O engenheiro civil Benedito Passos natural de Cairu, casado, pai de dois filhos, proprietário da Luka Engenharia e Construção, empresa fundada em 2008 e sediada no município de Valença, é formado há mais de 40 anos pela Universidade Católica Federal, possuindo ainda licenciatura em Matemática. Lecionou diversas disciplinas da área e possui vasta experiência enquanto secretário municipal de infraestrutura. Sua empresa presta serviço em toda a região. Beneditocompartilhou conosco o seu olhar sobre ordenamento de área urbana, construção civil x sustentabilidade e falou também sobre a crise no setor. Confira na entrevista a seguir.

 

Como o Senhoravalia hoje a cultura de pessoas que desejam ou anseiam fazer uma construção? Como está esse cidadão?

 

O desejo hoje do indivíduo é ter sua casa própria, então ele faz de tudo, seu primeiro sonho é a casa, ele tem aqueledesejo, mas muitas vezes não tem o recurso ou tem parte desse recurso, às vezes parte pra financiamentos, mas essencialmente eu vejo que o maior desejo é a casa própria. E aí, o individuo como ser humano, de qualquer classe, a maior parte pensa na casa própria, então eu vejo como uma necessidade básica, um bem que ele entende como se ali fosse o sol, aquele imóvel que vai dar a condição de sobrevivência daquela pessoa.

 

Como está hoje a organização dos municípios na nossa região para que faça comque as pessoas se enquadrem numa filosofia de um melhor ordenamento do solo?

 

Eu vou falar de Valença e um pouco de Cairu que é onde eu transito mais. Valença eu acho que ainda não tem esse Plano de Desenvolvimento que é uma coisa fundamental, principalmente a lei de uso e ocupação do solo para que possa dar condição ao indivíduo de melhorar a cidade como um todo. Eu acho que muitas vezes, as pessoastêm até a vontade de fazer dentro da lei, dentro das normas legais, mas não tem o amparo, às vezes tematé a lei, mas não há fiscalização, não é bem mostrado para população como se deve fazer, eu entendo que é necessário que o poder público tenha essa consciência de que pode fazer mais, não só pelo individuo como pra cidade como um todo.

 

Muitas das construções em Morro de São Paulo e Boipeba, em Cairu, todo empresário busca um profissional pra fazer sua construção. Esse mesmo comportamento existe na cidade de Valença?

 

Infelizmente não. Isso é uma coisa cultural, se você ver os empresários de Morro de São Paulo que constroem, praticamente 95% é de fora, normalmente são estrangeiros com uma cultura diferente da nossa, não só de Valença, mas do Brasil.Eles entendem que é o profissional da área que tem que fazer aquilo ali, às vezes eles até contratam  - como chamam lá no Morro – empreiteiros, mas são pessoas que já tem certa experiência, que já fizeram outras obras, mas sempre com o acompanhamento de um profissional.Muitas vezes não é a empresa em si que eles contratam, mas contratam um profissional para dar acompanhamento na questão de projetos, acompanhamento e eles contratam a mão-de-obra local. Em Valença, eu percebo que já melhorou bastante, hoje já vemos na cidade um padrão de construção melhor em função justamente da vinda de profissionais, principalmente na área de arquitetura e de engenharia. Hoje já tem uma oferta maior de profissionais nesses ramos e que tem uma facilidade das pessoas irem ao encontro desses profissionais, quando no passado não existia, iam ser buscados fora e se tornavam muito caro, mas ainda têm muitas pessoas na cidade que constroem por conta própria, elas mesmas fazem e contratam pedreiros. As pessoas constroeme não fazem orçamento antes, vão construindo, param e depois voltam novamente e isso também dificulta a contratação de empresas, porque a empresa vai pegar uma obra e terminar, vai apresentar um orçamento e, quando o profissional apresenta esse orçamento as pessoas se assustam porque não tem a ideia real do custo, mas se foremcontabilizar tudo direitinho verão lá na frente que elas vão gastar até menos contratando uma empresa. Sem contar com a segurança da obra de um modo geral que temos que estar atentos, um projeto tem que ver inicialmente a segurança,em segundo a economia e depois a estética, isso na visão do engenheiro.

