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Estamos no século XXI, mas ainda há comportamentos do tempo da pedra lascada em todas as instâncias da sociedade. Há algumas nas quais as evidências são mais presentes, um exemplo é no que concerne às relações homem e mulher que, a despeito de estarmos no terceiro milênio, está recrudescendo e cada vez mais se vê estampada em noticiários a agressividade dos homens contra as mulheres.

Os atos de agressões às mulheres são cometidos por parceiros  que ainda convivem no mesmo teto, ou com ex-namoradas ou ex-esposas, agressões na esfera psicológica, às vezes, se encaminham para danos físicos e muitas evoluem para o assassinato da mulher. Os números desta barbárie no Brasil são alarmantes, para se contrapor a isso, criou-se a lei Maria da Penha, em seus artigos, apresenta mais rigor para punir os agressores.

Não vou aqui me ater a estes tristes números, enveredarei por uma vertente bem interessante e bem humorada com a qual me deparei esta semana. Conheci uma jovem bem sucedida na profissão abraçada por ela, pessoa de bem com a vida, alegre, sorridente e muito bonita, um pouco mais de 40 anos.

Embora bem sucedida na profissão, na conversa estabelecida entre nós, que não foi curta, ela manifestou uma decisão firme de se tornar Juíza,  e estava muito focada nesta decisão.

Quando um adulto bem encaminhado em uma profissão liberal, ainda na ativa, revela ter interesse por uma outra profissão que exige muito estudo, as motivações são poucas, talvez a única encontrada seja para enriquecer aquilo que faz, a fim de torná-lo melhor e agregar mais valor a seu nome.

Eu não quis indagar a motivação da minha interlocutora sobre o que a levou a desejar fazer parte da magistratura brasileira, pois é indelicado bisbilhotar a vida dos outros, ainda mais, em um primeiro contato. Fiquei curioso, ainda bem, que ela se antecipou e disse os motivos desta vontade.

Ela deixou claro que uma das situações que mais se sente ultrajada é ser importunada quando está sozinha em algum ambiente. Às vezes, vai a algum restaurante e ao sentar-se à mesa para almoçar ou jantar, logo chega um “homem” para importuná-la. Relatou também que não foram poucas as vezes de ter sido incomodada por estar no teatro sozinha vendo uma peça ou em um cinema vendo um filme. Ela falou que tem amigas Juízas, mulheres novas e bonitas e quando estão em algum lugar sozinha e é importunada, ela pede educadamente para o sujeito se retirar, caso o galanteador insista, até com grosserias, aí entra a lei. A mulher Juíza, assume a postura de autoridade e dando voz de prisão prende o malfeitor, o descumpridor da lei.

Esta é uma ação que toda mulher pensaria fazer em situação similar, pois é muito desagradável ser importunada, este ato revela preconceito, machismo, falta de urbanidade, torna a mulher um objeto de consumo e tudo isso, hoje, a lei já apena até com prisão aos infratores, no caso, estes sedutores de meia tigela.

A minha interlocutora após expor isso,  fez um raciocínio dedutivo com muita convicção: quero ser juíza e só advogado pode ser juiz, portanto vou fazer o curso de Direito.

*Publicado na edição impressa nº 599, do jornal Valença Agora.

 

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