Na tarde desta segunda-feira(20), profissionais de saúde de Valença emitiram documento entitulado "Alerta Importante", um alerta para a realidade de Valença, os riscos de transformar o Centro de Saúde Municipal (CENTRINHO) em unidade referência COVID 19 e apelo aos senhores governantes para que suas vozes sejam ouvidas. " Negociem urgentemente com o Governo Estadual a utilização da Policlínica para o enfrentamento da PANDEMIA. Ela está fechada e mesmo quando funcionava, o fazia somente no período diurno. '' diz trecho do documeto que trazemos na íntegra:

''ALERTA IMPORTANTE!
JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!

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"O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas sim o vento que não
se vê." Platão.

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Prezados amigos da sociedade valenciana e da Costa do Dendê, como profissionais da saúde, reconhecemos o desafio enfrentado pelas autoridades federais, estaduais e municipais diante da gravidade da situação que ora se apresenta. Consideramos também que não existem métodos fáceis para resolvermos problemas complexos. Não utilizaremos aqui linguagem científica ou gráficos elaborados. Deixemos isso para os congressos de especialidades e os bastidores técnico-científicos de
enfrentamento dos quais participamos. É dever da ciência atingir a maior parte da população de forma simples, direta e verdadeira. O compromisso primordial dos profissionais da saúde é com a preservação da vida.

Esse texto está sendo redigido com a ajuda de muitas mãos. No momento em que esse documento é elaborado alertamos que existem colegas nossos internados em UTIs que há pouco tempo estavam trabalhando do nosso lado. Parece que nunca estudamos um volume tão grande de artigos científicos em tão pouco tempo. Chamamos a atenção para o fato de que sempre fomos capazes de colocar quaisquer diferenças corporativas de lado quando o propósito é o bem estar da população. Estamos preocupados com a situação de saúde atual dos pacientes por nós acompanhados, muitos dos quais com tratamentos descontinuados. E o que querem esses profissionais? Que após passarmos por essa tempestade encontremos todos os amigos, familiares e pacientes vivos e gozando de boa saúde. Pleiteamos também uma participação mais ampla nas decisões e ações em Saúde Pública estabelecidas pela Secretaria Municipal da Saúde.

Muitas das medidas sugeridas nesse momento e que constituem uma verdadeira novidade para a população geral são na verdade a nossa rotina há décadas: Lavar exaustivamente as mãos. Utilizar máscaras, capas, protetores ou gorros. Lançar mão de soluções antissépticas. Escrever fluxos, rotinas e processos. Prevenir contaminação. Participar de comissões. Gestão em Saúde. Planejamento estratégico. Muitos de nós têm experiência inclusive em abordagem militar para gestão de crises.

Baseado nessas credenciais e no fato de estarmos diretamente na LINHA DE FRENTE, pensamos que essas vozes precisariam ser mais ouvidas.

De repente nos deparamos com termos um tanto estranhos aos tempos de paz: linha de frente, hospital de campanha, teatro de operações, suprimentos, estratégia, logística, etc. A explicação é simples: Diante dos Decretos de Calamidade Pública as autoridades tratam o assunto como uma guerra. Acrescentamos aqui a dose de verdade: a guerra é assimétrica, pois o inimigo nesse momento tem a vantagem e infelizmente está ganhando. As notícias que nos chegam pelos canais médicocientíficos dão conta de experiências desastrosas, como as do Hospital Santo Antônio (Salvador), a do Hospital do Cacau (Itabuna-Ilhéus) e outras. Diversos profissionais de saúde contaminados, afastados, isolados ou
internados. Alguns em estado grave. Outros vivendo o receio de transferir às suas famílias infecção adquirida nas unidades de saúde.

Pandemia (do grego Pan = tudo / Demos = povo).

Com a COVID 19 o mundo enfrenta um desafio considerado por especialistas como sendo o maior da história moderna. A despeito da sua letalidade ainda imprecisa e regionalmente variável, o SARS COV 2 é adaptável e altamente transmissível, mesmo quando comparado com formas graves de outras doenças virais, tais como Ebola e Marbung. Por essas características é que tivemos uma disseminação intercontinental exponencial em menos de 60 dias.

A REALIDADE DE VALENÇA

Como profissionais da saúde em Valença nos deparamos com uma máxima largamente divulgada: "Se você pretende iniciar um empreendimento no segmento da saúde ele precisa estar localizado em
um polígono disposto nas proximidades do Hospital Dr. Heitor Guedes de Melo".

