Horácio Araújo, diretor da Companhia Valença Industrial, fala sobre modernização, desafios e a importância da CVI para Valença e o setor têxtil brasileiro.

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Diretor industrial da CVI destacou qualidade e sustentabilidade da empresa (Foto: Jornal Valença Agora)

O nome da cidade de Valença está estampado em painéis de LED de grandes desfiles de moda pelo país, graças à Companhia Valença Industrial, a nossa CVI. Esta indústria têxtil, a primeira do Brasil, está implantada na capital da Costa do Dendê há 180 anos, deixando sua marca com uma história rica que começou nos tempos do Império Brasileiro. Agora, olha para o futuro, integrando tradição e inovação.

Os valencianos podem dizer, com orgulho, que produzem tecidos utilizados em roupas comercializadas por grandes varejistas da moda no país, como Renner, C&A e Riachuelo, e outras tantas pelo país.

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CVI fornece tecidos de alta qualidade para todo o país (Foto: Jornal Valença Agora)

Para entender mais sobre a dinâmica e a importância da CVI para Valença e para o setor industrial brasileiro, fomos até a sede da empresa, localizada na Avenida Industrial Marita Almeida. Nosso diretor executivo, Vidalto Oiticica, foi recebido nesta terça-feira (9) por Horácio Araújo, que há seis anos é responsável pelo parque industrial da CVI. O diretor, natural do Rio Grande do Norte e com extensa carreira em indústrias, falou sobre o passado, o presente e as expectativas de futuro a partir da modernização que a CVI começou a implementar este ano.

Vidalto Oiticica: O que é gerenciar a primeira fábrica têxtil do Brasil, com uma responsabilidade social histórica?

H.A.: É um grande desafio. Sinto-me preparado, devido às várias etapas que passei para chegar aqui. Busco sempre transmitir aos colaboradores e pares a importância da responsabilidade social. Nosso papel é facilitar o trabalho da equipe através do conhecimento, da orientação e do apoio. Ser gestor da primeira indústria têxtil do país é um privilégio que me deixa muito feliz.

Vidalto Oiticica: Quem é a CVI para o Brasil?

H.A.: Somos uma indústria têxtil de pequeno a médio porte no mercado. Toda a nossa matéria-prima é 100% baiana, nosso algodão é todo baiano. Vendemos para o Brasil todo, fornecendo para grandes confecções renomadas que, por sua vez, fornecem para grandes marcas como Renner, Riachuelo e C&A. Nosso tecido está presente nessas marcas.

Vidalto Oiticica: Horácio, qual é o objetivo desse processo de modernização pela qual a CVI está passando?

H.A.: Precisamos estar à frente desse mercado e, por isso, estamos trabalhando na modernização da empresa. Estamos sempre inovando e agora estamos passando por mais um processo de modernização. Nos próximos dois, três anos, vamos modernizar todo o parque fabril, buscando mais competitividade no mercado, produtos de maior valor agregado e nichos de mercado em que podemos inovar. Não podemos ficar parados; enxergamos os desafios e tentamos nos antecipar a eles, sempre fazendo algo mais.

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Novos equipamentos começaram a chegar no dia 3 de julho, transportados por caminhões especiais (Foto: Divulgação)

Vidalto Oiticica: Como está sendo a experiência com a chegada das carretas? Quantas serão no total para toda essa ampliação e qual a expectativa da sociedade valenciana em relação a essa ampliação da CVI?

H.A.: Na última semana, recebemos cinco carretas fora de padrão. Toda a sociedade viu a dificuldade que foi entrar em Valença, mas tivemos o apoio do município nessa logística. Recebemos mais dez carretas graneleiras, de porte normal, que trouxeram os acessórios da caldeira recém-chegada. Temos equipamentos vindo da Alemanha, da Itália, da China e da Índia, que chegarão ao longo dos meses, totalizando cerca de 80 contêineres. É importante a população entender que isso é desenvolvimento. Esses novos equipamentos extremamente tecnológicos vão garantir a longevidade da CVI. Se hoje estamos atingindo 180 anos, esses novos equipamentos nos permitirão alcançar 200 anos ou mais. Com a modernização, vem também o conhecimento, a capacitação e o treinamento, o que é um ganho para toda a população. Hoje, temos cerca de 650 colaboradores que estão vendo essa melhoria de processo, que trará crescimento para todos.

Vidalto Oiticica: Quantas toneladas de algodão a CVI consome hoje?

