Especiaria trazida de Portugal foi plantada pela primeira vez em solo brasileiro, em Cajaíba e Sarapuí, zona rural do município, segundo conta o empresário Elísio Paes Muniz

Os responsáveis pelo descobrimento e origem do cravo-da-índia, além do valor no comércio foram os portugueses na época das embarcações. E foi de lá de Portugal que vieram as primeiras sementes da especiaria para o Brasil, chegando em Valença - Bahia, na década de 1920 aproximadamente, contou o empresário Elísio Paes Muniz ao Jornal Valença Agora.

O relato do empresário tem como fonte o seu ex-sogro Alexandre Peutiê de Queiroz, que herdou do pai, Eunápio Peutiê de Queiroz, uma fazenda de craveiros.

“Ele me contou certa feita que o cravo-da-índia aqui no Brasil “nasceu no distrito de Maricoabo e Sarapuí”, afirmou Elísio.

Voltando um pouco na história para entender como as sementes chegaram em Valença, Elísio nos contou que dois irmãos e um primo, moradores do povoado de Terra Dura em Maricoabo, do qual lembra apenas o nome de um deles, Emiliano, viajaram à Portugal e de lá trouxeram cerca de meia dúzia de sementes do cravo-da-índia. “Eles trouxeram no sapato uns dentões de cravo, a verdadeira semente do cravo-da-índia, pois naquela época era proibida a exportação e importação de semente, só podia com a autorização do Império, governo da época”, relata Muniz, acrescentando que, ao chegarem em Valença, o trio plantou metade das sementes em Maricoabo e as outras em Sarapuí.

“Depois de uns três a quatro anos as sementes germinaram e começaram a frutificar”, foi nessa época que o pai do sogro de Elísio, o Sr. Eunápio Peutiê fez negócios com os donos dos craveiros, trocando uma dívida de empréstimo que havia concedido aos agricultores, pelos cultivos, conta Elísio Paes Muniz.

“Eunápio que era uma pessoa muito conhecida, coronel, sabendo que esses cidadãos tinham essas plantas em Cajaíba, e como eles tinham transações comerciais através de venda de cacau, empréstimo de dinheiro, então tinha de um desses cidadãos um determinado crédito através de empréstimo de dinheiro, então Eunápio propõe comprar as sementes todas que estavam germinadas em troca do débito. O comprador das especiarias planta os craveiros em sua fazenda denominada Fazendo Boa Vista, em Maricoabo, hoje propriedade de Jacy Coutinho Magalhães”, conta.

O próprio Elísio Paes Muniz, que nos conta a história da chegada do cravo-da-índia em Valença, afirma que teve a “oportunidade de, quando namorando com a filha de Alexandre Peutiê, nos anos 50 a 60, visitar a fazenda de craveiros numa época de grande produtividade.

“Tive a felicidade de dar um passeio na casa do velho “Xandinho de Eunápio”, Alexandre [que herdou a fazendo do pai, Eunápio Peutiê] e ele possuía dois sobrados que estavam com uma quantidade enorme de cravo colhido aguardando as estufas para secagem do cravo. Naquela época o procedimento era esse, secava o cravo através daquelas estufas, produzia o calor através de fogo de lenha, e tive a oportunidade de ver. Nessa época eu constatei também que seu Xandinho era o homem que mais produzia cravo nessa região e todos os compradores do Sul do país vinham a Valença para tratar de negócios com ele através da compra do cravo-da-índia”, relata Elísio.

“Essas são informações fidedignas e comprovada do velho Xandinho, meu ex-sogro. É a história mais real do cravo no Brasil vindo naquela época, porque até então ninguém conhecia cravo”, garante o empresário.

O JVA pediu que Elísio comentasse sobre a instalação da escultura de Ceres, deusa romana da agricultura e da fertilidade, na Praça Ademar Braga Guimarães (antiga Praça Barão Homem de Melo).

Foto: Celeste Martinez/ Alacazum

“Quem fez aquele jardim da Praça Barão Homem de Melo, foi um tio meu, casado com a minha tia Alzira Rosa Paes, o dentista Flavio Araújo Guedes, acredito que na década de 30. Então nos anos 40, quando Dr. Admar Braga assumiu a Prefeitura, assim contava meu pai, ele fez toda a infraestrutura do jardim, construiu um aquário que tinha duas cabeças de leões com fontes. Dr. Admar era um homem muito técnico, visualista, visionário das coisas e muito amoroso a Valença, gostava de ver as coisas corretas. Meu pai comentava que ele colocou a estátua de Ceres por Valença ser uma terra de muita produtividade, de muita fartura, pois daqui saiam muitos barcos para Salvador levando o que produzia nessa região. Talvez tenha sido isso que tenha inspirado colocar essa estátua", opina.

A pesquisadora Valdenilze Santos de Oliveira Alves afirma que a escultura originalmente foi um presente do Barão Homem de Melo, então Governador da Província da Bahia entre o ano de 1878/1879.

Elísio Paes Muniz conta ainda que o cravo nas décadas de 60 a 70 que era vendidos para o Sul do país, começou a perder muito valor devido a atuação de atravessadores. “Os atravessadores começaram a enxertar no saco na pesagem colocando talo quebrado, o cravo ia sujo e com isso o cravo começou a desvalorizar”, afirmou.

Bastante usado na indústria farmacêutica, de cosméticos e de alimentos, o cravo-da-Índia no Brasil, tem como polo produtor do país, o Baixo Sul da Bahia. O preço, que já variou entre R$ 5 e R$ 10 o quilo, chegou a R$ 70, e atualmente está em R$ 33 (22/12/2022).

Enquanto que a Indonésia é em disparada o primeiro produtor mundial da especiaria, o Brasil está logo atrás em segundo lugar. Seguido então pela Tanzânia e Sri Lanka.

 

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