Isso fez com que nos últimos 20 anos mais de 95% das empresas médicas se instalassem naquelas imediações.

Existe hoje uma condensação de empresas de diversos setores em uma região com área espantosamente inferior a 500 metros quadrados: bancos, clínicas, farmácias, laboratórios, consultórios, hotéis, centro comercial, praça de táxi, lavanderia, supermercados, lanchonetes, restaurantes e até mesmo funerárias. A maior estação de transbordo de vans da região está localizada a 50 metros do hospital. Consideremos que até mesmo a BA 001 passa em frente à maioria desses estabelecimentos, com o nome de Rua  Barão de Jequiriçá. A topografia da região também é desfavorável. A despeito do Hospital da Santa Casa ser o maior e mais completo de uma região de 16 municípios, ele não é uma unidade preparada para a ALTA COMPLEXIDADE. Ele atrai pacientes de cerca de 25 diferentes cidades, o que significa que concentra clientela de outras regiões alheias à 5ª DIRES. É a única unidade de saúde na cidade aberta 24 horas, incluindo feriados e finais de semana. A única instituição hospitalar que dispõe de centro cirúrgico, internação e previsão de hemotransfusão. Diferente do que muitos pensam, é uma instituição privada e não pública. Possui diversos convênios, sendo o SUS somente um deles.

O que chama a atenção é que nem a Santa Casa nem o município dispõem de leitos de UTI ou ambulância UTI, indispensáveis no atendimento às formas mais graves da COVID 19. Em outras palavras, não só não podemos dar suporte avançado de vida, como até mesmo as transferências seguras para centros de referência estarão comprometidas. Isso é muito preocupante. É acreditar que, ou não teremos formas graves ou esses pacientes resistirão às transferências sem uma ventilação ideal.
Nesse cenário de incertezas é que fomos informados da iniciativa em transformar o Centro de Saúde Municipal (CENTRINHO) em unidade referência COVID 19. Por ela, todo o atendimento preferencial inicial e suporte básico em saúde primária seria convergido para um prédio a menos de 10 metros do único Pronto Socorro do Município e também vizinho das maiores clínicas da cidade. Ali transitam milhares de pessoas. O risco assumido é imensurável. Essa medida vai na contra-mão do que acontece
em grandes municípios. Neles a estratégia é montar hospitais de campanha em centros desportivos isolados ou em locais distantes das reservas estratégicas de insumos e recursos de saúde. Procuram poupar hospitais e clínicas para que continuem podendo oferecer o atendimento às outras  diversas doenças. O acesso mais fácil a grandes avenidas e estradas é quase uma condição que se busca para as instalações de referência. Outras premissas indispensáveis para CENTROS DE REFERÊNCIA além do
isolamento é que o local seja dedicado exclusivamente aos pacientes de uma mesma doença, no caso a infecção por SARS COV 2. Precisa contar com infraestrutura modulável e flexível à ampliação, provida de : RX, Tomografia, Laboratório, Rede de Oxigênio , etc. Nada disso está disponível no CENTRINHO. O melhor exemplo atualmente em Valença para tal finalidade é sem dúvida a Policlínica Estadual.

A utilização do CENTRINHO para referência COVID 19, pela localização inadequada daquela unidade de saúde como proposta de primeira linha COVID 19, pode se constituir em um erro cujas consequências são de difícil reversão. Constitue claramente em fator facilitador para infecção cruzada no cenário de pandemia, ainda que venha a ser feita qualquer readequação para admissão de pacientes suspeitos ou positivos. Consistiria assim no principal motivador de colapso no sistema de saúde regional.