H.A.: Em torno de 25 a 30 toneladas por dia. Isso varia de acordo com a época do ano; por exemplo, no inverno, tecidos mais pesados requerem um consumo maior de algodão.

Vidalto Oiticica: Com a ampliação da CVI, qual é a expectativa de consumo diário de algodão?

H.A.: Ainda não temos um número preciso, pois depende da estratégia e do mix de produtos que produzimos. Tecidos leves, com maior valor agregado, consomem menos algodão, que é mais nobre. Portanto, pode variar muito.

Vidalto Oiticica: O que o mercado pode esperar como expectativa e realidade nessa ampliação? Qual produto será inserido no mercado?

H.A.: Nosso trabalho hoje é buscar qualidade. A produtividade vem junto com a qualidade. Nosso objetivo principal nessa modernização é a melhoria da qualidade do produto, com foco na questão ambiental. Teremos a mesma produção de hoje, mas com qualidade superior, menor geração de subprodutos e efluentes. As novas máquinas modernas que estamos adquirindo reduzirão o volume de água e o consumo de energia, trazendo maior eficiência ao processo.

Vidalto Oiticica: Hoje podemos dizer que a CVI é uma empresa sustentável?

H.A.: Sim, hoje somos 100% sustentáveis. A água que captamos do rio é tratada e devolvida conforme as normas dos órgãos ambientais nacionais. Em relação à biomassa, temos cerca de 2.500 hectares de propriedade, dos quais 800 hectares são de plantação de eucalipto, toda por reflorestamento.

Vidalto Oiticica: Como podemos classificar a CVI após essa ampliação que deve durar cerca de dois anos?

H.A.: Nosso foco principal é garantir qualidade. Temos grandes clientes e muitos estilistas que requerem produtos elaborados e de alta qualidade. Estamos focando muito nesses produtos para entregar qualidade superior ao que eles esperam do mercado.

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Horácio Araújo, diretor industrial da Companhia Valença Industrial (CVI) (Foto: Jornal Valença Agora)

Vidalto Oiticica: Como vocês se sentem, com 180 anos, sendo a primeira indústria têxtil do país, estando fora do eixo industrial do Brasil?

H.A.: Para nós, é um desafio. Estamos fora do epicentro têxtil, o que traz alguns desafios. Por exemplo, estamos numa cidade sem BRs, o que limita as opções de transportadoras e encarece os fretes. Outro desafio é a questão da mão de obra qualificada, pois estamos numa região não industrializada em termos de indústria têxtil. Precisamos treinar e capacitar nossos profissionais para ocupar as vagas abertas.

Vidalto Oiticica: Como é a relação da CVI com a mão de obra local?

H.A.: Boa. Sinto que a população é composta por pessoas boas e humildes. Fazemos um trabalho de treinamento, orientação e conscientização. Como gestores, nosso papel é facilitar o trabalho dos colaboradores. Muitas vezes, as pessoas sentem a diferença de rotina entre a indústria e o comércio ou serviços.

Vidalto Oiticica: Qual mensagem você deixaria para a população regional em relação à mão de obra especializada que vocês trazem de fora?

H.A.: Recomendo sempre que busquem conhecimento, como oriento nossos colaboradores. Muitos já estão estudando, fazendo cursos técnicos e superiores, porque o conhecimento é essencial para o crescimento profissional. O que recomendo é que busquem, estudem, se qualifiquem e conversem com pessoas que possam colaborar com seu crescimento pessoal e profissional para que possam exercer funções não só na CVI, mas em outras empresas e locais, devido à qualificação profissional.

Vidalto Oiticica: A CVI consegue estar inserida na sociedade e cuidar desse patrimônio que hoje pertence ao país?

H.A.: Trabalhamos num setor têxtil que já teve seu apogeu nos anos 90 até 2000 e hoje enfrenta desafios, mas é o segundo maior empregador do país. Continuamos firmes, sabendo que temos desafios pela frente, mas é um bom desafio. O setor têxtil é extremamente importante para a economia do país.

Vidalto Oiticica: Suas considerações finais.

H.A.: Agradeço a oportunidade deste bate-papo e recomendo que todos busquem entender o que é uma indústria e o que ela pode trazer de bom para a sociedade através do conhecimento e do desenvolvimento econômico local. Estamos inseridos no Brasil, nossos produtos saem de Valença para todo o país, e essa relação deve ser transparente e bem alinhada.

 

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