégica da Produção no curso de Engenharia Membro da Diretoria e do Conselho Fiscal da Associação dos Engenheiros da Petrobras por vários períodos Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website