Uma pequena variação no número de infectados ou internados pode significar em interdição de toda a iniciativa estratégica em saúde municipal. Devemos lembrar que a população já sofre há 30 dias com limitação e/ou dificuldade no acesso a consultas, exames e cirurgias. As doenças que lotavam nossos consultórios e geravam listas para cirurgias continuam ocorrendo, restando os pacientes agora desassistidos e com os seus quadros possivelmente agravados. As observações mostram que as nossas ações se apresentam sempre como os melhores intérpretes dos nossos pensamentos. É momento de maior rapidez e efetividade. Não dispomos do luxo do tempo. No momento em que escrevemos essas considerações pensamos que, mesmo que elas convirjam para ações urgentes em saúde pública (Município e Estado),espantosamente só colheremos resultados em 10-15 dias. Dessa forma hoje,
20 de abril, vivemos a realidade das iniciativas de duas semanas atrás.
Senão vejamos: em um cenário otimista para Valença, o indivíduo sintomático e positivo de agora nos coloca de frente a certo raciocínio. Ao ser contaminado, esteve assintomático por 04-07 dias e assim
involuntariamente disseminando o vírus. Procurou uma unidade de saúde, foi submetido a protocolo de testagem somente por apresentar sintomas muito sugestivos. Se nesse momento não apresentou quadro de angústia respiratória, foi orientado a permanecer isolado em casa. A fiscalização desse regime domiciliar é limitada, principalmente se considerarmos a possibilidade de familiares igualmente contaminados e não testados. Some a essa realidade a possibilidade de 80 % dos infectados apresentar uma forma assintomática ou com sintomas leves, sendo que muitos dos quais nem mesmo procuram as unidades de saúde. São iguais e potencialmentes propagadores virais.
Observe o que disse um importante analista epidemiológico. "Para os países em desenvolvimento, uma pandemia exige mais tempo para a sua superação. Após se ultrapassar o pico das infecções,(sabemos que estamos distantes desse ponto), continuará convivendo por muitos meses com a
COVID 19, ainda com muitas perdas de vidas. A reabertura será lenta e por setores. A chance de segunda onda infecciosa é real. A possibilidade de picos epidêmicos futuros sazonais é grande. Ou seja, a doença que hoje é pandêmica pode se tornar endêmica com surtos epidêmicos. Lembremos da
dengue ou mais recentemente da Zika e da Chikungunia. As duas últimas eram meras desconhecidas até pouco tempo atrás.

Precisaremos defender por longo período não só o Polígono Médico da região central da cidade, mas também a Hemodiálise, as reservas de sangue, os laboratórios e o setor de bio- imagem. São as peças mais importantes desse tabuleiro. Há que se prover as unidades de respiradores, EPIs e equipe treinada em medicina intensiva. Ambulância para suporte avançado de vida será necessária. Sugerimos ainda uma atenção especial ao manejo de cadáveres e aos veículos e rituais funerários.

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Um apelo aos Senhores Governantes:

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* Coloquem nas mesas de tomada de decisões os profissionais que arriscam
   todos os dias as suas vidas e conhecem de perto o nosso inimigo comum
* Descentralizem as reservas estratégicas
* Equipem o município com ambulâncias adequadas para pacientes graves
* Protejam seus recursos humanos com EPIs propostos pela Organização
   Mundial da Saúde
* Economizem insumos
* Pensem em logística estratégica
* Desafoguem a região central da cidade
* Negociem urgentemente com o Governo Estadual a utilização da Policlínica para o enfrentamento da PANDEMIA. Ela está fechada e mesmo quando funcionava, o fazia somente no período diurno. Todos os
serviços oferecidos pela Policlínica estão disponíveis em outras unidades de saúde do município. Por outro lado, se obstruído o atendimento na Santa Casa a mesma Policlínica não cumprirá o papel hoje desempenhado pelo Hospital
*Não nos parece lógico sacrificar o único hospital dotado de resolutividade
cirúrgica no município ou estrangular o atendimento às outras doenças
graves (infartos / AVCs / embolia / acidentados / hemorragias). Não existe
área nesse hospital onde seja possível garantir o isolamento dos casos
COVID positivos de forma a oferecer segurança para parturientes ou outros
doentes nele internados
* Sincronizem suas ações com a iniciativa médica privada
* Atuem de forma a não permitir infecção cruzada ou a perpetuação de
contaminação no entorno do hospital

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O mesmo Platão com o qual iniciamos a nossa explanação uma vez disse:

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"Não espere uma crise para descobrir o que é importante em sua vida."

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Um cordial, positivo e afirmativo abraço!

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Deus proteja e abençoe a todos!

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Profissionais de Saúde de Valença – 20 / 04 / 2020''

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Imagem; Reprodução da internet

Uma resposta

  1. Rute

    Bom dia, sou uma técnica de enfermagem ,e concordo com todo esse texto acima, o importante é ter onde dá atendimento prioritário aqueles que já estão em risco de vida, e realmente a policlínica ou até mesmo o estádio Antônio Sereia são os mais indicados, em termos de espaço.Peco a Deus que os proteja do menor ao maior que estão cuidando daqueles que já estão contaminados, que o Senhor tenha misericórdia de nós que habitamos no planeta chamado terra .Deus, somente ele pode nos socorrer.obrigado.

    Responder

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