Sistemas Agroflorestais no contexto da sustentabilidade do município-arquipélago de Cairu Jornal Valença Agora 4 de novembro de 2020 Baixo Sul, Notícias 1 Comentar Neste dia 2 de novembro celebrou-se, exatamente, dois anos da idealização da UFES e UESC de implantação do Laboratório Vivo Tinharé¹ no Município de Cairu à liderança do Planejamento Estratégico (Plano Cairu 2030) e à diretoria executiva do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia (IDES). Em matéria publicada neste Jornal, edição 787 (maio-junho 2020), destacou-se a ocorrência, em apenas 06 meses, de dois desastres (derramamento de petróleo no oceano atingindo praias e manguezais do município e a pandemia do Covid-19), que não só afetaram o processo de implantação do Laboratório Vivo, mas, principalmente, o funcionamento do município, colocando mais ainda em evidência a vulnerabilidade que ele se encontra no que se refere à sustentabilidade do desenvolvimento. Reservas de petróleo e gás na costa oceânica adjacente ao município em vistas de esgotamento em poucos anos e a alta sensibilidade dos setores do turismo e da cultura a diversos tipos de perturbações (ambientais, de saúde pública, financeiras, entre outras), cada vez mais frequentes, sinalizam a urgência de se apresentar e implantar, mesmo que de forma experimental, soluções que proporcionem um estado de maior estabilidade e resiliência. Esses setores econômicos são os principais provedores de receitas municipais e geradores de emprego e renda. Momentos e situações de crise costumam fazer aflorar ações de solidariedade e dão espaço a grandes oportunidades e, no caso dos referidos recentes desastres, isso se confirma em Cairu. Como forma de exemplificação, será abordado nessa matéria um tema que a pandemia do coronavírus mostrou fragilidade municipal, que é sua atual e elevada dependência de suprimento externo de alimentos para a população residente, especialmente a mais vulnerável, e para o setor empresarial, e, nesse contexto, uma iniciativa que surge do segmento sociedade civil visando contribuir com soluções práticas, acolhida pelo Laboratório Vivo Tinharé e parceiros, pela via do emprego de sistemas agroflorestais. Com a pandemia, a segurança alimentar ganhou destaque nos diálogos da comunidade do Morro de São Paulo, tendo em vista a subordinação do arquipélago ao continente verificada diante da paralisação dos transportes intermunicipais, o que comprometeu o abastecimento de insumos alimentícios, dificultando, ou mesmo impossibilitando, aos moradores a compra de alimentos nos municípios vizinhos. É nesse contexto que chega ao Laboratório Vivo a proposta do projeto Mão na Terra, elaborada pelo engenheiro florestal e professor Victor Emenekwum, a advogada Letícia Oliveira e o designer e permacultor Bruno Di Masi, proposta que surge a partir de diálogos introduzidos pelo próprio Laboratório, em novembro de 2019, durante a realização de sua primeira expedição técnica no Morro de São Paulo, e se desenvolveu a partir da movimentação em busca da resolução das demandas causadas pelos eventos catastróficos e, também, da intenção de se alavancar práticas mais sustentáveis na ilha. Saiba mais: Projeto Laboratório Vivo Tinharé realiza 1ª Expedição Técnica em Cairu O Mão na Terra é um movimento agroecológico socioambiental que propõe a implantação de Sistemas Agroflorestais no arquipélago de Tinharé, possuindo como principais objetivos o resgate da capacidade de produção de alimentos na região e a recuperação de áreas degradadas a partir da metodologia aplicada de introdução a sistemas alimentares sustentáveis. O projeto vem desenvolvendo uma rede de difusão e produção de conhecimentos sobre o manejo do solo, contribuindo com a segurança alimentar ao buscar a diminuição da dependência de produtos alimentícios externos, intentando uma melhoria na economia local ao propor a adição de novas atividades econômicas ligadas aos alimentos, inclusive integrando-se às cadeias produtivas da cultura e do turismo, e, também, promovendo a restauração da paisagem com espécies nativas dos ecossistemas locais do arquipélago. As áreas de atuação do Mão na Terra se encontram nas comunidades do Zimbo - onde vem sendo implantada uma horta comunitária, da qual todo alimento é doado para a população -, da Mangaba e da Lagoa, que estão sendo objetos de inserção de sistemas agroflorestais experimentais, dos quais, além da doação dos alimentos, será possível uma análise aprofundada das formas de manejo de solo local e a reprodução de sementes mantidas e selecionadas por várias décadas por agricultores tradicionais, para