 

O Senhor traz uma série de colocações que na realidade a contratação do profissional da engenharia, não vai encarecer a obra, ela vai tornar a obra até mais barata e mais segura. O que falta para que essas pessoas tomem a iniciativa de buscar mais esses profissionais e que através dessa cultura, contribuam para ordenar uma cidade mais exequível pra todos?

 

Isso passa por uma conscientização das pessoas. Eu acho que leva um tempo pra isso, mas acredito que vamos atingir esse patamar, tem que ter a participação do poder público com algumas exigências. O cidadão, quando for dar entrada num projeto, temque ter o responsável técnico, hoje o CREA [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia] fiscaliza também, mas muitas vezes as pessoas não sabem oque é o CREA, pensam que é um órgão pra cobrar mais imposto, quando na verdade, a função do CREA é fiscalizar o exercício legal da profissão, o CREA fiscaliza uma obra pra ver se naquela obra tem um profissional habilitado, o que vai dar mais segurança ao proprietário do imóvel e à cidade como umtodo,porque qualquer coisa que acontecer tem a responsabilidade técnica do profissional.

 

Na sua empresa, vocês oferecem serviço ou algum tipo de orientação técnica que ajude aqueles que querem construir e captar recursos para execução da obra?

 

Sim, nós fornecemos essa orientação também. Eu já fiz alguns projetos aqui em Valença, tendo financiamento junto a Caixa Econômica. Inclusive, mudamos nosso escritório para o centro pra facilitar o acesso das pessoas.

 

Benedito, cite alguma obras que o Sr. classificaria como referência, que se destacam.

 

Aqui na cidade de Valença nós executamos aqui no centro, o prédio da Caixa Econômica Federal eo da Casa +Fácil. Também a Faculdade Zacarias de Góes (FAZAG), o Centro de Distribuição das Lojas Guaibim, o Edifício Grimaldi Privillege, prédio com 16 unidades, o ginásio poliesportivo da AABB e outras obras menores.

 

Existe hoje um debate muito forte com relação à sustentabilidade.Como está o olhar dos clientes que te busca e o seu olhar e preocupação para essa questão?

 

 

Eu vejo isso muito embrionário. As pessoas ainda não tem essa conscientização, não se preocupam muito nem com o tipo de material que a gente vai usar, não se preocupam, por exemplo, se a areia que vamos utilizar é de um areal legalizado, o tipo de madeiras, se usamosmadeiras certificadas e legalizadas, ainda não observo muito essa preocupação nas pessoas, claro que nós temos essa consciência e fazemos isso, através da reutilização de água, aquecimento solar, algumas coisas que você pode usar na construção.

 

Tem acontecido no cenário nacional, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a escassez da água, ocasionada por ações ao longo do tempo que vem fazendo comquea água venha diminuindo. A nossa região ainda é bastante abundante nesse aspecto. O Senhor coloca que as pessoas não se preocupam tanto com isso, então qual seria a mensagem que o Sr. deixaria para os nossos leitores de que essa preocupação é necessária para que futuramente a nossa região não vá se transformar em uma São Paulo nesse aspecto?

 

Você destacou a água, mas, além disso, acho que todos os recursos naturais tem que ser usados com responsabilidade, água é vida, claro que o impacto da água é grande, mas vejo também todo tipo de recurso natural, tudo que você extrai tem que ser com reponsabilidade, então muitos materiais que são utilizados, principalmente na construção, precisam ser usados com responsabilidade.

 

Está aí em debateo advento de um novo fluxo através da área da náutica, de novas pessoas frequentando, investidores...Quais seriam os benefícios que essa região teria se nós tivéssemos uma população com o olhar de ordenar as nossas cidades com uma melhor estrutura, através de um planejamento, de uma estruturação do próprio olhar da engenharia?

