Este mês é marcado pelo Setembro Amarelo, sendo dedicado à conscientização sobre a importância da prevenção ao suicídio. O suicídio é uma realidade bem mais comum do que imaginamos e vem chamando atenção de toda a sociedade, tratando-se de um assunto bem delicado. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados. Infelizmente, o estigma e o tabu relacionados ao suicídio e aos transtornos mentais fazem com que muitas pessoas que estão pensando em encerrar suas próprias vidas ou que já tentaram suicídio não procurem ajuda.

Para entender melhor sobre questões que envolvem o tema, trazemos esse Você Agora com a psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) Alinie Chagas, que trabalha na Uniclin Pró-Saúde. Confira!

Alinie por que é tão relevante falar sobre a prevenção do suicídio?

Como é muito já falado, o suicídio é um tema ainda muito carregado de preconceito e quando a gente conhece um tema, ele se torna muito mais fácil e quando a gente começa a conhecer sobre prevenção, a gente começa a entender os manejos; como fazer, como agir, como atuar, então à medida que  a gente vai expandindo sobre determinado assunto, determinada situação, a gente vai tendo mais clareza por onde seguir, o que fazer, como fazer, e com o suicídio, apesar de ser um tema muito delicado, muito preocupante, é da mesma forma, não é diferente, à medida que a gente fala, fala, fala, a gente esclarece mais as coisas.

Nos explique a importância da sua área de atuação específica, a Terapia Cognitivo Comportamental dentro desse tema.

A gente entende que pensamento, sentimento, gera comportamento, aí pra gente entender porque determinado comportamento está acontecendo, a gente precisa saber de onde é que ele está vindo, então precisamos entender quais são as crenças, que a gente chama normalmente de crenças disfuncionais do paciente, crenças, pensamentos, que geram sentimentos, então eu sinto o que está acontecendo, a soma da crença e a soma do sentimento gera comportamento, então a gente foca nesse comportamento porque é a queixa que o paciente traz, pra mudar esse comportamento, desfazer essa crença disfuncional.

Você acredita que ainda existe muito tabu para tratar desse tema e porquê?

Sem dúvida! No geral, as pessoas tem muito preconceito porque assim, suicídio ele traz inicialmente a depressão como base e traz muitos transtornos, os transtornos são doenças e doenças são tratadas com tratamento e  medicação, as pessoas tem muito preconceito contra a medicação e medicação é algo necessário, precisa se usar, é um processo, suicídio é tratado com preconceito, tem a questão dos homens acharem que é uma doença que vão resolver saindo da rotina, se distraindo, que não é doença, então é muito carregado com muita crença de que é fácil de resolver, sendo que na verdade não é, é muito delicado.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano. O Brasil é apontado como o oitavo país no mundo com mais ocorrências. Na sua opinião, a que se deve esse fato?

Principalmente a falta de conhecimento, a dificuldade do falar, o receio do falar. A pouco tempo que a questão do suicídio se tornou algo de saúde coletiva, da questão governamental, antes disso, o fato de não falar sobreo assunto dificultava o entendimento, então eu não falo, eu retraio, eu seguro, acontecia a situação e as pessoas não entendiam o porquê, então a gente guardava isso pra gente e ficava por isso mesmo sem ter o esclarecimento da coisa, então principalmente o não falar é a principal causa, eu entendo dessa forma.

Existem sinais que uma pessoa costuma apresentar que podem indicar a presença de ideias suicidas? Ao perceber alguns desses sinais, como podemos ajudar?

A gente pode ajudar antes durante e depois, principalmente antes essa questão dos sinais, quando a gente começa a perceber comportamentos diferentes a gente tenta se aproximar de alguma forma da pessoa, a pessoa pode precisar entender que ela não está sozinha, que eu vou ter alguém perto de mim que talvez possa me ouvir e não me julgue, porque eu posso começar a sentir uma tristeza simplesmente porque eu quebrei a fechadura da porta, simplesmente porque a cadeira quebrou e a cadeira tinha um valor sentimental e ela não vai me julgar, então assim, saber que vai ter alguém do lado que vai me ouvir, que vai saber me ouvir, não vai julgar e vai acolher meus sentimentos, então primeiro de tudo, perceber os sinais, saber que vai ter alguém que vai me ouvir e essa pessoa está do meu lado, então primeira coisa a pessoa saber que eu tenho alguém pra me escutar antes de qualquer coisa.

Quais são os principais distúrbios relacionados à prática do suicídio?

O primeiro transtorno que é uma doença, que as pessoas precisam entender é a depressão, tristeza profunda, isso vai crescendo, depois da depressão estão os transtornos de humor, transtorno bipolar, que se reflete em oscilações de humor, e em terceiro, o uso de substâncias psicoativas. Tem a questão da esquizofrenia também.

De que forma podemos cuidar da nossa saúde mental?

Olhar para nós mesmos, fazer terapia, buscar coisas que a gente gosta de fazer, ter momentos pra gente, eu sei que estamos passando por um momento muito complicado, mas é possível a gente buscar fazer coisas que gostamos, que nos dão prazer e parar pra de fato prestar atenção para esses momentos de prazer, isso faz muito bem.

Qual a importância da família e do meio social para o nosso bem estar mental?

A família tem importância muito grande, principalmente porque é nossa base, é nosso primeiro socorro quando acontece qualquer coisa, é o nosso suporte. O meio social também é importante porque é o nosso segundo espaço, trabalho, escola, colegas, mas a gente precisa ter primeira essa base família garantida para que a gente esteja bem, é claro que antes de qualquer coisa a gente precisa estar bem, mas a família é o nosso primeiro aporte. Em segundo lugar os meios sociais porque o espaço de trabalho precisa estar de alguma forma saudável para que a gente consiga ter um bom trabalho, a escola é um outro espaço que a gente precisa de alguma forma estar se sentindo bem para que funcione de uma forma leve, tranquilo e se isso não ocorrer bem a gente precisa buscar o que estar acontecendo para tentar resolver isso.

É possível prevenir o suicídio? Quais tipos de tratamento ou auxílio se deve buscar para prevenir o suicídio?

Inicialmente a percepção dos comportamentos disfuncionais, a questão de mudanças de comportamento, que não acontecem da noite para o dia, é um comportamento que é contínuo, então temos que prestar atenção no que está acontecendo que está mudando muito. Sobre auxílio se deve buscar principalmente ajuda terapêutica e medicamentosa, antes de qualquer coisa, ajuda principalmente do ouvir, do acolhimento, da aproximação, ‘eu estou aqui pra te ajudar’, ‘eu estou aqui para o que você precisar’, é a pessoa entender que ela não está só, que pode falar, aos poucos liberar a dor que está presa, interna, colocar essa dor pra fora, se não consegue ir para psicólogo, ir para terapia, tem alguém ao seu lado para saber que não está sozinho.

Suas considerações finais.

A minha consideração final é começar a perceber que as pessoas estão levando em consideração um tema tão delicado e que é tão importante ser dito, então estou muito feliz que isso está se expandindo tanto e que as pessoas estão levando muito em consideração um tema que é tão delicado e importante, muito feliz com isso.

A Dra. Alinie Chagas atende na Uniclin Pró-Saúde todas as terças e quintas-feiras, das 08h às 18h. O agendamento da consulta é feito pelo telefone (75) 3643-3850.

Onde encontrar ajuda:

  • CAPS – Centro de Atenção Psicossocial.
  • SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência 192.
  • CVV – Centro de Valorização da Vida através do número 188.

 

 

 

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