Trovador popular: as graças de Daniel

A cultura brasileira é rica em seus encantos e memórias. Sinônimo de expressão popular, a literatura de cordel pincelou seu lugar de destaque na imaginação, no pitoresco, no folclore e no gosto de nossa gente.  Para seu Daniel, poeta e trovador, como ele gosta de ser conhecido, o cordel é uma arte que já nasce sabendo, bastando só se dedicar e aprender outras palavras.

Daniel Pereira Dias, pescador, natural de Filadélfia, sertão nordestino, residente a cerca de 40 anos em Valença, no bairro do Tento, não deixa morrer o brilho dessa arte. Começando muito cedo no ofício, já aos dezesseis anos publicou seu primeiro cordel: “O urubu misterioso”.  Seus cordéis já venderam cerca de 2000 exemplares, nas suas andanças pelas feiras de interior e pelos cantos deste país.

Os Tempos da Cachaça reune a obra de Daniel, escrito em forma de rimas acompanhado de algumas ilustrações.

Tudo é motivo de inspiração para seu Daniel. As coisas verídicas, o linguajar do nordeste, o flagelo da seca, a maldita cachaça, as cenas do cotidiano, o noticiário da TV, o time do Bahia, as matas, os riachos, o amor, a fome, a guerra e a paz. Em seu último trabalho, ainda em construção, o corona vírus vira personagem. De forma bem humorada, ele vai narrando em versos, o caos social causado pela pandemia. Segundo ele, a trova ainda está inacabada, pois aguarda pacientemente, o desenrolar dos acontecimentos para poder conclui-la. O presidente, os governadores, a vacina e a cobertura da imprensa, também estarão presentes na versão final.

Daniel Pereira Dias, pescador, natural de Filadélfia, sertão nordestino, residente a cerca de 40 anos em Valença.

Dono de uma inteligência rara e iluminada, nosso poeta popular puxa e declama de cabeça, em qualquer hora e lugar, seus versos e rimas, tendo como pagamento final, apenas o riso fácil e os gracejos entusiasmados de seus atentos ouvintes.

Perguntado sobre o futuro do cordel nesses tempos de tecnologia e computador, ele é categórico: “os jovens não se interessam; eles gostam de ler...”. Conta que até já ensinou a arte, quando foi professor de cultura na cidade de Mucuri, mas ele diz que eles não dão prosseguimento.

Já seu Daniel, continua com suas estrofes e redondilhas, não deixando morrer essa arte tradicional de nosso povo. E para fechar, com um dos muitos versos de nosso trovador popular, e com a esperança desse saber não se perder nas brumas da modernidade, ele nos inspira: “Pra eu escrever essa estória, eu visitei o sertão...”. Ah... e se quiser conhecê-lo, basta perguntar por ele, lá pelas bandas do Tento.

Fonte/Fotos: Paulo Gonçalves.