 

A construção civil naval já foi muito forte na nossa região aqui e em Camamu, é uma vocação que temos. Acho importantíssimo que tenha ações voltadas para essa área, eu, inclusive, sou um dos que adoram esse tipo de construção, poderei inclusive me envolver nisso aí, porque é uma vocação que o município tem.Quantos grandes mestres de construção naval tiveram aqui em Valença e hoje não vemos mais aqueles barcos enormes que eram construídos aqui.Eu vejo com bons olhos esse planejamento e essa visão desses empresários que venham aportar recursos, nossa região só tem a crescer.

 

Existe todo um cenário de crise, e um debate nacionalmente falando dos setores mais afetados que é a construção civil.Como está a construção civil na nossa região?

 

Por incrível que pareça, eu ainda não percebi essa crise. Vou citar um exemplo, nessa obra agora que estamos concluindo, nós procuramos alguns profissionais e tive certa dificuldade, provavelmente porque nós estamos num período de primavera pra verão e comotemos uma região turística, todo mundo quer construir ou reformar com a aproximação do fim de ano. Liguei para um empreiteiro de Cairu para pedir uns pedreiros, ele que se eu tivesse em Valença levasse pra ele. Agora no Brasil como um todo, a construção civil é a mais afetada porque é quem emprega a maior parte de profissionais não qualificados, nos grandes centros realmente o desemprego é muito grande e afeta diretamente a construção civil pelo fato desse profissional não ser qualificado.

 

O Senhorcitou a dificuldade que teve de encontrar uma quantidade suficiente para realizar uma obra de determinado prazo. Qual mensagem o senhor deixaria para a população como um todo, se tem mercado para ter essa formação profissional e se seria viável se tornar um profissional da área de construção civil.

 

Hoje já existe aformação, tem a escola Construir Melhor que é um projeto muito bacana que tive a oportunidade de visitar, mas acho que é mais vocação mesmo pra atividade. A mensagem é que as pessoas se dediquem mais ao que fazem, que façam com mais empenho, com mais dedicação. A minha sugestão é que as pessoas procurem se especializar porque o mercado existe para bons profissionais, com qualificação, com dedicação naquilo que fazem.

 

 

Quais suas considerações finais?

 

Eu sou um entusiasta e um entusiasmado da região, acredito sempre no melhor. Eu tenho um exemploque sempre está na minha memória, quando eu coloquei a minha primeira lojinha de material de construção lá em São Félix, a Blocferro, em 1984, quando existia um pensamento aqui de que São Félixnada dava certo. Então você vê hoje, quando passa naquela rua [Avenida ACM] que é só comércio, uma pessoa me falava, “você vai botar essa lojinha nesse lugar, hoje você é conhecido porque está trabalhando na construção civil, as pessoas lhe conhecem, mas daqui uns anos ninguém vai nem saber quem é você”, e estava totalmente errada, hoje você vê várias lojas, principalmente no ramo automotivo, materiais de construção.O que eu fico sentido é que não tem um ordenamento, um direcionamento e isso eu culpo o poder público porque podia estar presente ali pra que as pessoas construíssem dentro de um padrão, ali vai ficar uma avenida no futuro, insuportável, hoje já está, mas vai ficar pior, naquela avenida todas aquelas casinhas estão sendo demolidas, vai virar uma via de comércio, a avenida comercial vai passar a ser ali.Eu acredito hoje que Valença já está com sua população se aproximandode cem mil e existem dados estatísticos de que qualquer município que se aproxima de cem mil hab. dá um “pulo” grande, porque o consumo de tudo é bem maior, independente do poderpúblico, a quantidade de loja que já se instalou aqui de uns tempos pra cá é inegável. As pessoas que tem vontade de investir em Valença que invistam, acredito que nós temos muito potencial.

 

 

 

 

 

 

 

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