o banco de sementes coletivo. Mutirão para implantação de Sistema Agroflorestal no Universo Pol(Lagoa; Morro de São Paulo/Cairu-BA; novembro de 2020) A partir dessas ações, uma rede de agentes que buscam a adoção de práticas sustentáveis vem se consolidando e atuando em parceria com a comunidade, para a efetivação do quanto proposto pelo projeto, são eles: a ONG Educamor, que atua com ações e voluntariado tendo estruturado, inclusive, a Crearte, uma escola que foi alicerçada nos fundamentos da pedagogia Waldorf, a EcoMorro, uma agência de ecoturismo com compromisso com o meio ambiente e o desenvolvimento social, o Universo Pol, um espaço construído através da bioconstrução com Bambu, que põe em prática os preceitos da sustentabilidade e o GAMA - Grupo de Ação do Meio Ambiente que atua com voluntários para sensibilizar os moradores do arquipélago através de ações voltadas para cuidar das questões socioambientais sob o lema "Quem Ama Cuida!". Essa proposta vem sendo apadrinhada pelo Laboratório Vivo Tinharé e que caminha contribuindo ativamente na sua elaboração e concretização, através do compartilhamento de conhecimento técnico-prático e de articulações pela busca de parcerias com pessoas e instituições, desde junho de 2020, visualizando, inclusive, a possibilidade de as técnicas aplicadas no âmbito do projeto serem exploradas futuramente sob os aspectos do turismo de experiência e de conhecimento, abordando a temática agroecológica-permacultural na ilha. Conta ainda, mesmo em fase inicial, com o apoio da Prefeitura de Cairu, através das Secretarias Municipais de Turismo e de Cultura. Visita da Secretária de Cultura do Município de Cairu-BA, da Diretora Executiva do IDES e do representante da UFES à base do projeto Mão na Terra(Mangaba; Morro de São Paulo/Cairu-BA; setembro de 2020) A noção de desenvolvimento sustentável está amparada em ações que consigam atrelar o desenvolvimento socioeconômico com a sustentabilidade do meio ambiente, garantindo a manutenção da geração atual sem comprometer as futuras gerações; desse modo, estimula-se a aplicação de medidas que visem o uso consciente dos recursos naturais com a finalidade de preservação e manutenção da biodiversidade. Assim, estima-se que a prática da agrofloresta no arquipélago de Tinharé, nos termos em que propõe o Mão na Terra em conjunto com o Laboratório Vivo representa uma parcela efetiva de contribuição para o desenvolvimento sustentável da região, ao passo que introduz a produção de alimentos na ilha, possibilitando o surgimento de novas modalidades de geração de renda local, a partir de metodologias que garantem a saúde ambiental do ecossistema em que está sendo inserida. Expedição do Mão na Terra ao Instituto Floresta Viva em busca de conhecimentos práticos-teóricos acerca da produção de mudas em larga escala(Ilhéus/BA, setembro de 2020) Nesse cenário, o envolvimento de outros atores estratégicos no projeto, do poder público, do setor comercial e empresarial, do terceiro setor, da academia e das comunidades das ilhas de Cairu, Boipeba e Tinharé, se faz necessário. Sejam bem-vindos! ¹O Laboratório se apresenta como um projeto de iniciativa e fomento a um espaço referencial para debates, estudo, pesquisa e ação sobre a sustentabilidade de arquipélagos turísticos no mundo, tomando o município-arquipélago de Cairu como objeto de experimentação. Tem as universidades UFES e UESC e IF Baiano/Valença como instituições âncoras acadêmicas. Sua atuação se dá com o emprego de abordagens participativas, integradoras e adaptativas, com o envolvimento direto da municipalidade (Prefeitura Municipal de Cairu e Câmara de Vereadores), do setor empresarial-comercial, da sociedade civil, do terceiro setor, da academia e dos poderes públicos estadual e federal. Foto em destaque: Horta Comunitária do Mão na Terra no Zimbo (Zimbo; Morro de São Paulo/Cairu-BA; setembro de 2020) Uma resposta Aurelino 5 de novembro de 2020 A grande pergunta é: Como um projeto socioeconomico de tamanha magnitude poderá ter sucesso se no entorno de sua área de atuação prevalecer a favelização por meio de invasão de terras? Fato de verdade real, mas todo construído em cima de falsos testemunhos Responder Deixe uma resposta Cancelar resposta Seu endereço de email não será publicado.ComentarNome* Email* Website
Aurelino 5 de novembro de 2020 A grande pergunta é: Como um projeto socioeconomico de tamanha magnitude poderá ter sucesso se no entorno de sua área de atuação prevalecer a favelização por meio de invasão de terras? Fato de verdade real, mas todo construído em cima de falsos testemunhos Responder