O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, suspendeu nesta sexta-feira a sessão do impeachment após um intenso bate-boca entre senadores, incluindo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Lewandowski já havia desligado os microfones de senadores que discutiam --Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Lindbergh Farias (PT-RJ)-- e alertou que usaria seu poder de polícia para pedir “respeito mútuo”, chegando a suspender a sessão por alguns instantes.

Logo após essa primeira interrupção, Renan desceu ao plenário e pediu o microfone, inicialmente usou o tom conciliatório para pedir calma aos colegas, mas acabou se exaltando.

"A ideia, sr. presidente, se nós não encaminharmos diferentemente, é passar para o Brasil e para o mundo, já que o mundo todo está com os olhos debruçados sobre o nosso país, a ideia de que V. Exª, constitucionalmente, está sendo obrigado, a presidir um julgamento em um hospício!"

“Esse confronto político não acrescenta nada, absolutamente, nem para um lado, nem para o outro... Se continuarmos dessa forma, teremos que cancelar o depoimento da presidente da República que acontecerá na segunda-feira”, disse Renan. "Eu, Sr. Presidente, fico muito triste, porque esta sessão é, sobretudo, uma demonstração de que a burrice é infinita."

Parecia que Renan tinha encerrado quando resolveu retomar a palavra deixando de vez algum tom conciliador. Já com a voz alterada, endureceu ainda mais o discurso, tendo como alvo a senadora GleisiHoffamnn (PT-PR).

“Ontem, a senadora Gleisi chegou ao cúmulo, chegou ao cúmulo, de dizer aqui para todo o país que o Senado Federal não tinha moral para julgar a presidente da República. Como uma senadora.... pode fazer uma declaração dessa? Exatamente, sr. presidente, uma senadora que há 30 dias, o presidente do Senado Federal conseguiu, no Supremo Tribunal Federal, desfazer o seu indiciamento e do seu esposo?”, atacou.

O marido da senadora, o ex-ministro dos governos de Dilma e Lula Paulo Bernardo foi preso no fim de junho na operação Custo Brasil, um desdobramento da Lava Jato.

Diante da confusão generalizada que se instalou, com colegas entrando em campo para o coro do “deixa disso”, Lewandowski suspendeu a sessão, que foi retomada pouco depois das 13h.

A assessoria do STF informou que não comenta a declaração de Renan.

No início da tarde, a assessoria de Renan divulgou uma nota na qual esclarece que as referências feitas pelo senador foram alusivas a duas petições protocoladas pela Mesa Diretora do Senado junto ao STF.

"Trata-se de manifestação pública e institucional decorrente da operação de busca e apreensão realizada no imóvel funcional ocupado pelo senadoraGleisiHoffmann (PT-PR) e do indiciamento da senadora pela Polícia Federal", diz a nota.

"Como se constata, as intervenções do Senado Federal são impessoais, transparentes e ditadas pelo dever funcional no intuito de defender a Instituição e as prerrogativas do mandato parlamentar", afirma ainda o comunicado. "O presidente do Senado Federal reitera a isenção com a qual conduziu todo o processo e lamenta as recorrentes provocações em plenário."

As declarações desta manhã de Renan, que até então procurava construir uma postura de isenção, surpreenderam. Renan não votou nas deliberações anteriores do processo do impeachment.

Segundo um aliado, a fala de Renan é resultado de um “festival de provocações”.

“O que eles querem é tumultuar, emocionalizar um processo que tem que ser movido pela razão, por argumentos que vão levar à consolidação de votos”, afirmou o parlamentar.

Outra estratégia já adotada por senadores favoráveis ao impeachment é abrir mão de fazer perguntas às testemunhas de defesa.

O segundo dia de julgamento do impeachment de Dilma é dedicado à oitiva das testemunhas da defesa. A primeira delas seria o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutor em economia Luiz Gonzaga Belluzzo, muito próximo da presidente, que começou a falar apenas após a volta da sessão, mas na condição de informante e não mais de testemunha.

Os governistas têm pressa na conclusão do julgamento, já que Temer vai para a China na semana que vem para participar de cúpula do G20 e quer viajar já como presidente efetivo.

Por Maria Carolina Marcello -Reuters Brasil

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